Rodrigo Abud

Rodrigo Abud, 45 anos, é jornalista. Já correu dos quero-queros na Baixada, justamente quando fez um lindo gol do meio de campo. Tarado por esportes, principalmente o bretão, é também alucinado por rádio esportiva.

 

 

Jovens lembranças, futuras incertezas

05/07/2013


1978

No início do mês de novembro de 1978 e o pequeno Moacir, com pouco mais de sete anos de idade, estava intrigado para saber o que era o tal Caldeirão do Diabo. Cumprindo uma promessa, no dia 05 de novembro do mesmo ano, seu pai avisou que o levaria para o local com nome satânico, o que o deixou completamente ansioso.

Moacir chegou a um lugar que apesar do nome assustador o encantou e saiu completamente deslumbrado com o que assistiu. Viu um endiabrado Ziquita fazer milagre e empatar um jogo em que o Atlético perdia para o Colorado por 4 x 0.

Terminada a partida Moacir agradeceu e pediu para ir mais vezes, costume que manteve por muito tempo.

1983

O serelepe garoto Hugo pediu para que seu pai o levasse a um jogo de futebol. Depois de declinar inúmeras vezes, Roberto, seu pai, não teve escapatória quando os jornais noticiavam a vinda do craque Zico a Curitiba para enfrentar o Atlético, e no dia 15 de maio de 1983 Hugo foi ao jogo.

Como em um filme o jogo tomou proporções históricas e do pouco que conseguiu assistir da peleja, em um Couto Pereira tomado por 65.493 pessoas, Hugo que foi para assistir o galinho de Quintino, saiu encantado com Washington e Assis e naquele momento, com apenas seis anos tornou-se atleticano, dádiva que mantém até hoje.

1990

No domingo de 5 de agosto de 1990, Luiz Felipe telefona para seu primo para saber se ele poderia ir ao jogo. Ambos, com apenas 11 anos, queriam ir ao Atletiba da final do Campeonato Paranaense do mesmo ano. Partiram de ônibus rumo a um Couto Pereira dividido entre o vibrante e quente vermelho e preto e o gelado e pálido verde e branco.

Acompanhados por uma torcida que mesmo com um time inferior ao adversário não parava de cantar, os dois jovens viram a história acontecer a sua frente com o gol contra marcado pelo zagueiro coxa-branca Berg. Empolgados e roucos comemoraram o título na Praça do Atlético e alcançaram o êxtase quando um senhor mais velho, com fala mole, quis se livrar do que o deixou tonto a agraciou os dois atleticanos com um copo de cerveja. Debutaram no contato com o líquido maltado e sentiram-se em casa acompanhados de um povo vestido como as mesmas cores que eles.

2001

A adolescente Aline, com apenas 15 anos, não era chegada em futebol, porém o convite de uma amiga que avisou a ela que não marcasse nada para o domingo, dia 16 de dezembro mudou esse panorama. Aline saiu de casa controversa, chegou a uma Arena da Baixada em ebulição com o primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro de 2001.

Antes do apito inicial perguntou para a amiga quem era o careca com a camisa nove, no que a amiga sabe-se lá se por um sexto sentido avisou que ela já ia descobrir. E Aline descobriu. Viu um Alex Mineiro alucinado, possuído e solto. Viu uma torcida inflamada com a certeza do título de Campeão Brasileiro.

Depois desse domingo Aline não deixou de acompanhar o time pelo qual se apaixonou e terá para sempre aquele dia guardado em sua memória.

2005

Doutrinado pelo pai, atleticano fanático, o inquieto André de sete anos, sempre assistia aos jogos do seu Atlético pela televisão. Foi algumas vezes a Arena da Baixada e acompanhou a guerreira campanha do seu Furacão na Libertadores de 2005.

No dia 14 de julho de 2005 fez um pedido ao seu pai. Pediu para quem o ensinou a torcer para que fosse ao mercado comprar algumas guloseimas, já que a noite seu olhos estariam voltados para a final da Libertadores, com o seu Atlético brigando pelo título e André queria ter uma noite de rei.

Salgadinhos enfileirados, como um time durante o hino, refrigerante gelado como o isotônico dos jogadores e um docinho escalado pronto para a comemoração do título. O jogo não foi como o esperado, o Atlético perdeu e André comeu tudo o que tinha direito, porém não comemorou. Mas aquele aguerrido escrete Rubro-Negro tornou o empapuçado André ainda mais atleticano (como se isso fosse possível) e desde então o garoto jamais abandou seu clube de coração.

2012

Pela pouca idade, Eduardo de 13 anos somente via o Atlético pela televisão. Um pouco relapso para os estudos Eduardo recebeu a promessa de seu pai que se dedicasse mais aos livros e se não ficasse em recuperação na escola iria ao estádio ver o time que só era realidade na sua mesa de botão.

Objetivo alcançado e em 06 de outubro de 2012 Eduardo foi com seu pai ao Janguito Malucelli, acompanhar o jogo do Atlético contra o América-MG.

Sob um sol nordestino, Eduardo acompanhou extasiado um jogo sem precedentes, que terminou 5 x 4 para o Furacão. O pequeno Rubro-Negro, ao final do jogo, olhava para o lado e entendia porque pessoas ao seu lado, com a idade do seu pai, deixavam o estádio com os olhos marejados e simplesmente emocionados.

Ali, em um estádio simples, com um time no máximo esforçado, Eduardo entendeu o que é o tão falado atleticanismo. Ali o jovem tornou-se adulto e depois daquela tarde o garoto estava encaminhado para o futuro.

2013

Rafael, Sergio, Adriana entre outros tem a idade dos jovens citados acima. Todos são filhos de grandes atleticanos e herdaram a paixão pelo clube dos pais, mas estes não estarão na Vila Capanema dia 06 de julho próximo.

Difícil é explicar para essa garotada o porquê da perda do entusiasmo dos pais pelo time de coração. Esses jovens ainda não entendem o impacto que o descaso do clube com o futebol e com seu sócio e torcedor terão.

Hoje os filhos são o reflexo dos pais e atualmente a maior torcida do estado está esquecendo o Atlético que Jofre Cabral e Silva não queria que deixassem morrer. Hoje cobramos como torcedores, mas somos tratados como consumidores.

Fico pensando apenas o que será do nosso futuro, se não valorizamos o presente.


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