Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

A Deus

10/03/2002


O assunto não poderia ser outro que não a saída de Mário Celso Petraglia da diretoria do Atlético, novidade que encheu de preocupação grande parte dos torcedores rubro-negros. Os rumores são de que o seu absolutismo chegou à total incompatibilidade com a descentralização de poder vigente hoje no Clube. Também comenta-se que seu eventual retorno estaria condicionado à concentração de todos os poderes em suas mãos.

Sinceramente, e sem adentrar o mérito do motivo de sua retirada, não coaduno com a série de manifestações por parte da torcida, que já lança até de abaixo-assinados reivindicando sua permanência no Atlético. Em primeiro lugar, temos poucas informações sobre a real situação dentro da diretoria atleticana. Bem por isso, não podemos apurar se há ou não razões justas para a sua dissidência. Logo, não creio que seja oportuna uma onda de pedidos para que o dirigente continue no Clube, já que isto poderia tumultuar ainda mais a ordem das coisas.

Ademais, o torcedor atleticano há de entender que, apesar das freqüentes brincadeiras, Mário Celso não é Deus, não estando, assim, protegido pela imortalidade. É dizer: uma hora ou outra, o Clube, inevitavelmente, teria que seguir seu destino com suas próprias pernas. E apesar de o momento parecer prematuro, não é difícil acreditar que o campeão brasileiro tenha forças para encontrar um futuro glorioso, independentemente da presença do ex-presidente.

Sei da reverência que todos atleticanos, bem como o colunista que vos escreve, nutrem por Mário Celso. E longe de mim querer lembrar Nietzsche, negando a existência, ou o poder, do Deus atleticano. Apenas acredito que a sua decisão deve nos inspirar apenas o agradecimento por todo o império construído, e não a insurgência para com a sua saída. É hora do campeão brasileiro, proprietário do Estádio e do Centro de Treinamentos mais modernos da América Latina, mostrar que pode caminhar sozinho, ou melhor, sob a administração de outras pessoas. E assim há de ser.

Outrossim, sua partida pode ter seus lados positivos. É cediço, entre os atleticanos, que o malfadado ingresso a quinze reais encontrava em Mário Celso o seu grande defensor. E se a saída do dirigente representar a volta dos preços populares, com a conseqüente volta do torcedor à Baixada, creio que estará assegurado ao menos um benefício ao Clube. O esvaziamento do estádio, em pleno ano seguinte à conquista do sonhado título brasileiro, já está assustando a todos. A volta da grande massa atleticana é urgente. Se é sustentável que, sem Mário Celso, seria muito mais difícil conquistar tudo que conseguimos, é certo, absoluto, e incontestável que, sem a torcida atleticana, seria impossível.

Como anotou Valmor Zimmerman, com muita propriedade, a despedida de Mário Celso representa o fim de uma Era. Se assim for, havemos de lutar para que apenas a Era termine. Que permaneçam íntegros e eternos todo o crescimento e a evolução que este período propiciou ao Clube.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.