Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Atlético: abre los ojos

10/05/2005


Naquele momento David Aames Jr (Tom Cruise) sabia que teria que tomar uma decisão. Mesmo recém-apaixonado pela bailarina Sofia Serrano (Penépole Cruz), o ambicioso playboy não resistiu aos encantos da bela Julie Giani (Cameron Diaz) entrou no carro da loira e selou seu destino para sempre. Em toda a trama do enigmático Vanilla Sky (*), as personagens vão delineando suas vidas e aprendendo que “cada minuto na vida é uma chance de mudar o próximo minuto na nossa vida” e que ela é feita de escolhas.

Escolhas como a que fez o Sr. Mario Celso Petraglia em abril de 1995. Naquele famoso domingo, 16, ele resolveu investir pra valer e fazer do Atlético um time tão grande como a paixão de seu torcedor. Coincidentemente num abril, mas dia 14 de 2002, o mesmo Petraglia começou outra revolução. Desta vez um pouco mais discreta, mas que mudou os rumos do Atlético, espero que não definitivamente.

A segunda revolução teve como mola propulsora a vergonhosa atuação do time contra o América mineiro. Numa partida em que a promessa Dagoberto jogou praticamente sozinho e classificou o Furacão para as semifinais da Sul Minas daquele ano, Mario Celso liderou mudanças que culminaram com a saída de importantes sustentáculos da administração atleticana, que nunca mais foi a mesma.

Ademir Adur, Nelson Fanaya, Enio Fornea, Marcus Coelho, Valmor Zimermann, entre outros, foram considerados cartas fora do baralho. Valeu, obrigado, mas agora eu toco o barco sozinho, deve ter pensado o Imperador.

O resultado está aí para quem quiser ver: escassez de títulos, perda da hegemonia estadual para nosso rival, elencos inchados e vinda de treinadores que nada acrescentaram ao rubro-negro. Exceção feita a Levir Culpi, que fez um grande trabalho, mas pipocou na hora H, os demais comandantes foram meros tapa buracos na vida atleticana. E o que parecia impossível aconteceu: um distanciamento enorme entre torcida e time.

Justamente o que sempre foi nosso diferencial, o que nos fez o que somos, o que sempre deu medo nos adversários não existe mais. O famoso fator campo hoje em dia joga contra. Preços elevados, excesso de proibições, separação do mesmo povo agora dividido por muralhas de acrílico. Enfim, o preço da modernização parece ter sido amargo demais para boa parte da torcida. O Atlético de hoje é distante daquele que aprendi a amar.

Como escreve poeticamente o colega André, o “meu Atlético”, esse acho que não existe mais. O time que me fez perder aulas e ter que fazer dependência (pagando) outro ano, o que me fez omitir viagens para minha mãe, o que me fez discutir longamente em bares e botecos, o que me fez brigar com amigos meus (coxas), o que me fez perder namorada (mais de uma), aquele que me fazia sentir prazer em ser atleticano, mesmo nos tempos difíceis e de derrota. Esse não existe mais!

Chega!

Na dura escola da vida, aprendi que devo me importar com quem se importa comigo. Não vou mais esquentar a cabeça. Não deixarei de encontrar amigos, ir a festas, jogar meu futebol ou treinar rugby por esse “negócio” que se tornou o Atlético.

O “meu” Atlético não é essa empresa que negocia estranho: vende bem e compra mal. Não dou volta olímpica nem faço carreata por causa da contabilidade (que, por sinal, é sempre negativa) e sim por títulos. Serei aquilo que os mestres do marketing atleticano chamam de torcedor eventual, do apreciador de espetáculo. Sentirei saudades de ser mais um fanático torcedor da arquibancada, mas estou sem opção.

Por ora, cabe-me o silêncio. Quem sou eu comparado a Tom Cruise ou a Mario Celso Petraglia? Sou mais um anônimo na multidão, mas que fez sua escolha.

* - Vanilla Sky, de Cameron Crowe, baseado no filme espanhol Abre los Ojos de Alejandro Amenábar, 2001, em VHS e DVD.


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