Alexandre Sugamosto

Alexandre Sugamosto e Silva, 39 anos, é produtor cultural e consultor. Vê o futebol como uma guerra estratégica e acredita que a heráldica atleticana deve ser motivo de temor e reverência por parte dos adversários. Adepto do jogo ofensivo, sonha em rever os dias gloriosos do Furacão das Américas.

 

 

Ordenando o latifúndio

15/04/2011


"Campo de futebol não é loteamento. Ninguém é dono de lote, de posição fixa."
João Saldanha

Sempre existirão sérias discordâncias entre a torcida e seu técnico, por mais perfeito que seja o futebol apresentado. Das arquibancadas inflamadas, com a agitação geral da massa, é possível que ecoem vozes de contradição sobre esse ou aquele jogador: e, não raro, o coral de “burro” trina em uníssono. Contudo, a fase atual – da maré que para peixe não é propícia – nos permite comemorar o simples fato de adquirirmos algum padrão tático. Verdade seja dita: brasileiros não são adeptos de sistemas com três volantes! Quando pensamos que iremos jogar com três “brucutus” que terão o papel de proteger a defesa, o espírito da ofensividade nos invade e, subitamente, pensamos que há algo de podre no reinado da Bombaixada. “É um absurdo”, dizem alguns. “Não é o mesmo sistema que o anão Dunga usou no fracasso da Copa?”, dizem outros, ainda ressabiados.

O fato concreto é que nenhum sistema em si mesmo é capaz de ganhar ou perder um jogo. Dependeremos de uma série de fatores: da capacidade dos “brucutus” de observar a movimentação geral, erguer a cabeça e produzir uma saída de bola elegante, da habilidade de parar os adversários sem faltas – repercutindo em recuperação de bola e contra-ataque- e do senso tático de cada peça que está escalada. Ora, certamente não iremos adquirir isso da noite para o dia. Geninho teve algum tempo e o que aconteceu? Não vimos uma melhora sequer. Jogadores caindo de produção, sistema tático falho e confuso, equipe sem compactação, defesa exposta e assim por diante.

Adilson começou bem. Para o bem ou para o mal, determinou um padrão de jogo, está treinando dentro dessa ótica e alguns resultados são notáveis: adquirimos um senso coletivo interessante, alguns jogadores que vinham apresentando um futebol lastimável já melhoraram, Kléberson por exemplo, nossa defesa está se ajustando e os jogadores parecem ouvir o “professor”. Adilson, como especularam alguns, pode estar sendo “orientado” por Niehues? É possível. Eu já afirmei, em incontáveis ocasiões, que acho essa “comissão técnica permanente” uma verdadeira bobagem, uma forma velada de perpetuar erros passados, manter jogadores abaixo da crítica e evitar revoluções necessárias. Se a princípio a dita comissão serviria para “estabelecer um padrão tático e técnico contínuo”, podemos considerá-la um fracasso absoluto.

O que podemos esperar do novo técnico atleticano? Eu, particularmente, que suas convicções táticas não se sobreponham à realidade do campo e que, sobretudo, nosso time adquira padrão, mas não se torne engessado, excessivamente pragmático e robótico. Queremos um time com a raça e o espírito guerreiro que são estão em nosso DNA. Com o latifúndio em ordem, o primeiro e mais elementar dos passos, poderemos começar a acreditar em vôos mais ousados.


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