Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Paradoxo

03/06/2013


Muito já se ouviu falar de “mal necessário” ou que “há males que vem para o bem”. No Atlético, entretanto, existe um paradoxo: algo aparentemente bom veio a se tornar o mal maior. De 2005 pra cá, o Atlético acostumou-se com a mediocridade. Desde aquela Libertadores vivemos um ciclo vicioso de derrotas.

Em 2005 começamos o ano errando em tudo. Depois de uma excelente campanha com o grande time vice-campeão brasileiro de 2004, entramos num ano de Libertadores sem Marinho, apostando num já experiente e nunca brilhante Marcão, insistiríamos com o já testado e reprovado Fabricio, sem Jadson, sem Washington e querendo que Badé e Lima dessem certo. Pior, fomos testar um péssimo Casemiro Mior de treinador em pleno ano de Libertadores!

Para se ter ideia da desorganização daquele Atlético, na 1ª fase inscrevemos somente 23 jogadores, pois contamos que daria tempo de trazer o jovem Paulo André do Guarani, fato que veio a não se concretizar.

Para dar um ar internacional ao time, repatriou-se um já combalido Aloísio e se apostaram as fichas no recém-rebaixado pelo Grêmio Baloy e no lateral Marin, a título de hablaren español, sendo que ambos ficavam calados o jogo todo. Porém, com uma conjugação de competência, acerto nas horas certas, sorte, falhas dos adversários, enfim, aos trancos e barrancos o time foi indo, passou da 1ª fase mesmo perdendo em casa por 0 x 4 para o Independiente, mas contou com o incrível tropeço do América, que bastava empatar em casa com o Libertad para se classificar e perdeu por 0 x 1.

A partir dali a coisa acabou encaixando, jogadores médios como Ticão e Evandro cresceram, Diego voltou a fazer milagres, Aloisio decidiu jogos sozinho e um desacreditado Lima acabou se tornando ídolo. O imponderável, o imprevisível, o improvável aconteceu: aquele time brilhou, pegou Santos e Chivas Guadalajara desfalcados devido a convocação de seus jogadores para a Copa das Confederações na Alemanha, venceu o estadual sobre o rival e chegou para disputar aqueles que foram os maiores jogos de nossa história. Sim, esse patinho feio chegou na final da Libertadores, onde um São Paulo venceu mais fora do que dentro de campo. Mas nossa história foi escrita e eternamente será lembrada.

Fato é que desde então a direção atleticana insiste que a exceção vire regra. Um time mal dirigido, cheio de refugos, jogando-se às feras alguns destaques da base para que de repente resolvam tudo, em geral, não dá certo. O futuro de times mal treinados, cheio de apostas é o que temos visto desde então: mera luta contra o rebaixamento ou a queda, como aconteceu em 2011.

Em 2006 a bela campanha na Sul-Americana ajudou a disfarçar as extremas deficiências de um time fraco. Nos anos seguintes, eliminações diante de Voltas Redondas, Adap's e Corinthians Alagoanos da vida foram mostras claras das extremas deficiências do time. Não bastasse isso, em 2007, 2008 e 2009 escapamos da degola nas rodadas finais, na base do grito da torcida e do caminhão de reforços chegando em agosto, com o clube com a corda no pescoço e trazendo treinadores de verdade e não meros especuladores para fugir da inevitável queda.

Exceção feita em 2010, quando na parada para a Copa o clube se reforçou, trouxe um treinador de verdade e fez uma bela campanha, mesmo não tendo um time brilhante (longe disso), os demais anos foram de sofrimento, angústia e falta de projeto para o futebol. Na verdade, nem a queda serviu, pois o que se viu durante a primeira metade da Série B ano passado foram os mesmos erros, a insistência com jogadores medíocres e depois a busca desesperada para recuperar o tempo perdido.

A esperança da direção do Atlético é acertar de novo um tiro no escuro. Mas lamento informar que este tipo de raio dificilmente cai no mesmo lugar. A regra é time ruim, treinado com incompetência e cuja direção trata o futebol com desleixo, é sofrer, nada conquistar e se submeter a tudo e a alto custo para se manter na elite. Exceção é algo assim dar certo. E a direção insiste que apostar a rodo, um dia vai dar certo de novo, tentando se convencer que a exceção vai um dia virar regra.

Não vai.

Por isso não é à toa que capengamos tanto desde 2005. De 2005 para cá, o Atlético acostumou-se com a mediocridade. Desde aquela Libertadores vivemos um ciclo vicioso de derrotas.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.