Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Atlético vs São Paulo

01/05/2005


Fui acusado de ser arrogante, muito arrogante. Tudo porque, brincando, menosprezei o São Paulo, falando que ser campeão paulista não era grande coisa, afinal perderam pro campeão carioca e o vice (o Corinthians) sofreu para passar pelo Cianorte, que nem nas semifinais do Paranaense chegou. Claro, tudo brincadeira. Mas um dos chefes do jornal onde trabalho (chefe dos outros, não meu. Aliás, chefe demais costuma atrapalhar), pelo jeito são-paulino, ficou possesso. Sem mais nem menos começou a dizer que "vocês, paranaenses, são muito arrogantes. Você, rapazinho, com esse seu Atlético, então, nem se fala." Veio mais blábláblá inútil, mas saí de perto e o deixei falando sozinho, afinal sou um maldito arrogante.

Samuel Johnson, escritor inglês que muitos comparam a Shakespeare, disse que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas. Pois então o bairrismo é o último refúgio do imbecil, daquele que não tem Q.I. suficiente nem para ser canalha. E o que não falta a São Paulo é a gente bairrista. Um bairrismo nojento. Para esse pessoal o mundo começa na Av. Paulista e termina no Parque Ibirapuera. Sabem o bairrismo gaúcho, de valorização das tradições locais? Aqui acontece o contrário, a desvalorização do que vem de fora. Um amigo meu, que torcia por Atlético e Corinthians, deixou o Timão rapidinho ao notar o desprezo paulistano pelo Furacão quando veio morar em São Paulo.

O problema - para os paulistas, óbvio - é que cada vez mais o Atlético tem incomodado. Ano passado só não vencemos o Palmeiras. O Corinthians foi surrado duas vezes, o Santos campeão não venceu o vice, a Ponte e o Guarani foram sacos de pancada, e o São Paulo ganhou na sorte no Morumbi depois de levar um baile e cumpriu o ritual anual da derrota na Baixada. Aliás, o tricolor é freguês antigo, desde a época da Seletiva, com Raí e tudo mais sucumbindo a Lucas, Kelly, Flávio e companhia. Quando perderam nas quartas-de-final de 2001 botaram a culpa no Cocito, que teria supostamente arrebentado o Kaká. Para os paulistas, é difícil reconhecer a grandeza dos adversários.

Eu não pretendo trocar os sinais e ser também um bairrista, só que paranaense. Reconheço a imensidão de um time como o São Paulo, bicampeão mundial e tri brasileiro. Mas tire esses títulos do São Paulo e sobra o quê? Tire os títulos do Barcelona e sobrará uma torcida apaixonada. Tire os títulos do Atlético e sobrará luta e esforço, como sempre foi. Com luta e esforço somos os melhores brasileiros na Libertadores. Com luta e esforço ganhamos o Paranaense. Essa é a grandeza do Atlético, que a cegueira bairrista dos paulistas os impede de ver. Azar deles. Arrogante que sou, lanço um olhar superior enquanto espero o próximo título do Rubro-Negro.


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