André

André, 46 anos, é jornalista. Não abre mão de ser dono do seu Atlético. Vibrou quando o Fião matou no peito aquela bola que ia entrar e saiu jogando com categoria. Abraçou o Vivinho na goleada contra o Cascavel e, diariamente, reza por Alex Mineiro. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2005.

 

 

O meu Atlético

05/10/2004


Então, lá vamos nós. Ou melhor, lá vou eu. Afinal, esse negócio de “nós”, o grupo, a gente, nós isso, nós aquilo, é coisa de jogador do futebol, faz parte do assunto, mas deixemos de lado. Se a responsabilidade pelo conteúdo desta coluna é exclusivamente minha, e o que eu escreverei aqui não expressa necessariamente a opinião dos integrantes do site Furacao.com, que eu assuma o espaço com categoria e personalidade. E dessa forma, embora eu estivesse a ponto de partir pra cima, lembrei que é a minha estréia, que a camisa pesa sim, e que eu devo posar para os fotógrafos e cinegrafistas beijando o escudo Rubro-Negro. Portanto, vamos ao tradicional ritual de apresentação.

Meu nome é André, tenho 25 anos e sou jornalista. E embora sirva como referência, nada disso interessa. O que realmente importa aqui é o Atlético. E garanto a vocês, eu manjo do Atlético. Manjo sim, manjo muito. Pretensão? Que nada, posso provar pra vocês. Eu manjo tanto por que simplesmente o Atlético é meu. Eu lembro bem, meu pai me deu quando eu era pequeno e, desde então, onde quer que eu esteja o Atlético está ao meu lado. Batendo bola, ouvindo rádio, vendo televisão, jogando botão, lendo, andando de ônibus, dirigindo, na aula, dormindo, trabalhando, viajando etc. E é desse Atlético, do meu time, que eu pretendo falar a respeito neste espaço.

Quero falar sobre o clube que, vá lá, eu reconheço, é de muita gente, mas que ao mesmo tempo pertence apenas a mim. Não estarei aqui para escrever sobre a equipe que encanta o Brasil atualmente e que me empolga a cada jogo. Certamente, o desempenho do Furacão no Brasileiro, a qualidade de nossos jogadores, e os demais assuntos do dia-a-dia do clube serão abordados em ótimos textos dos demais colunistas.

O que me encanta é tratar do time que me fez cruzar a cidade a pé ao lado de um amigo, com um mapa de Curitiba e dois pacotes de bolacha numa mochila, numa idade que eu sequer sabia amarrar o tênis, para conhecer a tal Baixada, misterioso e mágico estádio desativado do meu Atlético. Sobre a energia indescritível que eu senti ao avistar finalmente as arquibancadas de tijolinho, depois de quase duas horas de caminhada. Um estádio tomado pelo mato, maltratado pelo abandono, mas que aos meus olhos transformou-se num lindo paraíso em meio a bolachas, o medo de estar longe de casa e a realização de um sonho.

Embora eu tenha apenas 25 anos, muito pouco diante de 80 anos de história, são muitas as experiências que passei ao lado desse meu Atlético. Situações que eu vivi, sonhos que eu tive e que aos poucos revelarei aqui. Através da minha visão particular do Atlético em todas essas experiências, espero atender aos interesses de todos os torcedores que também tem essa paixão pelo Rubro-Negro e gostam de compartilhar histórias sobre esse amor. E que, obviamente, possuem, cada um a sua maneira, o seu Atlético inteiramente particular.

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Como o momento é extremamente propício, e o intervalo entre as colunas é grande, aproveito para adiantar alguma coisa. Com o Atlético cada vez mais forte na briga pelo título de 2004, podemos considerar que a nossa terceira participação na Copa Libertadores da América, ano que vem, está mais do que encaminhada. E é justamente a respeito de um momento na primeira oportunidade do Atlético na Libertadores, em 2000, que eu quero tratar.

Viciado em futebol desde pequeno, passei os anos 90 acompanhando de perto o desempenho dos clubes brasileiros nessa disputa internacional. Os jogos acirrados e sempre decisivos, a catimba dos adversários, estádios lotados e os bons momentos das equipes brasileiras na competição eram ingredientes mais do que suficientes para não desgrudar os olhos das partidas na Libertadores.

Uma década em que a TV Bandeirantes vivia seu momento de glória na cobertura esportiva. Contando com o maior e melhor rol de atrações, além da excelente equipe capitaneada pelo consagrado locutor Luciano do Valle. A atual Band fez história ao transmitir as campanhas vitoriosas de São Paulo, Grêmio, Vasco e Palmeiras no torneio continental.

Com a voz afiada, grande técnica e disposição invejável para a narração, Luciano do Valle deixava arrepiados os apaixonados por futebol em suas transmissões. Dono de um estilo inconfundível, o locutor se notabilizou por transformar qualquer jogo num confronto de alta tensão, sem nunca abusar dos bordões espalhafatosos comuns na narração do futebol. Nas transmissões em questão, a frase “tal time é o Brasil na Libertadores” se destacava, contagiando até aqueles que não torciam para a equipe em campo, motivados pelo patriotismo sincero do narrador.

Agora, o que dizer então quando o meu Atlético pisava o gramado disputando a Libertadores? Algo absolutamente inimaginável pouco tempo antes, estava prestes a se tornar realidade. Após 10 anos ligado nas bem sucedidas aventuras brasileiras pela América Latina, através da voz de Luciano do Valle, era chegada a hora do meu time ser encaixado naquela frase famosa. Ligar a TV na Bandeirantes e ouvir explodir nas caixas de som “o Furacão é o Brasil na Libertadores” foi simplesmente fantástico e inesquecível.

A realização completa de um sonho particular que certamente comoveu toda a torcida Rubro-Negra. Primeiro, com a estréia do Atlético na Libertadores, aplicando um incontestável 3 a 0 sobre o Alianza Lima no Peru. Depois, a alegria de saber que o Brasil inteiro assistiu pela tela da Bandeirantes o massacre conduzido pelos pés maravilhosos de Adriano, Kelly, Lucas e Kleber. E por fim, a emoção de ouvir que o Furacão era o Brasil na Libertadores na voz de Luciano do Valle. Um momento que entrou definitivamente para a história do meu Atlético.


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