Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Que tal essa?

11/06/2010


Passa um carro. O cusco, indignado com a súbita invasão de território, acua, corre e ladra desesperadamente, em um esforço sobrecanino para capturar o grande, rápido e feroz animal roncador. O dono do auto pisa forte no freio, sente medo de atropelar o infeliz. Aí o cusco para também. Já não sabe mais o que fazer. E volta para a casinha.

É o que fez o Atlético. Alardeou a próxima Copa do Mundo de Futebol, exibiu a majestosa Arena da Baixada ao Teixeira, até ao Blatter. Enquanto isso, recusava-se a negociar propostas de patrocínio. 'É melhor esperar.' Quando, enfim, a maior competição esportiva do planeta foi confirmada em Curitiba, o Atlético parou. Fechou com a Philco. Já não sabe mais o que fazer. Agora, acorda do sonho e encara a realidade.

O Furacão não pode assumir os investimentos e consequências referentes à reforma da Baixada, pelo menos não nas condições que exige a FIFA.

Primeiro motivo: um empréstimo de quase três vezes o faturamento anual renderiam doze anos de parcelas altíssimas. Essas mensalidades, inclusive, poderiam colocar todo o patrimônio do clube em risco - que seria dado em garantia. Segundo: durante os dois anos de reforma, onde jogaria o time rubro-negro? Como os sócios seriam ressarcidos? Terceiro: durante a Copa, não teremos nenhum direito sobre o estádio. Quarto: o Atlético não ganharia, depois de quatro ou cinco partidas figurativas, só uma casa novinha em folha; mas também um pesado elefante branco para carregar - mais que um elefante branco, seria um mastodonte vermelho e preto.

Haverá Copa no Brasil, mas antes, é claro, daremos um jeitinho brasileiro.

E essa?

Basta o sujeito marcar gol contra o Atlético, mesmo que seja reserva do Vitória da Bahia, e lá vai a cúpula rubro-negra buscá-lo como reforço. 'Nossos zagueiros são fantásticos! Se o cara subiu cercado de um melhor que o Gamarra, de outro melhor que o Baresi, e anotou de cabeça, com toda certeza trata-se de um excelente atacante!'

Segundo o diretor de futebol, Valmor Zimermann, já está tudo acertado. Só falta o clube baiano participar da conversa.

Aliás, ninguém sabe quem é o diretor de futebol. É Valmor ou Ocimar? Ou são os dois? Um cuida da parte ofensiva, o outro da defensiva? Ou é gincana: quem trouxer o melhor reforço ganha um beijo da Rosilete?

E essa?

O técnico campeão da Taça BH 2010 pelo Coritiba, Marquinhos Santos, é o mesmo Marquinhos Santos vice-campeão da Taça SP 2009 pelo Atlético.

Os resultados não mentem. O cidadão é bastante jovem e, ao que tudo indica, muito bom técnico. Quando trocou o Atlético pelo Coritiba, deixou bem claras suas razões. 'No rubro-negro, a política é revelar jogadores para vender; no alviverde, a intenção é que sejam aproveitados no time de cima.'

Na época, os mandatários atleticanos esbravejaram. Entenderam como provocação, alguns até como traição. Simplesmente permitiram que vestisse verde e branco.

Ninguém considerou a hipótese de que ele dizia a verdade, só a verdade.

Parece piada. E ainda esperam que o torcedor leve a sério.


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