Michele Toardik

Michele Toardik de Oliveira, 44 anos, é advogada, mãe, sócia ininterrupta há mais de uma década e obsessivamente apaixonada pelo Furacão. Contrariou as imposições geográficas, tornando-se a mais atleticana de todas as "fluminenses". É figurinha carimbada nas rodas de resenha futebolística, tendo como marca registrada a veemência e o otimismo incondicional quando o assunto é o nosso Furacão.

 

 

O ano do futebol

29/04/2015


Poderia dedicar esse texto a todas as saudades que sinto do Atlético que aprendi a amar desde cedo.

Poderia ressaltar toda a falta que sinto da vibração da nossa Baixada, dos times que tanto nos orgulharam (seja pelo amor à camisa, pela identidade com a torcida, pelo belo desempenho ou simplesmente pela raça que demonstraram), do futebol (puro e simples), dos ídolos que já tivemos, do orgulho e ostentação das nossas cores, da sinergia entre torcida e time, do marketing natural e de tantas outras coisas que ajudaram a construir esse amor incondicional que sinto pelo Furacão.

Mas saudade mesmo eu sinto daquela certeza que um dia eu tive no profissionalismo do Atlético, da convicção que mantive na segurança diretiva do Clube e, também, da confiança que um dia pude depositar em Mario Celso Petraglia. E a minha saudade é maior sob esses aspectos, porque sem profissionalismo, sem transparência, sem segurança, sem vontade de fazer a diferença, nos afastamos cada vez mais daquele Atlético ali de cima, que é tão “fácil” amar.

Afinal, momentos difíceis nós tivemos em praticamente todos os anos da nossa existência, entretanto, aprendemos a confiar que tudo sempre estava sob controle e/ou que o momento crítico seria passageiro.

Tanto foi assim, que num dos anos que flertamos violentamente com o rebaixamento, o próprio Petraglia se afastou do futebol e do Clube, permitindo que fossem tomadas todas as providências para superarmos a crise. E superamos, porque dispúnhamos de profissionalismo, vontade, interesse no futebol e casa cheia.

Hoje, o que temos de bom?

Tirando a vantagem de que a ruindade do time é notória desde já e não teremos que esperar o Brasileirão começar pra tomar conhecimento disso, não temos mais nada que nos diferencie da maioria dos times que disputarão o Brasileiro, nem mesmo a polêmica da Pré-Temporada mais extensa dos anos anteriores. O certo é que estamos diante do pior elenco de todos os tempos (em todos os sentidos), não temos referências, nosso estádio não tem nada que o caracterize como a casa atleticana, o Clube está cada vez mais distante de sua essência e, se percebe o tempo todo, que não existe nenhuma movimentação efetiva para que essas questões se resolvam.

E, ressalto, que o meu prognóstico e o desespero atual, não se fundamentam apenas nos péssimos resultados, mas principalmente nessa certeza recente de que o Atlético está abandonado!

Teria uma lista gigante de itens que comprovam a negligência com que tudo vem sendo conduzido, mas basta olhar para o campo e ver um Felipe da vida - que não era nem banco até esses dias – se tornar uma das peças-chaves no ano do futebol. Parece piada, mas infelizmente não é!

Fico tentando entender o contexto desse 2015 tão frustrante e tudo me leva a crer que o Clube já cumpriu a sua função em relação aos interesses do seu Presidente, já serviu para trazer a Copa do Mundo, já prestou para que fosse comercializado um grande número de cadeiras cinzas, já colocou tampa na Baixada e outras coisas que nem tenho condições de apurar.

E pelo visto os netinhos já não se importam mais em perder clássicos e provavelmente desapegaram do futebol.

Mas se a minha tese for completamente furada, se existe uma mobilização para salvar o nosso Atlético, peço que alguém do Clube tenha a dignidade de responder algumas questões básicas: Onde foi parar o respeito ao torcedor? Torcedor só serve para ser sócio? Por que o meu dinheiro não está sendo destinado ao futebol? Por que não temos o direito de saber nada do que se passa internamente no Atlético? Qual é o planejamento para o resto do ano? O que está sendo feito para diminuir a debandada dos sócios? Cadê as nossas lanchonetes? Será que vale a pena querer cobrar um aluguel mirabolante e manter o estádio do jeito que está? Será que não precisamos ter um pouco de humildade em todas as áreas do Clube? Será que não tá na hora do Clube capitanear um resgate do atleticanismo? Cadê a Arena Store? Por tudo o que há de mais sagrado, o que é aquele banner da Copa do Mundo na frente da nossa casa? Não temos dinheiro para personalizar o nosso estádio? E o futebol no ano do futebol? Por que dispensaram o Antônio Lopes? Por que a culpa pela “pré-temporada” desastrosa foi atribuída ao Claudinei? E os eventos que iriam auto-pagar a reforma da Baixada?

De toda sorte, independente da resposta formal a essas questões, o certo é que enquanto não houver a “apropriação” da responsabilidade pelo Presidente e o reconhecimento de que está TUDO errado, o prognóstico no "Ano do futebol" é o pior possível.

O que não podemos deixar passar é essa “vantagem” de termos a plena consciência de todos os nossos problemas.

Mas para que isso aconteça, é preciso parar imediatamente de tentar maquiar o cenário com técnicos medíocres que baixam a cabeça para a Diretoria e acham que farão milagres com as peças que temos.

Encarar o problema agora é o que nos resta e que poderá repercutir diretamente na conquista dos 46 pontos sagrados! Só assim poderemos salvar o ano que era pra ter sido dedicado exclusivamente à razão de ser do nosso Furacão.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.