Silvio Rauth Filho

Silvio Rauth Filho, 50 anos, descobriu sua paixão pelo Atlético em um dia de 1983, quando assistiu, com mais 65 mil pessoas ao seu lado, ao massacre de um certo time que tinha um tal de Zico. Deste então, seu amor vem crescendo. Exerce a profissão de jornalista desde 1995 e, desde 1996, trabalha no Jornal do Estado. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2009.

 

 

Erros e acertos

19/11/2004


O ano não terminou e ainda faltam cinco jogos para o Atlético confirmar sua condição de melhor do Brasil. Mesmo assim, sinto-me à vontade para fazer uma análise do trabalho da diretoria do clube em 2004. Acompanhei o Rubro-Negro com certa profundidade neste ano - afinal esse é meu trabalho no Jornal do Estado e aqui, como colaborador do Furacão.com - e tenho certeza que este balanço será útil para o torcedor.

Os erros

1) O maior erro da diretoria em 2004 foi a briga desnecessária com a torcida. A saída mais simples seria colocar cadeiras em quase todo o estádio, fazer a tal setorização e estabelecer a tabela de preços que temos hoje. A diferença seria manter a curva da Fanáticos sem cadeiras, para que a torcida pudesse ficar ali com os instrumentos musicais, e manter um valor bem popular para esse setor (R$ 10, por exemplo). A maneira como a diretoria aumentou os preços criou uma crise desnecessária, que chegou a prejudicar o time. Se tivéssemos a força da torcida naquele fatídico jogo com o Figueirense é provável que hoje o Atlético estivesse cinco pontos à frente do Santos.

2) O segundo maior erro foi não aceitar a demissão de Mário Sérgio na semifinal do Campeonato Paranaense, logo após o empate com o Londrina. Naquele momento, a diretoria priorizou o Estadual e pediu para que o treinador continuasse até o final da competição. Não julgo aqui a qualidade do treinador, nem vou agir como comentarista de resultado e afirmar que um outro técnico evitaria a derrota para o Coritiba na final. Isso não tem a menor importância. Tenho a convicção que o Estadual só tem duas utilidades: preparar o time para o Brasileiro e classificar para a Copa do Brasil. Naquele momento, o melhor seria aceitar a demissão dele e trazer o comandante para o campeonato nacional, afinal o time já estava engrenado e a vaga para a Copa praticamente garantida - o Atlético só precisava de um empate na Arena, contra o patético Londrina, para assegurar a classificação. Creio que neste momento a diretoria pensou na festa de 80 anos e imaginou que um título estadual agradaria à torcida. Afinal, muitos torcedores ainda acham que o decadente Paranaense vale alguma coisa. O fato é que a saída de Mário Sérgio, a menos de uma semana da estréia no Brasileiro, deixou o time numa tremenda confusão. Aqueles dois primeiros jogos - e duas derrotas - têm a mesma importância dos cinco restantes. Afinal, todos valem três pontos.

3) Outra falha foi a lateral-direita. É verdade que o mercado está complicado e cada vez mais difícil encontrar um bom jogador dessa posição. Mesmo assim, em um ano tão importante, é um desperdício ficar improvisando o criativo Fernandinho na posição ou queimando o Raulen - uma promessa para o futuro próximo.

Os acertos

1) Washington, Marinho, Fabiano e Marcão. Excelentes contratações. Primeiro porque não foram caras, afinal Washington e Marinho estavam desacreditados e o Atlético deu uma oportunidade incrível para eles. Fabiano estava no ostracismo do campeonato japonês e Marcão, era apenas um rapaz esforçado do Juventude. Os quatro revelaram-se jogadores essenciais para o Atlético de 2004.

2) Levir Culpi. Tenho certeza que a contratação dele não foi fácil. É um treinador de primeiro escalão e disputado por clubes que costumam pagar fortunas (de R$ 100 mil mensais para cima). Levir conseguiu encaixar com perfeição as peças e, em muitos momentos, venceu com ousadia. Como exemplos, a vitória sobre o Fluminense, com um só zagueiro e três atacantes em campo, e a goleada sobre o Goiás (6x0) com o trio Ilan, Dagoberto e Washington massacrando o adversário.

3) Lio Evaristo. Ao colocar o ex-treinador dos juniores no time profissional o Atlético faz justiça a esse profissional, que está sendo preparado para um dia assumir a equipe principal. Lio está sendo trabalhado a longo prazo e, tenho certeza, dará um retorno excelente ao clube.

4) Preparação física. O regime militar instalado por Mário Sérgio lá no começo do ano, na pré-temporada, acabou dando resultado. Méritos também para a comissão técnica atual, que tem mantido a excelência do time no fator resistência.

5) Denis Marques. Foi um achado. O jogador foi contratado na hora certa e tornou-se importante para o time depois da contusão de Dagoberto.

6) PSTC. A diretoria continua de parabéns por manter a parceria com essa fonte de craques como Dagoberto, Jadson, Fernandinho e Alan Bahia.

7) Vendas. O Atlético soube negociar Ilan, Adriano e Alessandro no momento certo e, pelo que tudo indica, lucrar um bom dinheiro. Claro que todos poderiam ter saído antes, mas creio que a diretoria soube esperar a melhor oferta.

8) Arena. O estádio continua em condições excelentes, o que demonstra uma administração eficiente. O fator segurança também é digno de elogios, afinal o clube investiu pesado na vigilância (câmeras em todos os cantos). Sobre os episódios de objetos atirados em campo, a diretoria não tem culpa pela ignorância alheia. Aqueles que erram, estão sendo filmados e punidos.

9) CT do Caju. A diretoria começa ainda em 2004 a ampliação do Centro de Treinamento, que já é um exemplo para o futebol mundial e se tornará ainda mais invejável. A manutenção cuidadosa do local é também digna de elogios. Outra iniciativa positiva é a de transformar o CT em uma fonte de renda, locando para estrangeiros e arrecadando muitos dólares.


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