Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Estádio cheio

27/08/2014


Acredite, para ver o PSG de Zlatan Ibrahimovic, Lucas e cia. paga-se €40, o que dá cerca de R$ 119,00. Com todo o conforto e segurança do Parque dos Príncipes naquela que talvez seja a mais charmosa cidade do mundo.

Já se o visitante quiser aproveitar viagem a Barcelona e ver Messi, Neymar e mais um punhado de craques, pode pagar €55 nos setores mais em conta, ou seja, algo em torno de R$ 164,00. Dispensado ter que falar o que é o Camp Nou.

No San Siro de Milão, para ver o rossoneri pode-se pagar €23, €21 e até mesmo €19, traduzindo em reais, não mais que R$ 69. Não se necessita dizer a gigantesca diferença entre a média salarial destes países com o Brasil dada a desproporção das economias, o que torna o abismo ainda maior.

Toco no assunto porque dentro de uma semana estaremos voltando para casa. O Atlético seguiu uma tendência de fidelizar o sócio e fazer com que grande parte do estádio seja tomado só por eles e em contrapartida temos um ingresso extremamente caro. Em parte está certo o clube em assim o priorizar, mas também deveria se abrir a todo tipo de atleticano e entender que no Brasil as coisas funcionam diferentes.

A Copa do Mundo provou que definitivamente não somos o país do futebol. Gostamos sim de futebol, mas com muito menos fervor, devoção e entrega que ingleses, alemães e argentinos por exemplo. Nós em geral gostamos do time, torcemos, mas não vivemos tão intensamente nosso clube como outros povos. Se o clube está bem, estádio lota, se está mais ou menos estádio semi vazio. Grande parte de nossa torcida (e aí incluo Coxa, Goiás, Sport e Bahia, equipes também com grandes torcidas Brasil afora) vai “só na boa” ou só quando se enfrentam os grandes do eixo Rio-São Paulo.

É triste, mas é verdade! Se o Atlético estiver em 5º e enfrentar pela 25ª rodada o Goiás em 4º, ambos disputando vaga no grupo de classificação para a Libertadores é jogo para não mais que 17 mil pessoas (sendo otimista). Qualquer rodada diante de São Paulo, Flamengo ou Corinthians leva pelo menos 20 mil espectadores. E não que tenhamos um enorme número de torcedores dos adversários: é atleticano, é coxa, é torcedor do leão que vai em um ou outro jogo e que não tem intenção de ir sempre.

Repito que é triste, mas é cultural do brasileiro. O mau estado de grande parte dos estádios, as proibições (sem bandeira de mastro, sem bateria dos visitantes, sem fumaça colorida, sem papel picado, sem sinalizador nem piscas, sem cerveja) que deixam a festa mais xoxa e especialmente os altos preços, ainda mais se vermos o baixo nível técnico dos jogos, são o cenário ideal para vermos públicos ridículos no Campeonato Brasileiro. E não falo só dos médios pois torcidas consideradas grandes como as do São Paulo e Fluminense, que estão na ponta da tabela e nas duas maiores cidades do país, mal levam 10 mil pessoas por jogo e lotam efetivamente quando os jogos são decisivos ou quanto há promoção de ingressos.

Pelo grande número de sócios tivemos situações inusitadas ano passado, sem possibilidade de habilitar os cartões e vendo o estádio com mais de 5 mil lugares vagos. E isso continuará acontecendo. É perda de incentivo nas arquibancadas, perda de receita com ingressos que deixam de ser vendidos, perda de uma certa rotatividade de público, já que devido ao preço extremamente proibitivo fica difícil levar um amigo ou parente que esteja nos visitando para conhecer o estádio que nos orgulha.

Estive com amigos franceses semana passada e todos, num total de sete foram ao Maracanã e pagaram R$ 40 para verem o Flamengo no mais emblemático templo do futebol vencer o Galo semana passada. Nenhum deles pagaria R$ 150 nas mesmas condições.

O Atlético possui muitos associados e temos assegurada uma série de vantagens, promoções e direitos políticos na vida do clube, mas boa parte dos torcedores gostaria mesmo é de ter seu ingresso garantido ou poder eventualmente pagar um preço justo para acompanhar o clube, assim como tem muito associado que teria muito prazer em levar um não atleticano a algum jogo, mas não o faz pelo preço extremamente alto que vem sendo praticado.

Que fique a reflexão para o clube que a meu ver, perde dinheiro neste sistema.

Agradeço aos colegas Paulo Perussolo, Luiz Berehulka e Juliano Lorenz pela saudável troca de ideias que me ajudou a escrever este texto


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.