Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

O legado da Copa

02/07/2014


Não, não se preocupem. Não irei escrever aqui sobre mobilidade urbana, metrô, BRT, rios, pontes e overdrives e nem impressionantes esculturas de lama. Vou escrever de algo que não depende de Estado, de Governo, que depende de cada um de nós.

A Copa está sendo uma grande festa e isso praticamente ninguém pode negar. Não sei se demoramos tanto para entrar no clima com medo de protestos, se nos deixamos levar por um pessimismo que até então era justificado (tudo muito atrasado, pouco a comemorar), mas a atmosfera do Brasil, a alegria da população quando se sentiu parte da festa está fazendo tudo valer a pena.

Até mesmo ter passado o calvário de mais de dois anos mendigando onde jogar Brasil afora parece ter valido o preço, pois para quem já teve o prazer de pisar em nossa renovada casa sabe do que estou falando. Não sei se estaremos lá no topo dos campeonatos, até que para isso necessita-se investir melhor e mais pesado em qualidade no departamento de futebol, mas que deixamos o pelotão de baixo disso não tenho dúvidas.

Na Copa percebemos que nosso vizinho de cadeira com camisa diferente não é inimigo, é adversário. E que nada, absolutamente NADA deve impedir-nos de beber uma boa cerveja no intervalo comentando o jogo e que na saída o perdedor possa pagar mais uma de aposta. Essa Copa nos mostrou que quando o policiamento quer, é educado, cordial e age somente sobre quem está infringindo a lei ou regras de bom comportamento e não desce o cacete em todos sem distinção.

O legado da Copa é perceber que futebol é diversão, é entretenimento e que devemos amar e cuidar de nosso clube sempre. Não sei se chegaremos a “elevação espiritual” de festejar a estar contente mesmo com derrotas como fizeram os festivos australianos com três derrotas no coco e nem por isso deixando de transparecer seu orgulho. Futebol por aqui é coisa séria e queremos sim vitórias, mas exigi-las como temos feito (não só nós atleticanos) como todos os brasileiros de uns tempos pra cá é bastante desumano.

A Copa nos mostrou que proibir a venda de cerveja nos estádios é uma tolice sem tamanho, até porque a imensa maioria das brigas se dá fora dos estádios, quando muitos desses “torcedores” sequer vão aos jogos e ficam nos arredores do palco dos jogos somente para arrumar confusão. Não raro aqui em Curitiba temos brigas gigantescas horas antes ou depois de um clássico em terminais de ônibus situados a dezenas de quilômetros do campo de jogo: o que minha cerveja dentro do estádio tem a ver com isso?

Por fim, o legado que essa Copa deve fazer surgir dentro de cada um de nós é que temos nossa parcela de contribuição. Queremos paz, mas pregamos músicas e gritos de violência; queremos time mas não nos associamos ao clube do coração; queremos tudo e por vezes damos muito pouco. Que a Copa sirva para cada um de nós olhar para dentro e ver o que pode fazer para mudar um cenário que hoje coloca o futebol brasileiro como violento entre as torcidas, sem a maravilhosa cervejinha dentro dos estádios e nos coloca em confronto com aqueles que deveriam nos proteger.

Que a vinda da Copa sirva para uma grande mudança não só no futebol, mas especialmente no coração do torcedor brasileiro.


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