Alexandre Sugamosto

Alexandre Sugamosto e Silva, 39 anos, é produtor cultural e consultor. Vê o futebol como uma guerra estratégica e acredita que a heráldica atleticana deve ser motivo de temor e reverência por parte dos adversários. Adepto do jogo ofensivo, sonha em rever os dias gloriosos do Furacão das Américas.

 

 

Categorias de base

27/05/2011


Admiro muito o trabalho do jornalista Lúcio de Castro. Ele é formado em História e sempre busca dar uma visão mais ampla do futebol. Outro dia, lia algo sobre a evolução do futebol uruguaio, principalmente nas categorias inferiores, e sobre como estava sendo feito o acompanhamento dos garotos que estavam entrando no esporte. Iludidos e cheios de sonhos, eram logo orientados a prosseguir os estudos e não depositar todas as esperanças na carreira futebolística; carreira essa que, segundo as estatísticas, só daria oportunidade real para 1% deles. Interessado nessa eminente revolução, logo me lembrei do sucesso do Barcelona e de que Valdés, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Pedro e Messi são formados no próprio clube. Impossível também seria, sem querer me alongar nos exemplos, não pensar no Santos e a enxurrada de jovens jogadores que enchem os cofres, embora o time ainda tenha dívidas, e a sala de troféus do clube.

A linha de pensamento segue, naturalmente, para nosso clube. Recordo que há pouco tempo tínhamos uma base razoável. Revelávamos jogadores, ganhávamos coisas e movimentávamos dinheiro com isso. Logicamente, a realidade educacional de tais atletas segue a nua e rude brutalidade do país: jovens desinformados sobre suas chances reais e famílias que depositam toda sua esperança sobre um sonho em forma de cifras. No Atlético, o caso Manoel é elementar: pouco tempo atrás, o jovem jogador levou uma garota ao hotel onde o time estava concentrado. Foi multado. Não existem inocentes, mas a pergunta fica no ar: quem está orientando esses jogadores?

A lista de “dispensas”, rebaixamentos e empréstimos também não deixa dúvidas: segundo nossa comissão técnica, a maioria de nossos jovens atletas e supostas revelações não tem condições nem de jogar pelo time titular. Se esses jovens jogadores não estão aptos para o banco de reservas de um longo campeonato, quem dirá de despontarem como novas estrelas. Triste realidade que nos leva à seguinte ideia: por mais que montemos uma boa equipe para o campeonato e que consigamos um posicionamento digno no certame, o que será do time ao longo de um, dois anos? Viveremos sob a escravidão de ter que sair atrás de jogadores durante o campeonato todo?

O resultado será sempre um time “frankstein”: jogadores sem identificação, atletas emprestados e interessados em terminar a carreira em um clube que, ao menos, pague o salário em dia: somos o campeão do superávit.

Zico disse: “É gratificante ver tudo o que o Atlético tem feito ao futebol brasileiro. É um clube que, em tudo que disputar, tem que estar sempre no topo, pois ninguém oferece aos profissionais o que aqui é oferecido”. O que se passa então? Como bem disse a Michele Toardik, está se tornando difícil tirar da cabeça do torcedor a ideia de que está “tudo errado”.

Creio que os possíveis futuros gestores do clube devem pensar, seriamente, em todos esses fatores. A (r)evolução começa pela base.


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