Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Atlético de corpo e alma

02/06/2005


A dor. A bola. Olhar de Marcão mostrava um segundo de dúvida. Com a perna rija, paralisada pelas cãibras, teve de se decidir: entregar-se ao sofrimento ou tirar a bola? O que vem primeiro? Eu ou o Atlético? Saltitando, sacrifica os músculos retesados e desfere um chute na esfera, com uma força que veio do âmago do seu espírito guerreiro. Só depois, com o perigo longe dos nossos domínios, tombou no solo. Marcão priorizou o Atlético em detrimento de si próprio. Colocou sua própria dor em segundo plano para elevar ainda mais as tradições Rubro-negras.

O Atlético venceu a dor. Toda a sorte de dores. A dor de ter sido desrespeitado. A dor do menosprezo. Os jogadores superaram a dor de terem sido considerados inferiores. A do desdém. A de ter uma baixa logo na metade do primeiro tempo, com a explusão de um companheiro, o valoroso Alan Bahia. O Atlético superou a mais primal forma de dor, a física, advinda da fatiga da faina. Pois colocou em campo a maior expressão humana. A alma. Uma união da mística do vermelho e preto, do corpo e da alma. Assim o Atlético tornou-se um gigante e fez cair aqueles que já chegaram para o embate com os louros da vitória em mãos. O Rubro-negro tomou aquilo que sabia que lhe pertencia, e o badalado e festejado Santos teve que, a partir daí, buscar motivos para conformar-se.

Os praianos buscam a conformação nas falhas de seu arqueiro. Na diferença apertada de gols. Mas, no íntimo, sabem que era impossível vencer aquele Atlético. Olharam no olho do Furacão e sentiram um gélido espectro lhes percorrendo a espinha. Estavam cara a cara com o verdadeiro espírito atleticano. Toda a tradição do Atlético de Caju, encarando-os, fitando-os com uma mensagem clara: esta vitória será nossa, custe o que custar. Se o preço for nossos corpos, nossa alma jogará por nós. E assim foi a epopéia de uma das mais memoráveis jornadas de toda a história atleticana. Uma noite que ficará guradada no coração de todo o torcedor Rubro-negro até depois de sua morte. Pois nós não a tememos.

Dizem que nossos jogadores têm pouca técnica. Que o time é fraco. Dizem. Em forma de insultos até. Tudo bem, é opinião. Mas depois do que fizeram, da linda entrega e doação para superar um poderoso adversário e ainda em inferioridade numérica, esses atletas merecem todo o nosso respeito. Pode-se, e têm-se o direito, de pensar o que quiser a respeito da qualidade do time. Mas a partir de agora, nunca, jamais, poderá faltar o respeito na elaboração de qualquer opinião, qualquer julgamento desses nobres homens que vestiram nossa camisa. A defesa do pavilhão rubro-negro foi feita com a honra que dele emerge. Quem o respeita, merece a reciprocidade.

Ainda não acabou, essa história ainda está em aberto. Temos muito o que fazer ainda, o jogo de retorno será difícil, pois é no covil do adversário, que tem grande qualidade. Mas sei que nem é preciso pedir disposição a esses guerreiros. Nem é preciso alertá-los que a batalha ainda não acabou. Está em suas mentes. Está na mente do nosso experiente comandante, Antonio Lopes, que mostrou o seu valor, sua tarimba e todo o seu conhecimento na noite de ontem. Está na alma de todos a consciência que o Furacão merece muito mais. Por isso, quero agradecer a todos eles por me fazerem sentir um gigantesco orgulho de ser atleticano. Obrigado, moçada. Fazendo um trabalho como o que fizeram, sempre nos terão ao seu lado. Sempre terão nossa vibrante massa incentivando e colorindo tudo ao redor. Vamos em frente, que vem mais por aí. Há muito trabalho a fazer. Renovam-se agora as energias para ir-se em busca do próximo desafio. Com o corpo e a alma unidos, dentro e fora de campo.


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