Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Rivalidade, insânia, violência e covardia

10/07/2005


No meu tempo de guri, ia aos grandes jogos e nem divisão de torcidas havia. A rivalidade era a mesma, a raiva que eu sentia dos coxas era igual, com a diferença de que essa ojeriza mútua nos fazia naturalmente ocupar espaços diferentes nos estádios. Um não se metia com o outro. A raiva e a repulsa eram limitadas pela racionalidade daqueles que já pareciam ter se acostumado com um ambiente civilizado, conscientes de que neste ponto da cascata da evolução, já haviam deixado os galhos das árvores e já não mais uivavam, batendo no peito.

Os tempos mudaram e mudaram para pior. Agora, com a cumplicidade dos orgãos de comunicação, os torcedores rivais se odeiam de morte e portanto, tem que ser contidos e isolados como animais.

Perde todo mundo, pois se num estádio eles ficam privados de poder ir ao jogo, no outro somos nós que ficamos de fora.

Se fosse um fenômeno regional, poderíamos tentar modificar o panorama aquí pelas bandas das Araucárias, mas parece que a estupidez é generalizada.

No Morumbi, os atleticanos terão direito a menos de 5% do total da capacidade do estádio na final do maior torneio do continente americano, porém para se engalfinharem pelas migalhas oferecidas, antes terão que adivinhar onde comprar os tais dois mil ingressos. Trata-se de mais uma agressão contra o bom senso que é, senão aplaudida, negligenciada pela chamada "grande" imprensa nacional.

Já cansei de sonhar por um pouco mais de inteligência e menos imbecilidade. Já desisti de chamar a atenção para tentar prevenir tragédias humanas e materiais, pedindo por limites quando se trata de torcer pelo seu time.

Agora, definitivamente, passei a ser mais realista. A continuar nesse ritmo, muito em breve não sobrará alternativa senão institucionalizar de vez a insânia dos dirigentes e a falta de sentido crítico dos profissionais da mídia, permitindo nos estádios brasileiros somente a entrada dos torcedores do clube mandante do jogo.

Quem sabe assim seremos poupados destas palhaçadas e bate-bocas nas vésperas dos grandes jogos. Quem sabe assim não haverá mais quebra-quebra, brigas e apedrejamento a veículos e a torcedores, durante e depois das partidas.

Se este for o preço, quem tem pelo menos dois neurônios funcionais, contrariado (mas conformado), agradece.

Fato do dia: Preocupado com uma amiga está morando nos arredores de Londres, mandei-lhe um e-mail, perguntando como ela e a família estavam após a onda de atentados terroristas. A resposta bem-humorada me tranquilizou: "Sergio, quem morou no Rio não se preocupa com estas bobagens."

É isso. O brasileiro está se acostumando com a violência e pior, com a covardia também.


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