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Jean Claude Lima
Jean Claude Lima, 57 anos, é publicitário e jornalista, sócio-proprietário da W3OL Comunicação Ltda. Compreende o fato de ser atleticano como uma complementação da sua própria existência e professa essa fé por todos os lugares do mundo onde já esteve ou estará. É pai de uma menininha, Mariana, que antes mesmo de nascer, já esteve no gramado da Arena, e agora de um menino, Rodolfo, batizado com uma camisa onde se lia "nasci atleticano".
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Toca o telefone e Don Diego olha para o aparelho desanimado. Não estava com vontade de falar com ninguém. Só imaginava a volta para Buenos Aires e com tudo que ainda estava por acontecer, não bastando a derrota por quatro a zero para a Alemanha. Mas o telefone berrava, berrava, como se gritasse e ele resolveu olhar para o visor. E lá estava escrito um nome, que ele próprio se surpreendeu: Dunga.
E agora? Pensou em voz alta. Atendo ou não?
Aquele breve momento demorou uma eternidade. Resolveu atender.
_Diga-me, disse Don Diego.
_Sou eu Diego, o Dunga...
_ Sim, eu sei, vi aqui no visor do meu telefone.
_ Sei que a hora é imprópria... Gostaria de emprestar a minha solidariedade, te oferecer umas vagas aqui em nosso avião para a viagem de volta e ainda te agradecer.
Don Diego ficou um tanto indignado com os “agradecimentos”. Não sabia exatamente do que o brasileiro falava, e por si só a ligação parecia um deboche. Que abusado esse Dunga. Lembrou rapidamente que ele mereceu a água batizada. Ficou por um instante em dúvida se desligava ou não. Resolveu levar a conversa adiante
_ Temos o nosso próprio avião. Não será preciso utilizar o vôo de vocês. Aliás, vocês já deviam estar no Brasil. Mas pelo que você me agradece?
_ Se vocês tivessem ganho a Copa, eu estaria para sempre destruído no Brasil. Sei que você não quiser perder o jogo, e que esse agradecimento é estranho. Mas podemos nos ajudar nessa hora de desgraça. Você daí critica o meu modelo de preparação. Eu daqui critico o seu.
Dunga parecia feliz com a eliminação da Argentina. Don Diego pensou em encerrar a conversa o tempo todo. Mas prosseguiu:
_ É sério que você acredita que isso vai funcionar?
_ É sério Diego. Nenhum jornalista vai poder falar nada. Vocês não ganharam e nós também não. Portanto, está tudo certo!
_ Bem, esse é o acordo mais idiota que vou fazer em toda minha carreira... ops, em toda a minha trajetória. Mas a proposta parece interessante.
_ Pense, pense, pense... imagine o que estão falando agora, os seus desafetos da imprensa. Eu tenho vários aqui e sei bem como é!
_ Nem me fale...
_ Pois é. Poderíamos marcar uma conversa aí em Buenos Aires...
_ Não, não, aqui não vai dar. Será impossível sair na rua.
_ Pois é. Aqui também não está legal.
_ Que tal Cuba?
_ Para mim está ótimo!
_ Quando?
_ Acho que podemos ir já.
_ Então vamos. Não estou querendo andar pelas ruas.
E assim, dois campeões mundiais selaram um acordo, depois de ver e ouvir vários comentaristas decretarem a morte do futebol europeu, que ressuscitou exatamente contra suas equipes, de se encontrar em uma praia maravilhosa de Cuba. E nós que acreditamos neles, ficamos a ver navios. Acabou para os exportadores de craques, a Copa do Mundo de 2010.
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