Jean Claude Lima

Jean Claude Lima, 56 anos, é publicitário e jornalista, sócio-proprietário da W3OL Comunicação Ltda. Compreende o fato de ser atleticano como uma complementação da sua própria existência e professa essa fé por todos os lugares do mundo onde já esteve ou estará. É pai de uma menininha, Mariana, que antes mesmo de nascer, já esteve no gramado da Arena, e agora de um menino, Rodolfo, batizado com uma camisa onde se lia "nasci atleticano".

 

 

A pimenta e o refresco

11/06/2011


Sempre evito citar diretamente o rival em minhas colunas. Porém, nessa semana isso se tornou praticamente impossível. Antes da final contra o Vasco, a ofensiva verde contra atleticanos esmagados no córner era muito grande. A confiança era absoluta e o título era questão de minutos. No meu coração vieram lembranças ainda recentes, da forte torcida deles a favor do São Paulo, quando fomos à final da Libertadores da América e, pasmem como o mundo dá voltas, a favor do mesmo Vasco da Gama, quando o bicampeonato brasileiro escorregou por entre os nossos dedos, depois de um miserável empate em Erechim, no Rio Grande do Sul. O campeão foi o Santos e nossos rivais vibraram e muito.

Ouvi todo tipo de argumentação, me acusando de ser um herege, por “não defender o futebol paranaense”. Até atleticanos muito mais radicais do que eu fizeram opção por esse discurso conciliador, declarando que torceriam a favor dos verdes, pois “torcer pelo Vasco” não dava. Confesso que não é agradável apoiar o time de São Januário em nenhuma ocasião, nem mesmo nessa. Mas mesmo sendo difícil, houve um momento de muita alegria quando o juiz apitou o final da partida. No meu bairro, um silêncio gritante em especial dos meus vizinhos, que receberam convidados para assistir ao jogo. Vi a saída do cortejo fúnebre, com meu coração explodindo de felicidade. Minha alegria foi despejada sobre o segurança da rua, que até agora não me dirige mais a palavra. Confesso que com ele exagerei na comemoração. Mas não há guerra sem vítimas e a minha acabou sendo ele.

Liguei para vários amigos atleticanos e eles, assim como eu, estavam despejando torpedos nos rivais e me relataram que a maior parte deles ou estava com o celular desligado, ou simplesmente não tinha condições psicológicas de responder, diante do tamanho da tragédia que acabara de acontecer diante deles. Para minha amiga Monique, cantei parabéns pois ela estava de aniversário e em pânico com medo de ganhar um presente de grego.

Decidi me embriagar sozinho, já que a ocasião exigia comemoração. Me abracei com um bom whisky irlandês Jameson e caminhei para o Facebook. Encontrei amigos como Paulinho e Alessandro, minha amiga Cláudia, dentre outros, que assim como eu estavam se divertindo muito, comemorando sem amarras não exatamente o título do Vasco, mas a derrocada do projeto Tóquio. É claro que o pobre goleiro dos verdes era a vítima preferencial das piadas, exatamente pelo sensacional frango que tomou durante a partida.

A minha tese é de que a conquista do título pelo Vasco, se não melhora de forma direta o ambiente no Atlético, acalma de algum jeito a fúria da torcida. No meu raciocínio doidão, ajuda até na presença de público no jogo contra o Flamengo e nas próximas partidas na Arena.

Defendo a rivalidade saudável e sem violência, sem máscaras e sem querer parecer legal e sem deixar de “tripudiar”. Quando o Furacão perde, já tive minha casa invadida por verdes, que vieram me azucrinar in-loco, sem que eu pudesse evitar. Eu os recebi numa boa e durante a invasão falei de tudo, menos de futebol. Filhos, viagens, novas tecnologias, vinho e o que mais minha capacidade de gerar novos assuntos conseguiu produzir naquele dia. Enfim, não tive “perdão” e por isso, não perdoei ninguém.

É claro que todos temos a plena consciência de que a coisa está muito feia para o nosso lado. Time sem confiança, torcida desconfiada, conselho dividido e muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que virão à público e delas saberemos. Podem existir outras questões das quais nem desconfiamos e das quais nunca nem ouviremos falar. Mas poderia ser pior se o Vasco não tivesse sido campeão.


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