Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Rivalidade burra

16/11/2004


Está nos jornais. Está na boca do povo. Está nos sites de internet. Todo mundo fala sobre a vontade da torcida do Coritiba, manifestada em pesquisas e tudo: desejam que os jogadores de seu time "entreguem" o jogo contra o Santos, para de alguma forma prejudicar o Atlético. Eu já ouvi anedotas engraçadas, mas esta é de doer o estômago de tanto rir.

Eu gostaria de falar primeiro da parte engraçada dessa coisa toda. É o seguinte: quem disse que o Coritiba tem alguma chance de ganhar do Santos? Sem valorizar o time santista, que é certinho e tem bons jogadores, o Coritiba perderá o jogo porque é muito fraco. Perderá, como se diz na gíria do meio futebolístico, "ao natural". Temendo tomar um chocolate do Peixe, a torcida verde tenta fazer o resto do mundo acreditar que um revés seria proposital. Assim, teriam motivo para comemorar alguma coisa, algo que não fazem com freqüência no Campeonato Brasileiro. Cada um tem a comemoração que merece. Uns podem comemorar um bicampeonato. Outros, podem comemorar a vitória de um time de outro estado e a derrota de seu próprio. Este último caso, considero uma pobreza de espírito, mas não consigo deixar de me divertir muito com o assunto.

Mas quero falar também da parte lamentável da história: a rivalidade burra. Rivalidade burra é aquela que coloca a vida do rival em primeiro plano, em detrimento de sua própria. É quando o motivo da existência de um clube de futebol não é sua própria honra, mas a desonra do outro. Há algum tempo noto entristecido, que a razão de existir do Coritiba Foot Ball Club (assim mesmo, em inglês) é o Clube Atlético dos Paranaenses. Desde o episódio Cléber (quem?), aquele que roubaram da concentração do Atlético, isso ficou evidente. Também após a inauguração da Arena, quando, para dizer que também tinham um estádio bonito, deram algumas pinceladas de tinta verde sobre os tijolos aparentes do Couto Pereira, tentando disfarçar as rachaduras e as inflitrações. Quando ganhamos o nosso título com maior número de gols e pontos, em uma campanha impecável, colocaram um anúncio de página inteira dizendo que tinham sido campeões primeiro. Com saldo negativo e tudo, num dos campeonatos mais esquisitos da história. Ultimamente, comemoraram uma parceria com Juan Figer, coisa já ultrapassada no Atlético. Não veio ninguém mais do que um tal de Esmerode e a turma da enfermaria, deixando um rombo de milhões nas contas e não trazendo nenhum benefício ao clube.

Tudo bem, basta só lamentar. Durante algum tempo, tempos difíceis, a torcida atleticana também dava importância exagerada ao rival. Mas não me lembro de uma amostra tão grande de mediocridade. Torci para o Bangu em 85, mas não para a derrota do meu time. É contra a minha religião. A derrota do Atlético para o Criciúma por 2 a 1 em 1996, foi um caso à parte. Não pode ser considerada. Foi para corrigir uma injustiça, uma violência sanguinária e fazer aquilo que quase todo o Basil queria: a queda do Fluminense à Segunda Divisão. Mas cada religião tem os seus rituais. A religião verde-e-branca do Paraná tem os seus. Um deles é torcer para a derrota de seu próprio time. Será que eles não vêem que mesmo com uma vitória santista o Furacão não será prejudicado? Dependemos apenas de nós mesmos e assim seguiremos no campeonato, pois nossos guerreiros já provaram que são fortes, não se entregam e recuperaram totalmente o foco. É este o problema da torcida coxa-branca: medo. Estão sob o domínio do medo.

Acredito que uma rivalidade inteligente é aquela em que o torcedor dá uma "secada" no adversário, tira sarro dos seus amigos que torcem para o rival, aquela que faz a gente sair de camisa do nosso time na segunda-feira após uma vitória em um clássico. É coisa de torcedor. No Coritiba, extrapolaram-se as barreiras da arquibancada e até dirigentes já entraram na onda de sua torcida, e, em um passado recente, proferiram bravatas rancorosas em vespera de decisão. Quem não lembra das atitudes e palavras pequenas de Domingos Moro na época do Campeonato Paranaense? Hoje, postulando uma cadeira representativa no Clube dos Treze, enaltece o Atlético e o bem que faria uma conquista Rubro-negra ao futebol do Paraná. Acho que a torcida coritibana deveria fazer o mesmo e apoiar seu ex-dirigente. Pelo menos, se um representante verde conseguisse algum destaque no futebol nacional, seria bom para o Coritiba. Destaque e respeito que Mário Celso Petraglia já conseguiu há muito tempo.

O futebol paranaense tem muito a ganhar com o título do Atlético, mas não tem nada a ganhar com a pequeneza e a mediocridade que se instalou em um clube com tradições e conquistas como é o Coritiba. A história do Atlético não seria tão bonita se não tivesse nela a participacão verde. Mais do que nunca, em épocas em que sofremos com o "lobby" paulista, seria bom o título do Atlético e até mesmo a permanência do Paraná Clube na Primeira Divisão. Não peço para que nenhum coxa torça para a gente, muito pelo contrário, sou contra a hipocrisia. Mas que torçam por eles mesmos, que almejem uma posição mais honrosa este ano. Que torçam para pagar as dívidas, que torçam para não ter mais suas rendas embargadas pela justiça. Que busquem ter um presidente melhor, não um investigado por falcatruas. Que almejem ter mais estrutura, que torçam para que em suas categorias de base apareçam Jadsons, Dagobertos. Que torçam pela grandeza e pela vitória. Assim todos ganham. O Atlético volta a ter um rival, e o Coritiba, um ideal. Acho que é isto que falta para os coxas, sua torcida e dirigentes: um ideal.


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