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Bruno Rolim
Bruno Rolim, 42 anos, é bacharel de Turismo e jornalista. Filho de coxas, é a ovelha rubro-negra da famÃlia. Descobriu-se atleticano na final do Paranaense 90, com o gol do Berg. Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2007.
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Crônica de uma viagem ao Paraguai
29/04/2005
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Quando o Atlético participou de sua primeira Copa Libertadores, há cinco anos, tive uma grande frustração: por motivos de matrÃcula no colégio, não pude ir para Montevidéu assistir ao histórico jogo contra o Nacional, no Estádio Centenário. Tinha 17 anos na época, ainda estudava no CEFET, eram bons tempos. Mas passaram. Nestes últimos cinco anos, muito se passou: fomos campeões estaduais, bicampeões estaduais, ganhamos o maior tÃtulo de nossa história em 2001, participamos de nossa segunda Copa Libertadores, fomos tricampeões estaduais. Até que, cinco anos após aquela partida no Centenário, o Atlético jogaria novamente pela Libertadores.
Não seria no Centenário, em Montevidéu, mas o destino reservou-nos a chance de conhecer outro dos grandes templos do futebol sul-americano: o Defensores del Chaco, em Assunção, no Paraguai. O adversário seria o Libertad, clube pouco tradicional no continente, mas que atualmente é a segunda força do futebol paraguaio, estando apenas atrás do Cerro Porteño - o decadente Olimpia, desde 2003, não apresenta desempenho digno de sua história. Enfim, ao que importa...
Numa conversa no Prajá, surge a idéia, de nosso colaborador Fábio: por que não ir para Assunção apoiar o Atlético de perto? Resolvemos, pensamos bem e aceitamos a proposta. Precisávamos de mais duas pessoas para completar quatro no carro, e evitar maiores gastos. Mas são poucos, se não nulos, aqueles que se disporiam a viajar por 14 horas e quase 1000 quilômetros para ver seu time, ainda mais no volante de um automóvel. Alguns amigos se dispuseram a ir, mas acabaram recuando. No final das contas, sobramos apenas nós dois. Bem, vamos à viagem. Reservas em um hotel já realizadas, tudo planejado - a loucura não seria tão grande, havia um planejamento. Na madrugada de terça para quarta, o Gol sairia de Curitiba, rumo ao Paraguai.
O inÃcio da viagem: após sairmos da cidade, nenhum problema - durante a madrugada, o tráfego é praticamente nulo, apenas alguns poucos caminhoneiros cruzando a BR-277. Este quadro se manteve até a cidade de Laranjeiras do Sul. Em Laranjeiras, o primeiro acontecimento insólito: estávamos a uma velocidade bastante alta na rodovia - cerca de 150 quilômetros por hora - quando um pássaro (provavelmente um pombo) atravessa a pista voando e acaba sendo colhido pelo pára-brisa do Gol. Por muita sorte (nossa, não do pombo), nada ocorreu com o vidro, apenas uma pena para contar a história, cravada no alto do pára-brisa. Parada em uma lanchonete, para o café da manhã.
A saÃda, meia hora depois, já comigo no volante. Até Santa Terezinha do Itaipu, poucos ocorridos - desde Curitiba, uma média de cerca de 100 quilômetros por hora na estrada, com picos de 180. Assim, chegamos a Foz do Iguaçu, para o almoço e câmbios - tÃnhamos os dólares, mas precisávamos de guaranis, para os pedágios no Paraguai, e compra do ingresso para a partida. O almoço foi rápido, pois esperávamos chegar a Assunção com uma certa folga para a partida. Agora, a jornada mais esperada da viagem - a incursão em terras paraguaias.
A Ponte da Amizade, com seus inúmeros moto-táxis, vendedores de toda sorte de produto que imaginar - desde chicletes até medidores de pressão arterial e adagas. Demora, um ritmo lento, incômodo com os vendedores, até que conseguimos chegar ao outro lado da ponte - estávamos em Ciudad del Este. Nossa primeira ação, obter os 'permisos' para adentrar o paÃs. Após o rápido processo, conseguimos os documentos e partimos rumo a Assunção. O primeiro cruzamento, em Ciudad del Este, nos deu uma pequena amostra do que seria o trânsito paraguaio: um cruzamento muito grande, como os do centro de Curitiba. Mas com um pequeno detalhe, ou melhor, sem um grande detalhe: não havia semáforos, tampouco guardas ou placas de prefencial. A lei da buzina imperava. Um cenário bizarro.
Saindo da caótica Ciudad del Este, um cenário que se repetiu por mais de 300 quilômetros: estradas de boa qualidade, pedagiadas, com muitos campos, muitas vacas, muitos animais. O Paraguai é um paÃs essencialmente agropecuário, com um grande número de pessoas vivendo em condições de extrema pobreza. Assim, cruzamos o Paraguai, passamos por dois ônibus de torcedores atleticanos, estávamos quase chegando a Assunção, felizes por não termos sido abordados em momento algum pela famigerada PolicÃa Caminera do Paraguai. Mas ainda faltavam 50 quilômetros...
Após uma ultrapassagem, um guarda mandou nosso carro encostar. Falando um espanhol muito rápido, o guarda veio nos falando que havÃamos ultrapassado sobre faixa amarela, que isto "era um delito, era um delito". Na terra onde carros andam com placas de isopor, com letras desenhadas, e autênticas latas-velhas sobre quatro rodas trafegam impunes, estávamos nós, parados, por um delito que não havÃamos cometido. O guarda nos multou em 270 mil guaranis (cerca de 130 reais), e reteve a carteira de motorista de Fábio, mandando-nos pagar a multa em um banco na cidade mais próxima e depois voltar buscar o documento. Procedimento deveras esquisito, diga-se...
Após conversarmos no carro, tentamos alegar ao guarda que não sabÃamos como achar um banco (e, de fato, as cidades paraguaias carecem de sinalização, conseguimos nos perder diversas vezes dentro dos núcleos urbanos), e que seria difÃcil. O guarda então falou que poderia "nos ajudar", fazendo com que "pagássemos a multa" ali mesmo. Bom, para evitar maiores incômodos, tivemos que aceitar o achaque, e perdemos 30 dólares nessa brincadeira. Documentos recuperados, seguimos viagem. Agora, faltava pouco para chegarmos a Assunção, apenas mais uma cidade, San Lorenzo. Conseguimos perder mais tempo, nos perdendo várias vezes nas ruelas estreitas do vilarejo. Após várias paradas para pedir informações, conseguimos escapar de San Lorenzo e chegamos a Assunção. Ainda assim precisamos de várias orientações para conseguirmos chegar a nosso hotel.
No hotel, após o check-in, tÃnhamos duas horas até a partida. Fábio ficou no hotel, eu aproveitei para passear pelas redondezas do hotel, para comprar algumas lembranças para amigos, e para mim mesmo. Resolvemos, depois, pedir um táxi para ir ao estádio - estávamos cansados de se perder, depois de sofrer em San Lorenzo. Chegando ao Defensores del Chaco, cerca de meia hora antes da partida, conseguimos os ingressos e entramos no estádio. Estávamos dentro do Defensores del Chaco, junto a muitos torcedores do Atlético que vieram de Foz do Iguaçu e de Curitiba para prestigiar o Atlético. O resto da história, vocês já sabem...
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