Ana Flávia Weidman

Ana Flávia Ribeiro Weidman, 41 anos, é servidora pública federal e já veio ao mundo comemorando uma vitória rubro-negra. É perdidamente apaixonada pelo Furacão e fica com os olhos marejados toda vez que vê o time entrando em campo e ouve os primeiros acordes do hino atleticano!

 

 

Desabafo

20/07/2010


Peço licença a você leitor, para falar de um, dentre tantos tipos de torcedores atleticanos. Aquele torcedor que é sócio. Há muito tempo. Que só compra produtos na loja oficial. Que chega cedo na Arena nos dias de jogos e é obrigado a pedir refrigerante para acompanhar o pão com bolinho porque a cervejinha foi banida do estádio. Que grita e chora pelo Furacão. Que acredita, que nunca perde as esperanças, que apoia sempre e que não vaia quem veste a camisa rubro-negra. Que procura incentivar e caminhar lado a lado com o Atlético. Que tenta ser realista e não espera contratações milionárias. Mas também não se conforma com covardia. Esse torcedor também perde a paciência, desconfia dos reforços “consagrados”, fica louco de bravo, fala que vai cancelar o plano de sócio e logo depois se arrepende, fala mal de todos, do presidente ao massagista, chuta a parede e promete que vai dar um tempo no futebol. Depois de alguns minutos, esquece tudo e só pensa no próximo jogo, na melhor formação tática e começa a fazer todas as contas possíveis analisando a tabela.

Deixe-me falar de mim.

No sábado, dia da cirurgia sofrida pelo Atlético em São Januário, nem pensei na partida. Meu sexto sentido já dizia que não viria coisa boa. Resolvi então passar o final de semana inteirinho fazendo algo que, atualmente, me dá prazer: assistir a última temporada de 24 horas! Entre um episódio e outro fui dar uma olhada no jogo, afinal, bem lá no fundo eu me perguntava como estariam os 11 guerreiros rubro-negros. E a decepção não demorou a vir: não eram 11, eram 9 em campo. E nós já estávamos perdendo por 2 X 0.

Por que eu fui inventar de mudar o canal? Por vezes, a ignorância é a chave para a felicidade. Fiquei me perguntando e ainda não encontrei as respostas: o que foi que fizemos durante a parada para a Copa do Mundo? Por que colocamos em campo contra o Cruzeiro um time que não tinha feito um treino sequer juntos? Como podemos estar piores do que antes? Juro que não consigo entender. Uma tristeza e um desânimo profundo tomaram conta de mim. O time precisa mostrar que pode entregar algo diferente da vergonha que tem apresentado até agora. Temo que os reforços “internacionais” sejam queimados pela minha impaciência e pela falta de tempo para o time engrenar. Acontece que não podemos mais perder pontos. Ganhar em casa é obrigação. Só que esse nosso time de várzea (para usar a expressão do Paulo Perussolo) não aguenta pressão. Não vai demorar e começará a mesma ladainha de sempre, a lenda de que jogar na Arena é um problema para os mais novos, que a torcida pega no pé dos jogadores, não tem paciência, etc. Até nas desculpas esse time é previsível. Sinto-me angustiada por não poder fazer algo mais incisivo pelo Atlético. Posso criticar com o objetivo de apontar alternativas, posso incentivar, posso estimular outros torcedores. Mas, infelizmente, não depende de mim as mudanças significativas. Depende do homem que escolheu presidir o clube, do homem que aceitou treinar esse time e dos homens que entram em campo. De fato, são eles que decidem.

O amor não acaba nunca. Mas ele perde um pouco do seu brilho e do seu encanto. O Atlético tem feito isso com o seu torcedor. Não só eu, com minhas manias e meu jeito de lidar com essa paixão, mas todos os atleticanos estão desapontados. Desde o mais otimista até aquele que parece torcer contra, todos estamos sacudos. Comparecemos na Baixada, pois está é a nossa missão. Mas eu mesma quero voltar a sair de casa empolgada, fazendo aposta com o porteiro do prédio e na expectativa de voltarmos a protagonizar grandes jogos. Quero voltar a sentir o prazer de comemorar um gol incrível, de vibrar com meus colegas atleticanos e como uns malucos, dar aquele abraço coletivo que derruba o celular, bagunça o cabelo e deixa o rosto todo vermelho. Você, amigo leitor, sabe bem do que estou falando. Quero voltar a sentir todas as emoções que o Atlético já me proporcionou um dia.


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