Silvio Rauth Filho

Silvio Rauth Filho, 50 anos, descobriu sua paixão pelo Atlético em um dia de 1983, quando assistiu, com mais 65 mil pessoas ao seu lado, ao massacre de um certo time que tinha um tal de Zico. Deste então, seu amor vem crescendo. Exerce a profissão de jornalista desde 1995 e, desde 1996, trabalha no Jornal do Estado. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2009.

 

 

A ira de Petraglia

15/05/2005


A coletiva convocada por Petraglia na última quinta-feira trouxe à tona uma série de preocupações. O ataque desvairado à imprensa e às torcidas organizadas mostrou que o dirigente está desequilibrado e mal informado.

Sua crítica à imprensa foi um erro lamentável. Ao generalizar e afirmar que todos os órgãos de imprensa são mentirosos e levianos, Petraglia escancarou seu despreparo para lidar com o assunto. Igualmente injusta é a acusação de que os jornalistas atacam o Atlético por dois motivos: porque têm interesses particulares nisso ou porque são frustrados. Frase lamentável.

O ataque de Petraglia desrespeitou a maioria da imprensa, aquela que tem demonstrado um comportamento ético e equilibrado. Entre esses meios de comunicação, está a Furacao.com, que em suas notícias sempre adotou os princípios éticos do jornalismo, informando com imparcialidade e responsabilidade. Nunca vi no site qualquer informação baseada em boatos, insinuações ou subjetividades. E, assim como a Furacao.com, há outros jornais, rádios, sites e TVs que fazem um trabalho honesto e, injustamente, foram ofendidos pela ira de Petraglia.

Claro que nem toda a imprensa paranaense é assim. Alguns comunicadores entregam-se às tentações do sensacionalismo, transformando pequenos problemas em grandes manchetes. Mas, ao mesmo tempo, tornam pequenas qualidades e conquistas em avanços suntuosos. Ou seja, a mão que afaga é a mesma que apedreja.

O melhor exemplo dessa montanha-russa do sensacionalismo é a Tribuna do Paraná. Se a cena melancólica da dispensa de Rodrigo Souto rendeu uma manchete catastrófica — “O Atlético de chinelo” — a conquista do inexpressivo campeonato paranaense transformou-se em algo apoteótico — “Atlético no Céu”. Nesses dois casos, fica claro que o jornal está apelando e usando figuras de linguagem, metáforas para descrever a situação. Ou seja, o Atlético não estava de chinelos e nem foi ao céu. A Tribuna apenas quis chocar, chamar a atenção.

Fico surpreso que um sujeito como o Petraglia não seja capaz de compreender isso. E aqui cabe outra crítica. Durante a coletiva, o dirigente disse que sempre ouve os profissionais do clube antes de tomar uma decisão. No que se refere ao relacionamento com a imprensa, ele não agiu dessa maneira. Petraglia não consultou o diretor de comunicação, o competente e respeitado Toni Casagrande, antes de partir para seu ataque infantil e injusto. Se tivesse conversado com o jornalista, teria encontrado a melhor solução para o problema. E qual a solução?

Simples. Processar aqueles comunicadores que mentem, divulgam boatos, publicam informações levianas e praticam esse jornalismo irresponsável. Não entendo como Petraglia não conheça a legislação. A lei de imprensa prevê indenizações para os ofendidos e até mesmo prisão para os culpados. Já a Constituição assegura à vítima do mau jornalismo o sagrado direito de resposta. Se Petraglia não quisesse radicalizar, então que buscasse um diálogo direto com os responsáveis por aquilo que ele chamou de “mentiras, leviandade e maldade”.

Mas, de todas as opções, ele tomou a pior: atacar pessoas inocentes e compará-las àquela minoria podre, que mente e usa o jornalismo para interesses próprios.

A ira de Petraglia, porém, não bombardeou apenas a imprensa. As torcidas organizadas também foram vítimas de um ataque desvairado, que só irá agravar ainda mais a crise interna no clube. Concordo que há problemas nas organizadas e que é preciso rever vários conceitos, mas é necessário reconhecer o papel histórico desses fanáticos, que sempre defenderam e lutaram pelo Atlético em todos os momentos.

Todo esse destempero mostra que Petraglia está fora de controle. Nesse momento, apenas torço para que ele se cerque de pessoas sábias, equilibradas e bem intencionadas. Que ele se deixe influenciar pelas palavras desses amigos e retome seu equilíbrio. Afinal, ele é um dirigente importantíssimo para o Atlético. Sua fúria e verborragia não apagam seus dez anos de brilhantes serviços prestados ao clube, sendo peça-chave para uma transformação institucional jamais vista na história do futebol brasileiro e, quem sabe, na do esporte mundial.

Não acredito que atitudes do tipo “Fora Petraglia” vão solucionar alguma coisa. Pelo contrário, só agravarão a crise. Mesmo com os erros cometidos, defendo que esse dirigente sempre participe da administração do Atlético, direta ou indiretamente. Mas, para continuar, precisa ouvir pessoas da sua confiança. Caso contrário, acabará vítima da sua própria fúria.

“Sua raiva não pode ser justificada por nada. A razão para sua raiva está sempre dentro de você”, Tolstoi.


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