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Sergio Surugi
Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.
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Da adaptação para a evolução
18/03/2005
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A biologia tem nos ensinado que a adaptação é a chave para a evolução.
Seres vivos foram obrigados a perder algumas estruturas e desenvolver outras para fazer frente a um novo habitat, com diferentes disponibilidades de meios de sobrevivência.
É o perde-ganha natural. Quem se adapta melhor às novas condições, sobrevive.
Muita gente tem criticado as atitudes da diretoria do Atlético, lembrando dos perÃodos de vacas magras e alegando que naqueles tempos difÃceis era mais fácil se apaixonar pelo Atlético. Totalmente comprensÃvel e também natural. Muitas vezes nas nossas vidas, acabamos sendo atraÃdos por alguém que precisa da gente. É a necessidade intrÃnsica do ser humano de se sentir útil.
Para os saudosistas, voltemos à década de 60, quando apesar da paixão ser parecida, não havia o grau de exigência da torcida que existe hoje. O Atlético (e todos os demais times do Paraná) não competiam com equipes grandes do eixo Rio-São Paulo e isso de certo modo limitava a expectativa do torcedor que acabava se conformando com pouco.
Se hoje a torcida espera que o Atlético seja o melhor do PaÃs, a responsabilidade é exatamente daqueles que fizeram com que o Atlético fosse capaz de competir de igual para igual com qualquer time do Brasil e até do mundo.
Se antes ganhar o Paranaense era o máximo, hoje o limite é o Mundial de Toquio.
Infelizmente, manter o time neste patamar com um mÃnimo de decência tem pelo menos um efeito colateral e esse efeito é o custo. Na excelente entrevista do Mauro Holzmann (recentemente publicada na Furacao.com), ele afirma que um mesmo jogador pede muito mais prá jogar no Atlético do que no Paraná Clube. Além disso, para pagar as contas e não dar calote em ninguém, é necessária a bendita grana e dinheiro não cai do céu, infelizmente.
Todos sabemos muito bem que a maioria dos clubes de futebol no Brasil estão envolvidos em dÃvidas "impagáveis" e desmoralização administrativa, mas ainda assim seguem contratando jogadores que eles mesmos sabem que não são capazes de manter.
Certa vez um jogador de um time considerado grande, declarou: "Eles fingem que me pagam e eu finjo que jogo". Na verdade a única vÃtima desse fingimento geral é a torcida deste time, que amarga vários anos sem conquistas e pior, sem perspectiva.
A opção do Atlético já foi mais ou menos essa, mas hoje mudou, se profissionalizou, ficou mais séria, ficou muito mais realista e a realidade quase sempre é rude, provocando a rejeição em muitos.
Me engana que eu gosto. Será…?
Nos novos tempos, o Atlético optou por adaptar-se à um ambiente onde os vitoriosos são aqueles que encaram a realidade de frente e preferem as soluções definitivas aos paliativos, às medidas heróicas e demagógicas, ao "empurrar com a barriga".
Cabe agora à torcida também decidir sem vacilar pela adaptação a um novo cenário e entender que além do grito e do batuque na arquibancada, hoje o Atlético Grande precisa também de dinheiro, de muito dinheiro.
Assim como o Atlético caiu na real, agora a torcida deve entender que é preciso fazer propostas com realismo, objetividade e inteligência, sem paixão, raiva ou rancor.
Para negociar, antes é preciso respeitar, confiar e principalmente ser confiável, além de (é claro) ter alguma coisa para oferecer aos interesses do outro lado. A gritaria, a cara feia podem intimidar o time adversário e até o juÃz, mudando o rumo de uma partida de futebol, mas são absolutamente incapazes de gerar um bom ambiente para uma relação de troca que seja favorável a todos os envolvidos.
A torcida do Atlético ficou famosa no PaÃs pela sua criatividade ao incentivar o time.
Não deve faltar a ela este atributo para engenhar uma proposta que acima de tudo seja boa para todos os atleticanos.
Pode parecer difÃcil, mas existe um ponto de partida.
É só colocar o Atlético em primeiro lugar.
No coração e na cabeça.
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