Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Atletiba!

19/02/2013


Semana de Atletiba. Semana um pouco fria, estranha, como se faltasse um tempero especial para o clássico, afinal de contas, clássico como este sempre nos traz recordações.

Devia ter uns doze, treze anos de idade. Atletiba naquele tempo começava cedo, lá pelas 09h00 da manhã de domingo. Logicamente depois de uma noite que não acabava nunca. Insônia, ansiedade e camisa do Furacão debaixo do travesseiro. Ufa, amanheceu! Hora de pular da cama, fazer o tradicional gesto de agradecimento ao papai do céu e como num ato nobre, erguer os braços e deixar o manto vermelho e preto rolar sobre a cabeça e deitar sobre o peito. Pronto, estava começando mais um Atletiba.

Próximo passo: escovar os dentes. Opa, mas antes da saúde bucal, não custava nada esticar um pouco o braço e apertar o “play”. O rádio já estava sintonizado na estação preferida. Som não muito alto, ainda havia gente dormindo, mas já estava ali, ligado, às 09h00 da manhã de domingo, o radinho de pilha que nos trazia as notícias do maior clássico do estado. Lá pelas 10h30, no café da manhã, começava a participação dos ouvintes, atleticanos e coxas que tinham o direito de “cutucar” o rival e soltar seu palpite.

A essa altura o boné rubro-negro já estava na cabeça e o traje de gala já brilhava sobre o corpo. Estava pronto para o jogo, mas antes, almoço. Duro mesmo era almoço em domingo de Atletiba. Que demora! Aliás, quem inventou essa tradição de almoçar tarde aos domingos, nos levou a muitos e muitos domingos sem almoço. Dependendo da importância do clássico, não dava tempo de almoçar. E quando era decisão de campeonato? Aí a comida nem descia...

Depois do almoço vinha a tradicional caminhada até o estádio, e cada caminhada era uma aventura. Fatalmente encontraria um rival pela frente. Graças a Deus, nunca me envolvi em confusão, mas passei perto de várias e assisti outras tantas. Lamentavelmente, essa era a única coisa ruim dos domingos de Atletiba: as brigas. Independente do local do jogo, todo cuidado era pouco e naquele tempo existia mais aquela coisa de “cada um por si”, meio no estilo “salve-se quem puder”. Terrível.

Mas tudo isso fazia parte de um dia festivo. Pé para dentro do estádio e aí sim, explodia o coração e junto com milhares de outros atleticanos, a gente cantava até o fim. Ah... aquela torcida do Atlético! Quanta saudade! Aquele povo era sofrido demais, mas ao mesmo tempo era a torcida mais feliz do mundo. Era tanta alegria, tanta bandeira, tanta fumaça, tanto papel picado e tanta gente maluca, que a gente voltada pra casa enlouquecido. Era realmente um tesão! Aquela época do início dos anos 80 até o início dos anos 90 realmente foi uma época que marcou a minha vida. Quem teve esse privilégio, sabe bem o que estou falando e sabe exatamente qual era a diferença daquela torcida, daquela nação!

Cada Atletiba era uma grande história!

Depois as coisas esfriaram um pouco, apesar da rivalidade nunca ter morrido. Há quem diga que o clássico deve ser tratado com naturalidade, como um jogo qualquer, mas há quem diga que Atletiba deve ter um gosto diferente, especial e tem que ser tratado como um “dia de luta” (sempre no bom sentido, é claro). Faço parte do segundo grupo, daqueles torcedores que ainda sentem o Atletiba na veia, que ficam sem ar, que não dormem de sábado pra domingo e que acordam com uma única certeza: temos que ganhar do coxa!

Enfim, está aberta mais uma semana de Atletiba. O Atlético que aproveite essa juventude, essa oportunidade única e que a nossa piazada jogue o “jogo da vida”... e o coxa que se cuide com esse tal favoritismo que estão espalhando aos quatro cantos. De qualquer forma, isso é clássico, isso é Atletiba, mesmo que a gente não acorde tão cedo, mesmo que a gente não perca a fome e mesmo que o som da bateria seja trocado pela palma da mão e por milhares de vozes cantando o hino do Furacão!

Que venha o domingo. Pra cima deles, Atlético!


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