Ana Flávia Weidman

Ana Flávia Ribeiro Weidman, 41 anos, é servidora pública federal e já veio ao mundo comemorando uma vitória rubro-negra. É perdidamente apaixonada pelo Furacão e fica com os olhos marejados toda vez que vê o time entrando em campo e ouve os primeiros acordes do hino atleticano!

 

 

Podia ter sido na Baixada

02/10/2012


Aconteceu no Couto. Mas podia ter sido na Baixada.

O ano era 1996. Estava frio e chovia. Na Velha Baixada o Atlético iria jogar contra o Palmeiras. Aquele Palmeiras da Parmalat. Baita time. E o Atlético? “Só” vestiam o manto nessa época Ricardo Pinto, Reginaldo “Cachorrão”, Alberto, os polacos Nowak e Piekarski, Paulo Rink e Oséas. Baita time era o nosso!

Em casa, eu e meus irmãos, a Mariana e o Gabriel, estávamos empolgadíssimos com a partida. A mãe, tadinha, era só preocupação com o fato da criançada ir pro campo tomar chuva e vento. O pai que, como todo pai, não tem medo de friagem, estava tão animado quanto nós.

E assim fomos pra Baixada, eu, meus irmãos, meu pai e o Edson, aquele que torce pelo Furacão lá do céu. Chegamos à bilheteria e vejam a tragédia: acabaram os ingressos. Imaginem a cara de tristeza das crianças. Voltar para casa seria uma decepção grande demais para nós. Não lembro ao certo, mas creio que nossos olhinhos devem ter marejado. A única opção era comprar ingresso pra torcida verde. E assim fez meu pai. E qual pai não teria feito o mesmo! Ele foi irresponsável? Nada. Só não resistiu ao olhar triste que os filhos lançavam sobre ele.

Ingressos na mão, voltamos para o carro tirar as camisas. “Por favor, fiquem quietos! Não falem nada do Atlético! Não comemorem gol! E também não batam palmas!”. Sob a exortação do pai deixamos aquela que só se veste por amor, conscientes de que não poderíamos dar nenhuma bandeira de que éramos, em verdade verdadeira, atleticanos.

Ficamos pouco tempo no meio dos verdes. O pai deu um jeito de sensibilizar um policial que nos autorizou mudar pro lado rubro-negro. Sem fazer alarde, o pai nos puxou para debaixo dos seus braços e nos levou pros braços do povão atleticano, lá onde a gente é feliz!

Todo atleticano sabe que jogo foi aquele! Certamente um de nós três, e tenho quase certeza que seria a Mariana, teríamos colocado tudo a perder. O sorrisinho maroto vendo os gols de Paulo Rink e Oséas teria denunciado que no peito de uma daquelas crianças batia um coração atleticano. Sabe Deus o que poderia ter acontecido.

Na curva superior da Madre Maria, de onde eu tenho o prazer de ver o Atlético jogar, vira e mexe aparecem seres estranhos. A gente sabe. A gente conhece. Quem é da Baixada sabe quando tem gente nova no pedaço. Já cansei de ver visitante (desavisado) no meio da torcida atleticana vestindo verde. Já vi velhos atleticanos trajando verde porque foram pra Baixada direto do trabalho e nem se atentaram do pecado. “Tira a camisa verde” - já gritamos com força. Não sejamos hipócritas, o que aconteceu no Couto não é novidade.

Se não quer estender a mão pro adversário, tudo bem! Mas um pouco de educação, tolerância e civilidade têm tudo a ver com a paixão que temos pelo futebol e, especialmente, com o amor que sentimos pelo Furacão! Ao invés de criticar ou, pior, fazer piada, façamos um exame de consciência e vejamos se não teríamos agido da mesma forma.

O mais engraçado disso tudo é que todo final de jogo nossos atletas trocam de camisa com o adversário e saem carregando nos ombros peitas tricolores, verdes, azuis... E nunca vi torcedor nenhum indignado pedindo pra jogador devolver a camisa.


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