Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Ser humano

29/04/2014


No filme “O homem que mudou o jogo” o estrelado Brad Pitt interpreta um gerente de clube de beisebol que não está entre os maiores e por isso mesmo conta com um orçamento bem mais modesto que as principais equipes da liga. Ele enfrenta os antigos olheiros, fazendo-os crer que seus métodos obsoletos já não são eficazes como outrora. Em busca de reforços conhece um jovem que nada entende de beisebol, mas é um ás na estatística e domina os números como poucos.

Assim e fazendo uso de gráficos e tabelas, dentro do modesto orçamento monta um elenco que casa as melhores características de jogadores baratos e monta times que desbancam favoritos a chegam entre os melhores.

A história é verídica.

No beisebol funciona, creio que no vôlei e handebol também e em boa parte dos esportes coletivos onde as individualidades só se sobressaem se o todo funcionar razoavelmente bem funciona. Mas no futebol, isso funciona?

Indago pois semana passada o ex-gerente de futebol do Atlético, Dagoberto Santos foi ouvido pela equipe da 98 FM e falou sobre o trabalho do departamento de inteligência, algo ainda novo no Brasil e que teve no Furacão um de seus precursores. Ele eticamente evitou falar diretamente do trabalho no rubro-negro, mas deu algumas deixas que valem reflexão.

Deixou claro que a palavra final sempre é do departamento de futebol. Sempre. Os simples números por si só não contratam nem dispensam ninguém. Mas pelo rol de atletas contratados, o pessoal tem levado bastante em consideração o que diz o departamento. Destaque de verdade, Natanael hoje titular do time principal e o atacante Delatorre, descoberto ano passado. Este, serei justo, em suas duas ou três primeiras partidas parecia ser mais uma daquelas tacadas da direção que ninguém sabe de onde surgiu e fadada ao fracasso. Engano. Se não é (foi) brilhante, o jovem Delatorre ajudou muito com gols, assistências e grande espírito coletivo nas boas campanhas do segundo semestre de 2013.

Dentre as vindas alguns que não precisam de computador nenhum pra saber que tem bola no pé como Marcos Guilherme, Suelinton e as promessas Mário Sérgio e Jean Felipe. E alguns erros imperdoáveis como trazer Palau, Ricardo Silva e Tarik por exemplo.

O ponto que quero chegar é que o futebol, quer queiram ou não, ainda é executado por seres humanos, ali dentro de campo. Um programa pode dizer que Paulinho Dias acerta sete em cada dez passes, sendo cinco pra trás e dois a menos de um metro. Seria ele melhor que João Paulo, que acerta somente cinco, mas sendo três deles em invertida de bola e outras duas em que lança um companheiro na diagonal para que este cruze para a área criando boa chance de gol?

A movimentação, inclusive defensiva, sem a bola é tão importante quanto saber que Deivid correu oito quilômetros no jogo mas não marcou ninguém nos rebotes fora da área, enquanto Marcos Guilherme correu “só” cinco quilômetros mas fez todas as principais jogadas ofensivas da equipe.

Não sou contra o uso da tecnologia da informação e de todo recurso disponível para incrementar tecnicamente o futebol atleticano. Mas o clube não pode correr o risco de dispensar um Anderson Salles, destaque do Ituano por acharem ser baixo demais, mas insistir por vários jogos com o gigante atacante Domenic, sem nenhuma intimidade com a bola simplesmente porque o numerário indicava ser ideal.

Fato é que futebol é feito por gente de carne e osso e ainda que os números desmintam, alguns fenômenos da bola estavam fora do estereótipo de atleta talhado para o sucesso. Mas o clube necessita de gente capacitada e com sensibilidade suficiente para reparar o bom futebol que alguns possuem mas que a frieza dos números pode esconder.


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