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Daniel Machado
Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.
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Viva o superávit!
30/04/2010
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Se não ganhamos nada dentro de campo, celebremos o superávit. Viva! Não tenho palavras para descrever tamanha alegria. Que orgulho, o Atlético Paranaense é um time xucro que dá lucro!
Bebi com a Michele Toardik para comemorar.
Depois, analisei o impecável balanço 2009 apresentado pelo clube. Percorri o documento em busca de uma linguagem familiar, ou de um número que pudesse expressar tão bem a saúde financeira quanto o saldo da conta corrente. Afinal, o que importa é a bufunfa disponÃvel, o quanto podemos investir (em chuteiras, é claro). Pois é com dinheiro, muito dinheiro, que se faz futebol.
Mas só encontrei o ativo e o passivo circulante, o ativo e o passivo não circulante, o realizável, o exigÃvel e o intangÃvel, todos expressos em unidades de reais. Entendi bulhufas.
Enfim, obtivemos 10 milhões de lucro. O número um seguido de sete zeros. 10 milhões de reais a diferença positiva entre receitas e despesas. Fantástico! Quer dizer, então, que este ano poderemos gastar 10 milhões a mais do que o normal?
Aà chega um metido a contabilista, de certo compincha do Petraglia e/ou do Malucelli, a contestar tão brilhante indagação. 'PeraÃ, também não é bem assim. O superávit operacional de 10 milhões não significa, necessariamente, que o Atlético possua, hoje, 10 milhões ao seu dispor.'
Deixa ver se captei a mensagem. Quer dizer, então, que é possÃvel ter lucro e não ter dinheiro para contratações? 'Sim, é perfeitamente possÃvel.'
E ficou por isso mesmo... Devem ser os realizáveis, exigÃveis e intangÃveis de curto e longo prazo.
Convenhamos, não há de ser nada muito complexo. Lá em casa, por exemplo, as finanças iam bem. Até sobrava uma quirera para a caderneta de poupança. Eis que chega, porém, alguém que consome muito leite Nan. Três meses de prejuÃzo, nada de jantar fora, cartão de crédito na gaveta - só para garantir - e aos poucos o extrato bancário retomou a cor. Ao final do perÃodo de estiagem, o saldo era menor do que a economia praticada.
Simples assim. Em relação a um clube de futebol, a única diferença é o tamanho e a quantidade das contas. (Ah, tem outra: não possuo fãs apaixonados que me ajudam a tapar o furo - o Atlético arrecadou mais de 5 milhões dos seus associados.) Se em 2008 foram registrados 18 milhões em perdas, os ganhos de 10 milhões do ano passado serviriam apenas para amortizar a dÃvida.
Agora entendi. De fato, o balanço de 2009 forma o saldo disponÃvel, mas apenas em conjunto com os últimos balanços anuais. Ao final de um perÃodo maior - cinco anos, digamos - ao somarmos todos os resultados, finalmente chegaremos a um valor expressivo, que retrate o tamanho dos sonhos rubro-negros, a qualidade técnica do time profissional e as reais chances de tÃtulos.
Então vejamos. Apenas em 2008 o Atlético registrou prejuÃzo: R$ 25,5 mi (superávit) em 2005; R$ 15,5 mi (superávit) em 2006; R$ 1,5 mi (superávit) em 2007; R$ 18 mi (déficit) em 2008; e R$ 10,5 mi (superávit) em 2009.
Total: R$ 35 milhões (superávit).
Neste caso, como o Clube Atlético Paranaense é uma organização sem fins lucrativos, superávit financeiro é atestado de incompetência. Lucrar com o futebol para quê e para quem?
De 2005 para cá - perÃodo de R$ 35 milhões de superávit, repito - só montamos times medÃocres. (Até o vice-campeão da Libertadores de 2005 era medÃocre, só chegou à final graças ao De Vaca, do Libertad do Paraguai.)
Portanto, depois desta continha básica, em que somei os resultados operacionais de 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009, é perfeitamente razoável acreditar que o Atlético deveria possuir, em 2010, cerca de R$ 35 milhões de reais em caixa, mais que suficiente para montar um timaço.
Mas não possui. Ué? Sumiu o metido a contabilista, de certo compincha do Petraglia e/ou do Malucelli. E eu entendi bulhufas novamente. Onde foi que enfiaram R$ 35 milhões de reais?
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