Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Bola atleticana

28/10/2004


Quatro rodadas sem vitória, e boa parte da torcida já começou a arrancar os cabelos. O clima de otimismo vai sendo substituído por uma revolta geral, e pela costumeira "caça às bruxas". Muita gente falando muita coisa, mas reparei que a maioria escolhe um culpado (desde o Levir até o STJD) e imputa a ele toda a carga por esta má fase.

Entendo que a queda de rendimento passa por vários motivos. Durante o campeonato, eu sempre achei que faltava um pouco mais para disputarmos o título. O time me provou que poderia estar no topo, mas começa a expor algumas fragilidades. Na minha opinião, todavia, nossos problemas, que passo a enumerar, podem ser perfeitamente resolvidos.

1) Arbitragem

A imprensa, e até alguns torcedores, gostam de dizer que o Levir é "chorão", que reclama demais da arbitragem. Mas pergunto: suas reclamações são infundadas? De maneira nenhuma! Acho até que vem reclamando pouco, diante dos absurdos que vêm acontecendo. Tudo começou contra o Atlético-MG, na Baixada, quando o juiz veio pronto para nos prejudicar, invertendo faltas desde o início do jogo. Mudou de idéia quando viu que não teria jeito de frear a superioridade do Atlético sobre os mineiros. Continuou em Caxias do Sul, quando o árbitro inventou um pênalti e vários cartões que mudaram o curso do jogo.

Contra o Paraná, o bandeira impediu que Fernandinho, em condição legal e de frente para o goleiro, fizesse 2 a 0 e matasse o jogo. Já o juiz Paulo César Oliveira inventou várias faltas para o Paraná - uma delas originou a jogada em que Bruno Lança marcou o gol contra. Depois, contra o Palmeiras, com o placar em 2 x 1, um pênalti claro sobre Washington não foi marcado, isso em razão de o comentarista Neto achar que "o Atlético tem pênalti demais" e alardear isso o tempo todo. Agora, contra o Goiás, o afetado árbitro da partida, um projeto de Margarida, deixou o time da casa bater à vontade, só mostrando um cartão amarelo perto do final da partida. Já o Atlético teve faltas leves de Marinho e Marcão punidas com cartão amarelo (por sinal, os dois estão pendurados e certamente desfalcarão o time ao longo das próximas rodadas).

Concordo que o time não vem bem, mas pergunto: o Levir está errado em reclamar da arbitragem???

A propósito, gostaria que o pessoal da imprensa "do eixo" falasse sobre o pênalti não marcado em favor do Flamengo contra o Santos.

2) STJD

Um verdadeiro absurdo a punição que o Atlético sofreu pelo STJD. Enquanto um clube com caso de garrafa atirada no gramado foi punido com apenas um jogo de suspensão, e ainda obteve efeito suspensivo para postergar seu cumprimento; enquanto a bomba jogada em campo (primeiro julgamento do Santos) rendeu apenas um jogo de suspensão; enquanto há clubes que sequer irão a julgamento, mesmo oferecendo estádios com muito menos segurança e proteção do que o Atlético; os papeis jogados no campo da Baixada geraram uma punição de dois jogos, e efeito suspensivo indeferido! É uma falta de critério sem tamanho, coisa que só vemos no Brasil mesmo.

Agora, uma coisa precisa ser dita. A essência destas punições é correta. Não se pode admitir que torcedores energúmenos não se contentem com seu papel secundário de assistir ao jogo e queiram interferir jogando objetos ou que quer que seja no gramado. Isso é um absurdo, também. No ano passado, sofremos uma punição por este mesmo motivo. Mas parece que o pessoal pensava que era mera perseguição e não aprendeu a lição. Resultado: nosso título está em cheque em razão disto. É a segunda oportunidade de aprendermos a lição... ou teremos que colocar alambrados de vidro como acontece em La Bombonera?

Enfim, acho que isto tudo abalou o elenco e afetou o futebol do time, sim. Resta saber se a idéia da diretoria, de jogar em Goiânia contra o Inter, vai dar certo. Espero que sim.

