Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Mais sorte que juízo

11/05/2005


Esta noite o Paraguai reafirmou a sua condição de nação irmã do Brasil. Devemos nossa classificação ao time considerado o mais fraco da chave, o Libertad, de Assunção, Paraguai. Uma classificação nos níveis do absurdo. Realmente a Kyocera Arena estava virada para a lua nesta terça-feira.

Não poderemos contar com a sorte sempre. Então, depois de passado o susto, que foi seguido de um alívio que nunca senti na minha vida, há de se pensar em o que fazer no futuro imediato. O primeiro dos passos é a demissão de Edino Nazareth, o popular Edinho. Sua atuação foi lamentável. Tirar o Baloy foi um suicído desnecessário. A retaguarda se transformou numa peneira e isso, aliado ao desespero de um time aflito com as vaias irracionais que ecoaram na Baixada, encaminhou um massacre colombiano em nosso gramado. Edinho tem culpa quase que total na goleada, digo quase que total porque não dá para isentar de culpa os jogadores que entraram em campo. Mas Edinho é quem deve pagar esse pato.

O Atlético, que se orgulha de uma administração de estilo empresarial, deve, neste momento, pensar como empresa. O Edinho quase foi responsável por um gigantesco prejuízo de dinheiro e imagem, que seria a eliminação na primeira fase da Libertadores. Ele deve ser cortado, assim como uma porção de atletas que infelizmente não têm condições de vestir o manto atleticano. E para seu lugar, ouso em afirmar que chegou a vez e a hora de Lio Evaristo. Ele é o verdadeiro técnico Campeão Paranaense de 2005 e, com seu trabalho , o Atlético teve excelente aproveitamento. Está certo que Edinho teve enormes problemas par escalar o time. Mas não é uma justificativa aceitável para uma série de quatro derrotas, uma delas, humilhante. Mas Lio merece ter chance. O Atlético procurava um técnico competente para ficar com ele por muito tempo. Talvez esse técnico esteja dentro de casa.

Outros nomes podem ter força, como Péricles Chamusca e o idolatrado Geninho, este uma boa opção para serenar um pouco os ânimos e dar confiança a todos. Também é da casa. E, se a diretoria pretende trazer lucro ao Atlético Paranaense, traga um grande jogador, um que seja, com o dinheiro vindo da classificação para a outra fase. Isso é sensato, é justo, é inteligente. O estancamento dessa hemorragia no orgulho atleticano deve acontecer. Acredito que isso até já estivesse nos planos da diretoria para as oitavas de final, quando poderá inscrever mais três nomes e cortar três.

Outro destaque negativo foi a atuação dos torcedores, vaiando muito, não só após do primeiro gol colombiano, como em todo o jogo, desde as primeiras movimentações. Muitos atleticanos parecem que perderam a essência de ser atleticano. E não podem culpar ninguém por isso, nenhum diretor, nenhum jogador, a não ser a si mesmos. Não importa o resultado, mesmo ganhando ou mesmo perdendo, o coração que bate pelo Rubro-negro não trai, nem vira as costas para seu time. E os gritos contra o dirigente que nos deu condições de acompanhar jogos de uma Libertadores - que foram extremamente intensificados após o primeiro gol do Independiente, quando ainda dava para buscar a virada - não são mais nada do que uma atitude política do maior setor organizado de torcedores, os Fanáticos. O Atlético foi deixado para trás por sua torcida, que privilegiou não a busca da virada, mesmo com vinte minutos para isso, mas utilizou o mau momento para praguejar contra Mário Celso Patraglia. Há divergências? Sim. Há insatisfações por parte dos organizados? Sim, e devem ser respeitadas. Mas a defesa de ideais não pode passar por cima do Atlético.

Importa, no final das contas, que a classificação é nossa. Em segundo lugar, mas nossa. É mais que necessário arrumar a casa imediatamente, de maneira firme e decidida por parte daqueles que têm o comando. Se não fizerem isso, será uma auto-imolação ou um araquiri. Tivemos muita, muita sorte esta noite. Bem mais sorte que juízo. Mas, como não poderemos contar sempre com uma largura dessa envergadura, alguma coisa deve ser feita, seja lá o que for. Continuamos na mais importante competição da América e somos o único time do Paraná, a avançar às oitavas de final de uma Libertadores, agora já por duas vezes. Os coitados esverdeados que estiveram na Kyocera Arena, o estádio mais espetacular do Brasil, um estádio sem remendos, saíram frustrados, apesar da derrota acachapante do Atlético. Os coxinhas estão tristes. Mas, se nós não estamos tão contentes assim, imagine como deve estar a torcida do América de Cali, o time considerado o mais forte da chave, agora eliminado. O Futebol é louco pra danar, mesmo.

Essa classificação, que teve na sua composição um gol do Lima no último minuto e agora essa vitória do Libertad, parece um sinal que os deuses do futebol querem o Atlético mais longe. Mas o Atlético precisa fazer melhor a sua parte, porque a ira desses deuses costuma ser implacável com quem brinca com a sorte que eles dão de presente.


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