Alexandre Sugamosto

Alexandre Sugamosto e Silva, 39 anos, é produtor cultural e consultor. Vê o futebol como uma guerra estratégica e acredita que a heráldica atleticana deve ser motivo de temor e reverência por parte dos adversários. Adepto do jogo ofensivo, sonha em rever os dias gloriosos do Furacão das Américas.

 

 

Espírito copeiro

06/05/2011


“Quem corre é a bola; senão era só fazer um time de batedores de carteira”
Neném Prancha

Apesar de minha idade, cresci lendo as antiqüíssimas revistas “Placar” e os maravilhosos livros com crônicas de Nelson Rodrigues e João Saldanha. Aqui e ali, pérolas futebolísticas, histórias inusitadas e muito sobre o folclore que perpetuou o futebol como esporte nacional. Com o passar dos anos, as crônicas ficaram um pouco mais chatas – a maioria perdeu seu caráter literário – e o desenrolar econômico do desporto, transformou a alegria das arquibancadas, no tempo onde os senhores de respeito usavam chapéu, em uma massa de sisudas feições.

Desse histórico surgiram derivações: o politicamente correto tomou conta do cenário, as frases de efeito – que até pouco tempo ainda existiam com Romário, Túlio etc – deixaram de existir e os “boleiros” perderam um pouco daquela irreverência. Os discursos prontos sobre o “professor”, “dar o melhor de si” e outras baboseiras afins, são facilmente substituídos pelas gordas cifras de qualquer mercado mais poderoso.

A Copa do Brasil é uma competição folclórica. Reunindo as diversas culturas nacionais, é famosa por elementos inusitados, estádios estranhos e zebras colossais. Para jogá-la, dizia eu, é necessário algo mais: um espírito de batalha e uma dose, uma boa dose, de controle emocional, domínio de jogo e estratégia. Estava assistindo o VT da contenda entre Cruzeiro x Once Caldas e me atentei à um fato interessante: alguns times da América do Sul ainda preservam esse espírito copeiro, folclórico. Personagens como Renteria são essenciais para a sobrevida do esporte. O time colombiano, aliás, deu mostras exatas de como fingir-se de morto para estrangular um adversário que vinha massacrando tudo e todos (fica o aprendizado para nossos conterrâneos). Os carboneros do Peñarol, por sua vez, demonstraram mais uma vez a raça uruguaia e desestabilizaram as chuteiras coloradas.

Agora, Atlético e Vasco. Escrevi uma análise tática para nosso portal e apontei algumas coisas que julguei relevantes. Claro que temos problemas técnicos, táticos e muitos outros – companheiros de site já se debruçaram sobre o tema -. No entanto, faltou malandragem ao time no jogo de quarta. Faltou aquele espírito estratégico, aguardar o momento certo, cozinhar o adversário. Nas poucas vezes que fomos eficientes, quisemos partir para a definição e, como conseqüência, fomos penalizados com dois gols infantis oriundos de bola nas costas da defesa e a tradicional “espirrada de taco”. Mais claro do que nunca é que precisamos de um lateral esquerdo, pois agora o Paulinho decidiu que além de não cruzar também não vai marcar o oponente. E o centroavante? Sofremos com a carência daquele poste que fica dentro da área catimbando, empurrando zagueiro, abrindo espaço, fazendo firula e, eventualmente, jogando de pivô e colocando a pelota pra dentro. O Lucas eu nem comento. Todo atleticano sabe que ele não dá pro gasto. Em minha simples opinião, acredito que temos uma solução gringa no banco: Nieto. Assim que o argentino sair do estaleiro, vamos colocar o grandalhão para trombar com a defesa vascaína, ter uma opção dentro da área e um referencial para jogo aéreo. Para reverter a terrível situação que estamos na Copinha, teremos que jogar mais, muito mais do que na quarta-feira.

Os jogadores hoje adoram dizer: “aqui é um time de homens”. Sem entrar em méritos de caráter e falando especificamente da falta de espírito copeiro demonstrada: ainda somos um time de crianças engatinhando.

A Yara e o gandula deram o tom: teremos uma batalha na colina.

Formação ideal

Para finalizar, e entregando a cara à tapa, vou dizer qual seria minha formação ideal para o Atlético no jogo de volta:

Um goleiro que tenha cancha, um beque central que não tire o pé, Manél, um lateral esquerdo que marque e saiba cruzar, Rômulo, Deivid, Paulo Roberto, Baier, Branquinho, Adaílton, Nieto.


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