Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Salve, simpatia

01/07/2005


Como ex-repórter esportivo, já cobri vários jogos do Coritiba. Ficava nas cadeiras do Couto Pereira, um lugar muito bom de acompanhar as partidas e, ao mesmo tempo, ficar por dentro do que os coxas estão pensando do time. Aquela região é uma espécie de Boca Maldita do estádio.

Acompanhei com mais intensidade o Coritiba de Ivo Wortmann em 2001. O engraçado é que, como atleticano, só o fato de entrar no Couto Pereira deveria me causar um desprazer enorme. Não foi o que aconteceu. Cobrindo o time no dia-a-dia, treinos e jogos me fez até torcer por gente como Messias, um esforçado volante que aprendeu a ler já adulto no Coritiba. Não torcia pelo time, aliás, como não torcia por nenhum dos três quando estava trabalhando (já recebi e-mail me xingando por ser paranista, vejam se pode uma coisa dessas). Mas torcia pelos personagens sofridos que faziam parte do cotidiano do alviverde.

A verdade é que percebi aos poucos que tudo no Coritiba é simpático. Os cânticos simplórios da torcida, o estádio já ancião, o presidente falastrão, até aquele uniforme tosco da Penalty. Até a falta de um hino e o aborrecimento que se nota nos coxas é simpático. E descobri que para muitos atleticanos, o Coritiba não é objeto de ódio. Muitos nutrem a mesma simpatia velada pelo Alviverde.

O fato é que para mim o Coxa é como o Ameriquinha do Rio. Dono de um passado de glórias, mas que no presente transmutou-se em uma modesta agremiação, daquelas que não despertam nem ódio nem admiração.

Ganhar do Coxa no Brasileiro significa mais três pontos. E só. É igual vencer o Brasiliense. Rivalidade temos com o Corinthians, com o Santos, São Paulo, Fluminense, Vasco, Flamengo. Perder para estes times me causa grandes dores de cabeça.

Perder o estadual para o Coritiba é triste, claro. Mas não mais triste do que perder para o Londrina, Paraná ou Irati. É triste pela derrota em si, e não por ser para o Coritiba.

Talvez isso seja fruto de uma polarização entre Atlético e Paraná nos anos 90, quando difícil mesmo era vencer o Tricolor. Só sei que para mim é assim.

Quer dizer, não é só para mim. Quando entrevistei Mario Celso Petraglia para o caderno de esportes do JT, no final do ano passado, ele defendeu a tese de que uma cidade do tamanho de Curitiba não comporta três times grandes. E vai além. Em dez anos, apenas um time da capital terá condições de disputar o título brasileiro. O resto fará figuração.

Eu não esperaria tanto. Desde 1996 a coisa já é assim. Por isso não odeio o simpático Coritiba e seu aprazível estádio. Não fico indignado com o Gionédis negando a mixaria só para tentar reavivar uma rivalidade que só é importante para eles. E até prometo ir com meus amigos coxas ver o alviverde aqui em São Paulo, contra a Portuguesa (o Coxa Paulista), daqui uns anos, na segunda divisão. Mas a cerveja e o pão com bife é por conta deles.


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