Michele Toardik

Michele Toardik de Oliveira, 44 anos, é advogada, mãe, sócia ininterrupta há mais de uma década e obsessivamente apaixonada pelo Furacão. Contrariou as imposições geográficas, tornando-se a mais atleticana de todas as "fluminenses". É figurinha carimbada nas rodas de resenha futebolística, tendo como marca registrada a veemência e o otimismo incondicional quando o assunto é o nosso Furacão.

 

 

Campeão

23/12/2011


Pra falar do nosso primeiro título brasileiro não dá pra escrever coluna, não tem como opinar e muito menos questionar qualquer coisa. Entretanto, dá pra relembrar com reverência e fazer um simples depoimento de quem viveu intensamente cada um dos passos daquela conquista.

Dez anos se passaram daquele abençoado ano de 2001 e poderão passar mais cinquenta que, mesmo assim, não será possível tirar da minha mente as coisas que senti durante a construção do capítulo mais importante da nossa história.

E foi um período tão bom que às vezes parece sonho, mas felizmente foi real e eu me recordo perfeitamente da febre rubro-negra que se estabeleceu em Curitiba, das nossas cores estampando cada canto da cidade, do Furacão monopolizando as conversas e o compreensível desaparecimento da raça alviverde. Assim como lembro exatamente do frio na barriga que sentíamos antes de adentrar na Arena nos períodos de mata-mata e a catarse provocada pelos gols decisivos marcados por Alex Mineiro.

Pode parecer exagero, coisa de atleticano, ou a simples loucura causada pela iminente disputa da primeira estrela dourada, mas é preciso reconhecer que foi diferente. Não foi um campeonato normal, transcendeu, foi especial.

Naqueles momentos que antecederam a taça, parece que toda a vida do Atlético, desde o seu nascimento, estava sendo repassada diante dos nossos olhos. O Furacão que conhecíamos e que aprendemos a amar nas dificuldades já não seria mais o mesmo. Passaria de fase, daria um salto, definitivamente ingressaria na elite e na galeria dos grandes campeões.

Enfim, todos os componentes históricos conduziam àquele momento mágico e o coroavam: a essência de nossa torcida, os anos de descrédito, as vacas magras, as humilhações, a construção de um grupo, a entrega plena dos jogadores, isso sem esquecer que os tempos eram outros, era tudo na carne, a internet ainda não tinha tomado conta da nossa vida, não tínhamos acesso a tanta informação, e toda e qualquer mobilização acontecia de forma natural, por puro idealismo e amor.

Hoje fica fácil olharmos para trás e apontarmos aquele time como o eterno campeão, babarmos em cada uma daquelas peças, seja pela personificação da raça, o comandante genial e o ataque perfeito. Mas não foi fácil, porque mesmo com toda a expectativa que o Bicampeonato-Paranaense nos trouxe e uma sequência interessante no início do certame, a primeira etapa também foi marcada por instabilidades – principalmente quando se fez necessária a troca de técnico –, o que obviamente não nos permitia cogitar a conquista de algo tão importante.

De qualquer forma, tudo foi se encaixando como tinha que ser e o sonho foi tornando-se cada vez mais possível. O placar elástico no jogo contra o Bahia me rendeu uma esperança que até então não havia experimentado e mesmo os tropeços nos jogos seguintes não tiraram da gente a classificação para a segunda fase.

Quanto aos jogos épicos contra o São Paulo e o Fluminense, onde nasceram os mitos, só posso dizer que ainda hoje me fazem chorar e também contribuíram para que eu incluísse o Alex Mineiro nas minhas orações e na categoria de meu ídolo máximo do futebol.

Essa duas “finais” que enfrentamos e vencemos com maestria me deram a certeza de que ninguém tiraria o título da gente, por mais que o São Caetano viesse com tudo nós seríamos ainda melhores.

E eis que chega o dia de fazer o dever de casa com um cenário perfeito pra dar aquela ajuda: calor, céu de brigadeiro, um mar rubro-negro, nossa Baixada pulsante, a cerveja gelada calibrando o próximo grito, minha companheira de jogos ao meu lado e um time daqueles nos representando.

O jogo foi eletrizante, digno de uma final de campeonato, e quando o Gabiru sofreu aquele pênalti não deu pra conter o choro e a certeza. 4x2, dever cumprido! Definitivamente, não iríamos morrer na praia!

Foi isso, apesar do jogo complicado e com muita luta por parte das duas equipes, conseguimos superar o São Caetano e, ainda, construir uma certa tranquilidade para jogar no Anacleto. Duro foi suportar a ansiedade para a finalíssima...

Passei uma semana enrolada na bandeira do Atlético, cumpri todas as minhas superstições - principalmente a repetição exata da roupa que usei na partida anterior – e, no dia 23/12/2001 me reuni com os amigos para assistir ao jogo mais importante da nossa vida. E desse eu posso dizer que lembro muito pouco, alguns flashs, o gol, os gritos de campeão, a visão dos jogadores no alambrado e a comemoração que não teve fim.

O som dos fogos de artifício nunca foi tão audível, o vermelho e preto que já estava há mais de mês em todos os lugares conseguiu se tornar ainda mais resplandecente e a palavra CAMPEÃO nunca teve tanto sentido.

Cheguei em casa e o bandeirão do Atlético tomava conta da garagem. Após receber o abraço dos meus pais e aquela troca de olhares que só quem experimenta a maior conquista do time do coração entende, tentei assimilar a grandeza de tudo que havia acontecido. Em seguida, vi o meu pai - o principal responsável por essa minha paixão avassaladora - formalizar o título de um jeitinho bem peculiar: olhou para a árvore de Natal, arrancou a estrela cadente dourada do topo, cortou a “cauda” dela e a colou na nossa bandeira.

Dessa forma, acho que fomos os primeiros a ter uma bandeira do Furacão com a estrela de Campeão, mas certamente não fomos os primeiros a deixar de comemorar. Dormir? Acho que só consegui uns dois dias depois. Ressaca? Não tive!

Pois bem, resgatando essas lembranças tão especiais de 2001 - e que certamente se confundem com as recordações de muitos outros atleticanos - é que eu quero finalizar 2011, deixando para trás as tristezas e decepções, simplesmente porque o Atlético não é isso, temos sangue forte e precisamos manter em mente o que somos de verdade.

Vamos encarar esse 2012 de cabeça erguida e superar os desafios de uma série B fora de casa. Temos muito mais do que 2001 motivos pra isso...


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