Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

A volta para casa

03/09/2014


Ao invés de contar com a sorte, esperar o fracasso alheio e ver seu patrimônio sendo dilapidado pelo tempo, o Atlético resolveu se reinventar, reescrever sua história e pintar com tintas vermelhas e pretas o seu futuro. O caminho não foi fácil, mas é impossível não reconhecer que o Atlético possui hoje um dos melhores e mais modernos estádios não só do Brasil como do mundo e que foram nada mais do que três grandes reformas, praticamente reconstruções até se chegar ao Joaquim Américo que será oficialmente entregue à nação atleticana na noite desta quarta-feira.

Em 1993, o Atlético jogava no então longínquo e frio Pinheirão, ouvia os gritos de “sem terra” dos rivais e a sua torcida clamava pela volta ao antigo lar, então já tomado pelo mato e abandono. No peito e na raça, o Presidente Farinhaque bancou uma obra sem dinheiro, reuniu-se com nobres atleticanos, brigou com a Federação Paranaense, que dependia do Atlético e seu público para manter vivo o sonho daquele maldito estádio, e foi ajeitando aqui e acolá. Eis que, em 94, contra o Flamengo de Sávio, vencemos com gol de Ricardo Blumenau num ensolarado sábado festivo. Era simples, era modesto, mas era nosso! O Caldeirão voltava a incendiar paixões e unir a massa atleticana.


As “sociais” logo foram apelidadas de Farinhacão. Havia o tobogã, novidade pra época, mas setores ainda deixavam os antigos tijolinhos à mostra, bem como o famoso pinheiro e o placar do Café Damasco faziam parte do cenário. Manteve-se o ginásio, ali onde podia-se relembrar os quatro gols de Ziquita no milagre dos quatro gols em dezesseis minutos de 1978.

Veio a iluminação, a conquista da B e a sensacional campanha de 1996, quando já tínhamos tubulares para acomodar tanta gente. Jogos de lotação máxima como a vitória que valeu a invencibilidade de um Palmeiras arrasador de Djalminha e cia., gol aos 48’ do segundo de Oséas no Atletiba, que depois escalou o alambrado, o helicóptero entrando em campo no jogo dos 36 sinalizadores contra o Guarani para levar os poloneses Nowak e Piekarski a Guarulhos para viajarem ao seu país. Os sonhos começaram a crescer e com ele o estádio também deveria.


O primeiro projeto era até singelo, conforme p. 06 da Revista do Atlético ano I, n 1. Era nada mais do que uma grande reforma do que já era a Baixada. Veio o sonho de o Brasil sediar a Copa do Mundo de 2006 e o Atlético já saltou na frente e ofereceria o primeiro estádio brasileiro cumprindo as normas da Fifa. Para isso, era necessário por abaixo a antiga Baixada e começar um arrojado projeto arquitetônico calcado no tripé conforto - segurança - proximidade do campo.

E lá fomos nós mais uma vez para o exílio, mandando jogos na Vila Capanema, Vila Olímpica e os maiores no Couto Pereira. De abril de 1997 a março de 1999 foram jogos e mais jogos de uma doída distância, mas que valia a pena, pois cada visitada no mirante da Baixada nos dava certeza de que o sacrifício valeria a pena.


Havia entretanto um muro, um colégio e muita polêmica. O estádio conforme projeto não poderia ser concretizado, ele seria reinaugurado ainda faltando um bom pedaço a ser construído. Mas a partir dali, seriam os anos mais felizes e gloriosos da história do Clube Atlético Paranaense. Cinco estaduais, um Brasileiro, um vice nacional, primeira participação em torneios internacionais oficiais, uma semi final de Sul Americana, uma final de Libertadores que nos foi injustamente tirada de nossos domínios. Um sem fim de histórias, de risos, de glórias. Um verdadeiro Caldeirão de emoções.


E veio a confirmação da Copa do Mundo no Brasil em 2007, tendo o caderno de encargos da Fifa se tornado muito mais rigoroso e detalhado a partir da excelente organização alemã de 2006. O Brasil estava muito atrasado e precisava correr contra o tempo. Aqui em Curitiba especificamente o clube, especialmente o comandante Petraglia teve ainda que lutar contra a má vontade da imprensa, o descaso do poder público e a tradicional autofagia curitibana. Para cada obstáculo vencido, mais empecilhos eram colocados a frente, mas diante de todas as dificuldades o plano foi colocado em prática e o estádio oficialmente confirmado como sede curitibana em 2011.

Triste lembrar que nossa última partida oficial no estádio fora naquele ano e que mesmo com a vitória de 1 x 0 sobre os coxas com gol de Guerrón, acabamos caindo para a Série B. Desde lá foram mais de mil dias, dois anos e meio, diversos estádios, várias cidades, uma vida cigana e andarilha mas que será recompensada.

Atleticano, entre que a casa é sua. Cuide dela como se sua casa pareça. Respeite como a casa de sua mãe. Contemple como a casa do deus o qual professe sua fé. Ame porque é do Atlético!


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