Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Para refletir, enquanto há tempo

17/05/2005


Errei. No ano passado, escrevi um texto com o título “Alguém tem que ceder”, para tratar sobre o conflito entre diretoria e torcida. Pedi para que as partes transigissem visando um acordo, tendo o bem do Atlético como objetivo final. Errei pelo seguinte motivo: ninguém vai ceder. Para mim, isso está cada vez mais claro. Os erros continuam de ambos os lados, e a única certeza quanto ao futuro é que nenhuma das partes vai simplesmente ceder.

Diretoria

Ninguém mais tem dúvidas sobre o erro da diretoria ao querer transformar o torcedor em “apreciador”. O time está sentindo a falta do apoio da torcida, apoio que só vem do torcedor em massa, e não dos apreciadores. Apoio que depende muito da bateria, responsável pela unificação e organização das vozes no estádio. Enquanto isso, a Baixada perdeu a vibração e a verdade é que torcedores não-organizados estão perdendo, me desculpem a palavra, o tesão de ir no jogo. Juro que tenho dúvidas se renovarei meu pacote para o ano que vem, assim como conheço vários torcedores que já me garantiram que não renovarão. Ou seja, essa asfixia da torcida, além de privar o time do “fator Baixada”, pode trazer prejuízos financeiros ao Clube.

Torcida

Quando falo da torcida, não me refiro à instituição “Os Fanáticos”. A atitude da diretoria em impedir a entrada da bateria desmantelou o poder de comando da Fanáticos no estádio. Ademais, a maioria dos diretores da torcida sequer tem ido ao jogo. Então, não acho certo atribuir os erros à Fanáticos. Mas o fato é que os torcedores que ocupam, em especial, o setor da Buenos Aires inferior estão tendo um comportamento incompreensível. Torcer contra o próprio time é o desvirtuamento de qualquer luta por ideal. Se o que pretendem é lutar pelo “direito de torcer” para ajudar o Atlético, não há sentido fazê-lo torcendo para que o time perca.

“Fora Petraglia”

Gritos durante o jogo, adesivos, panfletos, campanhas... tudo isso é tiro n’água, que só tem a prejudicar o time dentro de campo. Todos sabem que essas atitudes não farão que Mário Celso renuncie por conta própria. Se estas pessoas desejam ver o dirigente fora do Clube, o caminho a ser seguido é o mesmo que o próprio Petraglia fez em 1995: revolução política dentro do Clube. A Coluna de Augusto Mafuz hoje na Tribuna do Paraná é perfeita ao o caminho que estes torcedores podem seguir.

Ninguém vai ceder

Mesmo diante de todos estes erros, não sentimos nenhuma parte disposta a ceder. Mário Celso não vai liberar a bateria convencido por gritos no estádio, e muito menos vai renunciar à presidência do Conselho. E os torcedores da massa não vão se conformar em dar adeus à Baixada, deixando seus lugares para os apreciadores. Conclusão: enquanto as partes insistirem neste caminho, além de não conseguirem seus objetivos, estarão prejudicando seriamente o Atlético e deixando torcedores como eu e você, leitor, com cara de palhaço.

Súplica

Diante disso, mesmo sabendo de minha insignificância, faço uma súplica. Não peço para ninguém ceder, como pedi da outra vez. Só quero fazer um pedido de reflexão:

Prezado Mário Celso Petraglia: O Senhor acha, realmente, que irá conseguir extinguir as organizadas, afastar estes torcedores do estádio? Veja bem, Presidente. Mesmo sem bateria, sem faixas, e com ingresso caro, eles estão indo ao jogo para xingar o Senhor. E vão continuar indo. Essa gente não vai desistir do Atlético nunca, Presidente. Essa é a realidade. É sobre isso que eu quero que o Senhor reflita. O Atlético está sendo prejudicado por uma restrição que não vai alcançar o objetivo pretendido.

Prezados torcedores: Vocês acham, sinceramente, que insultos ao Presidente farão com que ele renuncie? Há mais de um ano ele ouve xingamentos e não mudou nada. Será que torcer contra o próprio time é o caminho de mostrar a importância da torcida? Que caminho mais incoerente. Assim o Atlético perde, e, com ele, perdemos todos nós, atleticanos, que queremos vê-lo vitorioso. Antes, vocês tinham o apoio de quase todos os torcedores do Atlético pela liberação da bateria. Mas quando começaram as vaias durante o jogo, prejudicando o time, o apoio caiu quase a zero. Será que isso é bom para as pretensões de vocês em mostrar a importância da torcida? Reflitam nisso.

A todos: Peço que cada um que ler esta coluna faça um questionamento a si próprio. Nesta quinta-feira, o que pode valer mais do que a vitória do Atlético contra o Cerro Porteño, abrindo caminho para se chegar às inéditas quartas-de-final da Libertadores? Quem der qualquer resposta diferente de “nada”, precisa rever seus conceitos.

Mudança de atitude: O jogo é quinta-feira. Ainda dá tempo.


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