Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

E eu, que não matei Joana D´Arc?

30/05/2005


Acabo de receber a informação de que por força de uma punição imposta pelo STJD, teremos que jogar as duas próximas partidas com mando (Figueirense e Fortaleza) fora do nosso estádio e ainda por cima sem torcida.

Sabendo que o motivo da punição foi o lançamento de uma bomba ou coisa equivalente, por um torcedor, para dentro do gramado, a primeira coisa que me vem na cabeça é uma sensação de alívio, pois se a torcida vai no jogo para atrapalhar, melhor mesmo jogar sem ela. Aliás, já não sei se com o atual estado psicológico do nosso time, jogar sem torcida é punição ou é oportunidade.

Deixando o futebol um pouco de lado, prefiro falar neste tipo de penalidade e já refeito da indignação com o idiota que lançou o tal rojão, gostaria de convidar os leitores à uma reflexão sobre este tipo de infração e de cumprimento da pena.

Do ponto de vista da penalização, acho que houve um avanço em relação ao que era aplicado no ano passado, quando o clube condenado tinha que se deslocar para jogar em um estádio distante pelo menos 150 quilômetros da sua base. Isso representava um gasto injusto aos clubes e este castigo financeiro adicional não tinha absolutamente nada a ver com a função corretiva que toda a pena deve ter por fundamento. Uma coisa é punir para corrigir, outra é punir para se vingar, pura e simplesmente castigar. O modelo antigo cheirava mais a exagero do que a moralização.

Da punição, passo à discussão do ato que gera tais condenações, ou seja o comportamento dos torcedores e as medidas que são adotadas pelo clube mandante no sentido de coibir e punir àqueles que se comportam inadequadamente. Aí eu não consigo concordar com o pragmatismo de quem julga. O Atlético tem sido um dos clubes mais punidos por causa de torcedores que arremessam objetos no campo.

Será que a nossa torcida é mais idiota que as outras? Mais nervosa? Mais neurótica? Menos educada? A resposta é NÃO! O principal motivo destes problemas é a arquitetura do nosso estádio, que privilegia uma proximidade muito grande entre o espectador e o espetáculo. Não é o caso de uma bomba, mas vocês imaginam alguém jogar um copo de papel para dentro das quatro linhas no Morumbi? No Maracanã? No Couto Pereira? Convenhamos que é muito mais difícil, pois a arquibancada fica muito longe do gramado. Na Arena não. Na Arena o cara se empolga um pouquinho e o copinho já está dentro do campo.

Por outro lado, existe no estádio todo um aparelhamento tecnológico e humano direcionado a conter e identificar o autor da bobagem e mesmo assim esta parafernália tem se mostrado incapaz de evitar tais acontecimentos, colocando em cheque o conceito do que é responsabilidade do clube e o que é impossível de ser evitado.

Sinceramente, acho que para estarmos tranquilos em relação à penalidades por causa de torcedores que arremessam objetos ao campo, a única maneira é colocar uma redoma sobre o campo de jogo, mas como isso é inviável (será?), ficamos todos à mercê da condição utopica de que todo mundo que vai à Kyocera Arena é inteligente e equilibrado suficientemente para saber que não pode, sob nenhum impulso, jogar nada para dentro do gramado. No dia (de São Nunca) em que chegarmos a este nível de padronização de comportamento humano, ainda estaremos sujeitos à ação de torcedores inimigos que se aproveitariam das oportunidades que o estádio oferece, para prejudicar o nosso time.

Na minha opinião os clubes teriam o direito de discutir com o STJD o limite da responsabilidade que o promotor do espetáculo tem sobre as atitudes de quem frequenta os estádios, desde que evidentemente, sejam adotadas as medidas preventivas e corretivas possíveis.

Depois de tudo isso, quero reiterar que injustiça não se aplica à recente decisão de punir o Atlético, motivada pelo lançamento do tal rojão. Isto foi obra de um torcedor oligofrênico, que vai ao estádio para fazer coisas que a sua covardia e instinto criminoso, pseudo-justificados pela indignação por mais uma derrota, só permitem que sejam feitas quando os alvos da sua agressão nao estão em condições de reagir.

Gostemos ou não, covardia tem que ser punida. E burrice também.

O duro é pagar pelo erro dos outros. Mas a gente já está se acostumando com isso.


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