Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Questão de escolha

17/03/2005


Pensei em não escrever sobre o delicado e até mesmo desgastado tema, mas acabei de rever as cenas dos jogadores do Milan de mãos dadas indo agradecer à torcida rossoneri o apoio após a vitória sobre o Manchester United pela Liga dos Campeões da Europa e não consegui me controlar. Se você, caro internauta, motivo de ser de todo nosso trabalho no site, não agüenta mais ouvir falar ou ler sobre os problemas entre diretoria e torcida, pode parar de ler e me desculpe tomar seu precioso tempo.

Durante a entrevista com o homem forte do marketing atleticano, o simpático e bem-humorado Mauro Holzmann, algumas coisas ficaram bem claras. A primeira é que os tempos são outros e o Atlético precisa de maneiras diversas de arrecadar, pois cada vez mais o futebol brasileiro tem despesas de primeiro mundo e não suporta mais ter receitas de terceiro. O Rubro-negro, de maneira planejada e inteligente, vai conseguindo competir com times que possuem uma dimensão comercial muito maior, principalmente os quatro grandes paulistas, mesmo recebendo bem menos nas cotas de TV e também dos patrocinadores. Dinheiro não é tudo, mas quase tudo nesse meio.

Concordei com vários pontos da entrevista e também creio que a torcida tem que acompanhar as mudanças que o Atlético tem sofrido na última década. E ajudar dentro do possível, pois antes de gritar "queremos time" ou xingar a direção do clube, seria importante ver o que cada um tem feito para "ter time" e também para cobrar maior consideração de quem dirige o clube. A máxima já dita pelo presidente do Conselho Deliberativo, Mário Celso Petraglia, que não foi o Atlético que fez a exclusão social e que o pobre já não vai ao estádio faz tempo, infelizmente é uma verdade. O futebol é caro e não são todos que podem pagar o preço.

O maior erro talvez tenha sido a maneira como isso foi colocado ao torcedor. Além de o Atlético ter superestimado o número de pessoas que têm condições, são aficcionadas por futebol e atleticanas para desembolsar o que o clube pretendia. Não muito mais do que os quatro, cinco mil torcedores que têm ido constantemente à Baixada estão dentro deste padrão. A divulgação da majoração em 100% nos preços dos ingressos pouco antes do aniversário de 80 anos do clube e às vésperas das finais do estadual 2004 contra nosso mais tradicional rival deixaram marcas profundas no relacionamento diretoria / torcedor.

E as desculpas para as malditas proibições dentro da Baixada? As faixas sempre ficaram abaixo do nível do fosso, nunca atrapalharam a publicidade estática, em cinco anos de bateria nunca nenhum proprietário de camarote reclamou da presença da "charanga" por ali e hoje em dia sequer existem camaroteiros para supostamente reclamar. E com a setorização, ficaria bem fácil o torcedor que não gosta da organizada manter-se longe: ele tem outros nove setores do estádio para comprar seu ingresso, pois sabe que o pessoal que gosta de agitar estará na Buenos Aires inferior!

Por outro lado, a postura de parte da torcida em ir a campo apenas para xingar quem quer que seja não é correta. Se ainda há mágoas, ressentimentos por parte de membros da torcida, os 15 minutos de intervalo seriam ideais para fazer o protesto. Durante o jogo temos que vestir a mesma camisa, jogar para o mesmo lado e fazer nossa parte para que o Atlético conquiste as vitórias. Me dói o coração ver a Baixada semi-vazia e com times como os fracos Libertad ou a ACP jogando como se estivessem em casa por não sentirem pressão alguma em jogar no Joaquim Américo e ainda terem à sua disposição um gramado em excelentes condições. Não vejo mais jogadores adversários falarem como o atacante Magno Alves, então no Fluminense, dizer em 2001 que "vencer o Atlético aqui (na Baixada) com o apoio dessa torcida, é quase impossível". Ou como o pentacampeão Vampeta disse quando estava no Corinthians, que "quando a gente olha a tabela e vê que tem jogo contra o Atlético lá, se empatar já é lucro".

Agora mesmo, na Libertadores, ouvimos várias vezes o meia Fabrício lembrar que o América tem como grande trunfo o apoio do seu torcedor que lota as arquibancadas. Ou mesmo o panamenho Baloy lembrando que a torcida do Independiente Medellín ajuda o time o tempo todo.

Está faltando o colorido na Baixada, o diferencial. As duas partes, torcida organizada e diretoria preferem continuar de birra, uma querendo se afirmar mais que a outra em detrimento do Atlético? Até quando vamos perder para nós mesmos? A alegria de ser atleticano está esvaindo-se e ainda há tempo para recuperar toda a magia que o Caldeirão sempre teve.

Só torço para esse impasse chegar logo ao seu final, pois temo que dentro em breve já seja tarde demais.


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