Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Desânimo

30/05/2011


Já perdi namorada por causa do Atlético. Já tive discussões sérias em família por causa do clube, em especial no ano de 1988 quando a semi-final do Paranaense colocava o Atlético do zagueiro Adilson Batista frente o surpreendente Colorado do treinador Juarez Villela, no caso meu pai. Continuei torcendo pro Atlético que se classificou com um gol do veterano Assis, sendo eu repreendido e lembrado por isso na família durante anos.

Antecipei volta de Oktoberfest para ver o time vencer em casa o América-MG, assim como peguei ônibus levando mais de quatro horas para voltar do litoral em fim de feriado (enquanto a galera voltou a noite ou na madrugada seguinte curtindo mais um dia de sol) para ver o segundo tempo de uma partida qualquer. Não tenho carro, não tenho posses, mas entre viagens, camisa oficial e ingressos mais de R$ 1 mil com certeza se vão por ano somente para continuar com minha paixão. Não tenho cargo, não tenho interesse algum no Atlético senão o compromisso com minha paixão, com aquilo que gosto.

Em pouco mais de 25 anos que acompanho o Atlético e o seu dia a dia NUNCA havia “escolhido” faltar uma partida, ainda mais no final de semana. Tenho contabilizadas oito ausências, todas durante a semana e seis delas nos últimos três anos em que voltei às fileiras acadêmicas. Já fui ao jogo doente, já matei muita aula também, já pedi dinheiro emprestado pra amigos e mesmo pra desconhecidos pra poder entrar no jogo porque ir ao jogo além de um prazer sempre me foi uma missão, naquele que é forjado pelo sangue forte. NUNCA optei por faltar uma partida porque isso NUNCA me passou pela cabeça.

Por isso quero agradecer. Quero agradecer a omissão da direção do clube que largou o futebol ao Deus dará e conta muito mais com a sorte do que com competência. Agradecer ao elenco atleticano, haja vista a exceção do limitadíssimo Nieto que por ter humildade em saber de sua limitação é o único jogador com o qual o torcedor se sente representado de uns tempos pra cá, porque se não dá no jeito, vai na força, não dá colocado vai de bico, ele supera as dificuldades com muita vontade de acertar. Obrigado elenco atleticano, pela falta de garra e de vontade que transpassou para as arquibancadas e me fez ficar sem vontade de vê-los em campo.

E especialmente obrigado Adilson Batista. Graças a sua teimosia já traduzida na verdade para grande falta de inteligência em ver o óbvio, fiquei em casa com a família ontem e sequer ouvi o jogo, quando o resultado se tornou previsível ao ligar o rádio às 13h00 e ouvir o boletim esportivo que indicava nova formação covarde com três volantes estáticos dentro de casa contra um limitado e desfalcadíssimo Grêmio. Graças a isso Adilson só fui procurar algo quando já eram decorridos 30´do 2ª tempo e obviamente estávamos perdendo a partida, fato consumado definitivamente minutos depois.

Não só eu. O colunista Rogério Andrade fez ontem sua despedida, são menos quatro cadeiras a partir de hoje. Outro colunista Silvio Toaldo Junior não saiu de casa a assim vejo mais e mais amigos que não trocam mais qualquer outra coisa pelo Atlético. Edi Wilson, o mestre cervejeiro que esteve comigo em São Caetano do Sul há uma década comemorando nosso maior título também preferiu economizar seu smart ontem. Não estou me “separando” do Atlético, ele é que pediu divórcio de mim faz algum tempo mas eu teimava em não aceitar. Assim que o brilhante escriba e amigo pessoal Ricardo Campelo resolveu também “dar um tempo” de Atlético, já que a politicagem, a falta de compromisso de todos, em especial do bando de jogadores nos obrigava a rever um pouco as coisas e decidir pelo mal maior.

No intervalo da partida diante do Paranavaí em casa um senhor que depois me disse ter 85 anos bateu no meu ombro, perguntou se era eu “o moço lá da internet” e disse claramente : “filho, já vi times piores que esse, mas nunca um tão sem vontade, sem alma. Uma coisa é não ter condições de fazer nada melhor, outra é ter de tudo como eles tem hoje em dia e não fazer nada. Eu to quase desistindo.”

Ouvir isso de um senhor com quase a idade do clube, que passou por várias fases negras na história do clube, os grandes jejuns que passamos foi chocante. E vendo o que tem se visto há cinco anos, mas este ano em especial é de no mínimo passar a se refletir sobre o fato.

Triste, mas o desânimo que me toma neste momento achei que nunca aconteceria.

ARREMATE

“Só os ignorantes são felizes” - CAZUZA.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.