Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

A força do conjunto

07/05/2005


Entre estarrecidos e satisfeitos, estamos todos observando o resultado da tentativa corinthiana em formar um time imbatível, recheando o elenco de estrelas com brilho individual, senão intenso, pelo menos acima da média brasileira. Na verdade, não é a primeira vez que a teoria de juntar craques já formados em um time de futebol mostra na prática resultados muito aquém do esperado, questionando a importância da capacidade individual no desempenho das equipes em competições, principalmente as mais longas.

Antes do Corinthians, assistimos a uma incursão mal sucedida do Flamengo neste tipo de estratégia, quando reuniu em um mesmo time jogadores como Sócrates, Leandro, Zico e Júnior, o que na época representava um verdadeiro selecionado mundial. Mais recentemente estamos assistindo o descontentamento da torcida “merengue” com os “Galácticos” do Real Madrid que depois de algum tempo de deslumbramento, já mostram claros sinais de desgaste. Aqui no nível regional, tivemos uma “Seleboca”, quando o Colorado (precursor do Paraná Clube) montou um time de estrelas que acabou sendo desmantelado depois de uma seqüência incrível de jogos sem uma vitória sequer.

Entre as “constelações” que deram certo, para nós atleticanos fica a eterna lembrança do time de 1968, com Djalma Santos, Bellini, Nair, Dorval e Zé Roberto, que se não chegou ao título daquele ano pelo menos impressionou pelo bom desempenho. Outro bom exemplo é a Seleção Brasileira de 1970, assim como a de 2005.

No outro extremo, alguns times se apresentaram com jogadores desconhecidos, mas ao final acabaram por encantar a todos pelo conjunto quase perfeito. O Atlético, em anos passados montou times assim. Quem não lembra do Lucas chamando a câmera da Globo para “apresentar-se” em um close-up ao Brasil depois de fazer um gol que destruiria o Flamengo de Romário na Kyocera Arena?

Nesta altura, ansiosos que estamos para voltar a ter expectativas positivas para com o nosso Furacão, vem a pergunta: afinal, qual o segredo? Contratar craques com renome ou apostar nos talentos emergentes?

Na minha opinião, nenhuma das duas coisas faz a receita do sucesso. Os times vitoriosos são times com conjuntos fortes, na personalidade e no futebol.

Os exemplos estão aí: no Brasil de 70, Zagallo teve o mérito de reconhecer que o time absolutamente precisava de treinador, bastava alguém para distribuir as camisas, pois dentro de campo, a personalidade, inteligência e união de Pelé, Rivelino, Gerson, Piazza e principalmente Tostão faziam o resto. Em 2005, diz a lenda que o trabalho de Felipão foi dotar a seleção pentacampeã de um sentido de união jamais visto, pois no papel os argentinos e franceses levariam o caneco com alguma facilidade. Como vocês sabem, envolvidas em vaidades, estas duas seleções favoritas voltaram para os seus países antes da segunda fase da Copa.

Do nosso Atlético forte em conjunto e personalidade, guardo duas recordações muito boas: o time que ganhou a seletiva para a Libertadores e o time campeão brasileiro. Desse último, lembro exatamente que não foi uma jogada ou uma vitória convincente que me deram a certeza de que o caneco estava ganho, mas sim a declaração que um dos jogadores deu ao ser entrevistado no final de um dos jogos dos “play-offs”. O diálogo que marcou foi algo como:

- Não vou nem falar muito, porque estamos indo direto para a concentração.
- Concentração? O jogo mal terminou!?, indagou o repórter sem entender nada.
- É, disse o atleticano, o grupo decidiu e pediu ao técnico que entrássemos todos em regime de concentração até o título.

Na minha opinião, de uns tempos para cá estamos sentindo falta exatamente desse sentido de equipe e determinação, não só no time, mas em todo ambiente que envolve o Atlético e seguindo os exemplos vitoriosos, tudo indica que só a atuação de um lider trará de volta a paz e cumplicidade necessárias para fazer brotar em cada profissional do clube o comprometimento com a vitória, não a individual, mas a de todos.

Todos nós atleticanos, sejam torcedores, simpatizantes, jogadores, profissionais e dirigentes, devemos nos empenhar para que seja criado este ambiente de comunhão em torno de um objetivo maior e para isso teremos que repensar algumas de nossas convicções e condutas.

Enquanto não pudermos perceber esta sensação de união vitoriosa, gastaremos o nosso tempo e energias procurando culpados em todos os lados, via de regra cometendo injustiças por tirar conclusões precipitadas e mal fundamentadas, até que no final quando alguém se proclamar o vencedor, todos nós sentiremos que o grande derrotado foi o espírito de Atleticano que existia em cada um de nós.

Esta coluna é dedicada à minha mãe, recentemente falecida e através da sua lembrança estendo a minha homenagem a todas as mães atleticanas.


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