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Paulo Perussolo
Paulo Roberto Perussolo, 36 anos, é estudante de Direito. Seguindo a tradição da família, acompanha o Furacão desde a infância, tornando-se cada vez mais fanático. Considera o Atlético mais do que um clube de futebol, um dos grandes amores de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2010 e 2011.
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Copa na Baixada
21/06/2010
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O Atlético ganha, perde, ou não ganha nem perde com a realização – ou não – de jogos da Copa 2014 na Arena? Há os que digam que não só deixaremos de ganhar, como perderemos, cairemos no ostracismo, mas há os que rebatem dizendo que pro clube em si a Copa não é lá essas coisas, é bom pra cidade, pro estado, e quem menos ganha é o clube. Como saber exatamente quem tem razão?
Dizer que a Copa do Mundo não agrega nada a um clube que cede seu estádio para a realização dos jogos me parece equivocado. No caso do Atlético, mais do que a visibilidade, ganharíamos a Arena concluída em um padrão de qualidade muito acima do que estamos acostumados, e olha que já temos o estádio mais moderno do Brasil.
É muito complexo conceber com precisão as vantagens financeiras para o clube, uma consultoria especializada talvez possa apresentar um prognóstico, uma tendência, uma presunção, mas não pode afirmar com certeza o benefício aos cofres do Atlético Paranaense. Ainda assim acredito que o bônus é maior que o ônus e, portanto, respondendo a indagação inicial, o Furacão ganha com a realização de jogos da Copa na Arena.
Até aí tudo bem, tudo muito bonito, visibilidade, estádio concluído com todo conforto e modernidade para mais de quarenta mil torcedores, o orgulho de dizer que a Baixada sediou jogos do maior evento esportivo do mundo, mas quem é que banca os noventa e poucos milhões de reais (contando com as isenções fiscais) para a reforma e conclusão da Arena?
O clube se comprometeu a pagar um terço desse montante, todos sabiam isso desde o princípio. Jamais ouvimos um dirigente atleticano prometendo que o Atlético bancaria 100% desse valor, o presidente do clube assinou matriz de responsabilidades em conjunto com o ex-governador do Paraná e o ex-prefeito de Curitiba; o Atlético não é – e nem pode ser – responsável pela integralidade dos custos da conclusão do estádio.
Assumindo uma dívida no valor integral das obras de reforma e conclusão, o clube passa a ter um ônus não só maior do que o bônus, mas que vai além de suas possibilidades financeiras. A prefeitura apresentou o projeto do Potencial Construtivo para o Atlético, recusado por unanimidade pelo Conselho Deliberativo. Recusado por ter sido apresentado como solução única para financiamento da obra, o que é inviável, dito isso por consultoria ou não. Basta analisar quanto a prefeitura de Curitiba arrecadou com o Potencial Construtivo nos últimos anos, considerar que o Atlético é um clube de futebol e não tem know-how para negociar no ramo, introduzir os juros de financiamento e perceber que a equação não fecha, o clube não pode pagar.
Como solução complementar, a idéia é boa, tanto é que o clube explicitou que está aberto a novas propostas, nos moldes em que foi proposta, no entanto, é insuficiente. Dizem que o clube foi incompetente por não ter encontrado um meio para viabilizar a construção do estádio nos moldes da FIFA. A princípio eu também partiria para este raciocínio, mas observando que o São Paulo Futebol Clube, com seu poderio financeiro, sediado na cidade de São Paulo, maior centro financeiro da América Latina, não encontrou essa fórmula mágica, por comparação acredito que não seja assim tão fácil, não é?
Por que todos jogam a responsabilidade nos ombros do Atlético? O Poder Público não assinou uma matriz de responsabilidades, comprometendo-se a adequar a Arena para receber os jogos da Copa 2014 nos valores que superassem os 30 milhões garantidos pelo clube? Lógico que o clube, sabendo dos benefícios que o evento trará, também deve procurar as soluções, e até onde sei trabalhou para isso, sem sucesso. Investidores privados com certeza não faltaram, mas o que um investidor busca? O lucro, por óbvio.
Pela Copa do Mundo, valeria a pena então deixar que um investidor conclua a nossa Arena e em troca explore as lojas, estacionamento, camarotes, renda (ou parte dela) por 20, 30 anos? Pra mim isso é “vender a alma ao diabo”, coisa que definitivamente o Atlético não precisa. Fora esta solução, há alguma outra?
Se alguém tem uma solução viável, que não onere o clube além do que pode pagar, que seja capaz de tornar o sonho da Copa uma realidade, que a apresente, execute. Nos moldes propostos até agora, dada a incerteza das vantagens financeiras que o clube poderá obter com a Copa do Mundo, não se sabe nem se poderemos arcar com as parcelas de um financiamento; não podemos colocar o patrimônio do Atlético em risco.
Ou o Poder Público resolve trabalhar para não perder os investimentos (estes certos) que receberão Curitiba e o Estado do Paraná, infinitamente superiores ao investimento na Arena da Baixada, ou aparece outra solução mágica, ou então a Copa não será realizada em Curitiba. O Atlético poderá até perder, mas quem perde de verdade é o município, quem perde é o estado. A Copa não é do Atlético Paranaense, é de Curitiba, é do Paraná, é de todos nós.
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