Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Coisas do Atlético

11/02/2005


Lá vamos nós de novo. Com as mesmas dúvidas na cabeça de muitos. Com a mesma desconfiança, a mesma ansiedade. Novamente iniciamos a empreitada com protestos vindos das cadeiras da Arena. O mesmo muxoxo, o pessimismo de sempre.

É, deve ser realmente difícil administrar um clube de futebol da magnitude do Atlético com toda a cobrança e custos financeiros envolvidos. É difícil também para os torcedores, apaixonados, segurarem a ansiedade e o medo do fracasso, vendo tantas caras novas, na maioria incógnitas, chegando. Fala-se em desmanche, mas em 2002, não houve desmanche tampouco o deslanche do time, que foi um fracasso total. Mas lá vamos nós de novo, sofrendo as mesmas alfinetadas da parte ocra da imprensa paranaense, que antevê o desastre de maneira sensacionalista. Mas foi sempre assim que o Atlético fez o seu caminho, apostando. Acreditando em jovens valores do futebol, rapazes ainda com pouco nome ou nenhum, mas com talento. Aproveitando a também a formação caseira. As coisas vêm dando certo assim no Caju, mas fecha-se os olhos e alfineta-se assim mesmo.

De novo, a parte que praguejava contra Petraglia inicia seu passatempo favorito. Tem gente que fala até em decadência do modelo administrativo do Atlético. Mas nós estamos aí, vindo de uma brilhante campanha nacional, prestes a estrear em mais uma Libertadores. O Atlético está por cima. Mesmo assim, inventa-se motivos para choro, como em um funeral imaginário de todos os nossos sonhos. Para muita gente, tudo já foi por água abaixo. E para espairecer, descontam o pessimismo malhando o Judas de sempre, a diretoria. Os "monstros do mal" que venderam Jadson. Os "mercadores funestos" que só pensam no lucro. Esse papo é sonolento para mim, mas ele acontece, como nos últimos anos. Na verdade, é difícil segurar um jogador com uma proposta tão boa, a possibilidade dele acertar o seu futuro e o de sua família. Não era segredo que alguém seria vendido, era mais que previsível. O clube fica com uma parte desse dinheiro, que vai ajudar a pagar as contas ao longo de um oneroso ano de muitas competições. Das três negociações mais significativas, Rogério, Jadson e Ivan, o Atlético leva uma porcentagem longe do número total. Esse dinheiro, ainda é a principal fonte de renda dos clubes. Negociações são necessárias e comuns nos clubes do Brasil. Mas poucos têm a boa vontade de entender isto.

Temos aí o Fernandinho, o Evando e o Ticão, grata revelação, mais uma, para não perder o costume anual de revelar caras novas, chegaram os "importados" Maciel e Aloísio, e lá atrás competência com Cocito e jogadores que parecem que vão vingar, como o colombiano Marin e o panamenho Baloy, que não tem a deficiência na bola alta que tinha Marinho. Este, aliás, é motivo de choro por sua saída, mas é bom lembrar que suas falhas e baixa produção acarretaram em gols sofridos no Brasileiro, nos jogos contra Ponte Preta e Grêmio. A diretoria fez bem em não renovar, pois sua pedida deveria ser alta. Temos o Dênis, que revela não ser um Oséas melhorado, mas um Kleber melhorado, com presonalidade e futebol, mas sem o caráter dúbio do "Incendiário". E tem o Casemiro. Ele é um daqueles sujeitos que passam confiança e seriedade. Mas ele tem toda a desconfiança da maioria para "ajudá-lo".

Parece que desconfiar e ter medo é o jeito de muitos ainda enxergarem o Atlético, para depois dizerem um triunfante: "eu não disse?", "eu tinha razão". Tem muita gente acreditando também, mas com cautela, que é a melhor maneira de esperar o início de uma caminhada importante. Um mau resultado em Medellín será o suficiente para a "casa cair" na mente de parte da torcida. Mas depois desse jogo, teremos algumas semanas para acertar o time e depois um jogo em casa. Mas a vitória poderá vir já no primeiro jogo. E um empatezinho fora não seria mau. O Campeonato paranaense não serve como base para análise, não atiça os jogadores para atingirem o máximo como a Libertadores ou o Brasileiro. Eu acho que esse estorvo nem deveria ser disputado. Podemos perder jogadores em contusões devido aos toscos gramados e com violência de jogadores sem técnica, para no final, decidir com o Coritiba. Que preguiça.

Desconfianças, protestos, dúvidas, medo, mas também fé, esperança, paixão e vibração. Isso é coisa de clube grande. Isso é Atlético. Essa celeuma é rotina de quem ostenta grandiosidade. Tudo no Atlético vira assunto, vira discussão, vira briga, vira notícia, vira celebração. Como no passado recente, as pessoas desconfiam e vai lá o Atlético e empolga e disputa títulos, fazendo esse papinho de início de temporada virar vento. Todo mundo tem o direito de dizer o que quiser, mas ficar vaiando jogador, sentindo-se viúva de quem saiu, como a torcida que ridiculamente gritava o nome de quem foi para outros rumos, é no mínimo dispensável. Mas é isso aí. Coisa de clube grande. Coisa de Atlético. Vai ser assim ano a ano, todo o início de temporada. É difícil agradar a todos. O Coritiba tentou, com bombásticas e caras contratações. A torcida verde estava bastante confiante. Deu no que deu, um retumbante "mico". Prefiro esse jeito do Atlético. Parece que a gente se dá melhor quando entra desacreditado. Tomara que esse ano seja assim. De novo.


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