3) Maré de azar

Não sou supersticioso, mas não se pode negar que a sorte, que ajudou o Atlético em algumas partidas, parece definitivamente ter mudado de lado. Do Palmeiras, levamos dois gols em chutes cuja probabilidade de acerto era muito baixa, com todo respeito aos jogadores. O mesmo se diga do primeiro gol do Goiás.

Mas a grande má-sorte foi a contusão de Dagoberto. Quem imaginaria que perderíamos um dos nossos jogadores mais importantes justamente na reta final do campeonato? Acho que Dênis Marques é um bom jogador, mas possui características diferentes das do titular da posição. Pode evoluir, se tiver mais calma e souber jogar levantando a cabeça para visualizar os companheiros. Mas Dagoberto alia, como ninguém, velocidade e habilidade, mistura cujo resultado eram contra-ataques letais, responsáveis por grande parte das nossas vitórias - em especial fora de casa (Cruzeiro, Vitória, etc.). Sua saída da equipe foi um abacaxi para Levir descascar, pois demandou alterações profundas no esquema tático atleticano. E ainda tem casca sobrando, como vimos nos últimos jogos.

4) Esquema tático

Embora não concordar com o excramento que alguns estão impondo ao Levir, acho que nosso esquema tático também tem sua parte nesta queda de rendimento. Acho errada a insistência com William, que, apesar de ter raça, não é bom jogador. Também achei errado o recuo do time contra Juventude e Paraná, quando não conseguimos segurar a vitória. Em ambos os casos, estávamos sofrendo pressão e tínhamos campo aberto para buscar algum contra-ataque. Morais, uma boa opção, foi ignorado. E acho que se o meia não conseguisse criar boas jogadas nestas situações, não conseguirá nunca. Faltou ao Levir confiar no jogador, que, no mínimo, seguraria a bola no ataque e diminuiria a pressão do adversário pelo empate.

Por fim, mostrou-se mal sucedido o deslocamento de Fernandinho para o meio-campo - se bem que, vale lembrar, esta era uma reivindicação de muitos dos palpiteiros de plantão. O fato é que Fernando foi bem jogando no meio contra o Juventude, quando ocupou o lugar de Jádson - ou seja, foi um "meia ofensivo". Jogando praticamente como segundo volante, nas partidas contra Paraná, Palmeiras e Goiás, não deu certo. Além de ter fragilizado a marcação (vide o primeiro gol do Goiás, quando Fernando não deu o combate necessário ao jogador), o time ficou paupérrimo em jogadas pelas lateraia (Ronildo foi mal contra o Palmeiras e Ivan não voltou bem contra o Goiás), concentrando as jogadas pelo meio, tornando-se previsível e facilmente anulável.

O caminho para reencontrarmos as vitórias passa, necessariamente, por aprimoramentos no esquema tático, principalmente com variações de jogadas. De preferência, sem depender ofensivamente de Raulen e William.

Bola no chão

O que o Atlético precisa é colocar a bola no chão. Dar uma acalmada na situação - e, por este ângulo, admito que pode ser proveitoso o refúgio em Goiás. O time tem que ter consciência das suas limitações, avaliar os erros, mas, principalmente, acreditar que o título é possível. Mesmo porque, se de um lado o Furacão anda devendo, a turma do Clero (Santos, São Paulo, São Caetano...) também não está jogando tudo isso, não. E os nossos últimos dois jogos, sabidamente, seriam os mais difíceis desta reta final, pelo que as derrotas não devem ser apocalípticas.

Precisamos ter em mente que, ao começo do campeonato, até mesmo a conquista de uma vaga para a Libertadores parecia um sonho inalcansável. Hoje, lamentamos por ter perdido a liderança para o Santos em virtude do critério de desempate (número de vitórias). Então, vamos colocar a bola no chão. Objetivar o título, esperando que um eventual insucesso deixe de consolo uma vaga para disputar a Libertadores do ano que vem, pensando em repetir a campanha de 2000 (primeira e única vez na história em que um time paranaense disputou a segunda fase de um torneio internacional).


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.