Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

O jeito atleticano de jogar futebol

25/06/2005


O repórter Mario Magalhães, da Folha de S. Paulo, escreveu há algum tempo uma coluna exaltando a vitória atleticana sobre o Santos. Aquele 3 a 2 no Joaquim Américo lembrou, aos olhos do colunista, o Grêmio copeiro e a existência de um suposto estilo "sulista" de jogar futebol, resumida na máxima galhofeira do escritor Eduardo Bueno: "futebol-arte é coisa de viado". Não podiam estar mais errados.

Para começar, não existe essa de escola sulista de futebol. Deixem o Grêmio lá com o futebol deles e a gente aqui com o nosso. Mas dá para falar sim em uma escola atleticana de futebol, no sentido de um "modo de jogar" que independe dos jogadores, algo inerente à tradição rubro-negra. Sem querer dar uma de sabichão ou mostrar que conheço mais do que realmente sei, tenho aqui para mim que o futebol do Atlético nas últimas décadas ecoa o Furacão de 49. Naquele momento, o time de Jackson e Cireno definiu, mesmo que por acaso, o que viria a ser o Atlético dos anos seguintes. Um time raçudo e habilidoso, marcador e artilheiro.

Olhem para os principais times da recente história atleticana. Os times de 83, 96, 99, 2001, 2004 e 2005 têm várias características em comum que não podem ser simples coincidências. São evidências desse jeito atleticano de jogar futebol. Todos esses times contavam com bons goleiros (Roberto Costa, Ricardo Pinto, Flávio, Diego), um meio-campo raçudo (uma longa linhagem que culmina em Cocito e Alan Bahia) com algum craque e uma dupla de atacantes matadores (Washington e Assis; Paulo Rink e Oséas; Lucas e Kléber; Washington e Denis Marques; Aloísio e Lima). Em 49, o goleiro era o mítico Caju, a linha de ataque tinha a primeira dupla famosa de artilheiros rubro-negros: Jackson e Cireno. A força do Atlético nessas posições não é acaso. São formações que resultam invarialmente em times campeões, que jogam bonito sem descuidar da marcação e fazem muitos gols.

Essa configuração que volta e meia se repete nos grandes times formados pelo Atlético é acompanhada por uma disposição que não se vê em outros times brasileiros. Não existe cadência para o Atlético. Do primeiro ao último minuto de jogo é uma correria épica, a bola queima no pé dos adversários. O Chivas sentiu isso na pele. Os mexicanos mal dominavam a bola e já estavam cercados por três ou quatro atleticanos. Jogar contra o Atlético é um pesadelo, pois ele é o tipo de time, principalmente na Baixada, que se lança ao ataque durante toda a partida e mesmo assim não esmorece na defesa. Quem, em sã consciência, não teme ver um Cocito pela frente, um Marcão vindo em sua direção para tomar a bola, um contra-ataque puxado por um velocíssimo Dagoberto, um tanque como o Aloísio dominando a bola dentro da área?

Eu escrevi há algum tempo que os times do Atlético não correspondiam à grandiosidade do que era o Atlético. Contentavam-se com estaduais, em fazer uma campanha razoável no Brasileiro. Esse time que está a um passo da final da Libertadores é a prova definitiva da mudança de mentalidade daqueles que vestem a camisa rubro-negra. Nada menos que o título é seu objetivo. Esse é o jeito Atlético de jogar futebol, a busca insana pela vitória, colocar os adversários em um inferno de 90 minutos. Não sei dizer se futebol-arte é coisa de viado. Só sei que o futebol de resultados do Atlético é a coisa mais linda que eu já vi.


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