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Juarez Villela Filho
Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.
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De volta aos 80
28/04/2010
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Pode-se correr uma maratona descalço? Poder pode, mas será que se consegue? Acho que uma prova de 400 metros já seria difícil, imagine fazer isso pouco mais de 100 vezes, como em uma maratona...
Podemos entrar no Brasileiro com isso aí, que teimamos em chamar de time? Poder, pode, é só inscrever no BID, mas completaremos a primeira volta? Difícil, muito difícil.
Nada contra nosso passado, já que somos hoje a soma de tudo aquilo que se passou. Nossa história não é gloriosa, vitoriosa, e por isso mesmo temos este espírito único que nos faz melhores que outras torcidas. Fomos forjados na luta, na dificuldade, no pouco recurso, na crise. O normal do Atlético sempre foi isso – dificuldade, mas desde que um empreendedor de força assumiu o clube com ideias visionárias, quebrando paradigmas e nos tornando do tamanho de nossos sonhos, as coisas mudaram. E deu certo (muito certo na verdade) enquanto tudo passou por aquilo que de mais básico tem um clube essencialmente de futebol, como o nosso: o futebol!
Parece óbvio, mas não é. Enquanto os esforços visavam necessariamente fazer grandes times, em contratar reforços e mesclar com apostas, tínhamos tanto um time forte e competitivo como o consequente (e importante) retorno financeiro com as negociações. Bastou colocarmos os negócios à frente do futebol para nos enfiarmos na mediocridade que nos cerca desde 2006.
A vinda de uma aposta do interior às vésperas do importante jogo na Copa no Brasil, contratação no estilo chegou ontem, treina hoje e joga amanhã, a insinuação de que de novo traremos jogadores que nem banco pegam nos “clubes grandes” do Brasil, gente que não joga há mais de ano e vem se recondicionar fisicamente por aqui, me fez retornar aos 80 quando não fazíamos grandes campanhas porque não tínhamos sequer condições de fazer algo melhor.
Lembro de ter ido buscar do “grande” Atlético Mineiro a dupla Vivinho e Éder Lopes, no aeroporto, e ter visto pela 1ª vez na vida das cadeiras superiores do Pinheirão, numa das raras vezes que levamos sozinhos mais de 10 mil pessoas, o empate diante da Platinense, na estreia dos dois craques. Começo de Brasileiro com vitórias e goleadas diante de Flamengo, Grêmio e São Paulo, comemorávamos como um título vencer esses times, ainda que somente eles disputassem a Taça e a gente caísse ou lutasse nos tais “torneios da morte” para ficar na primeirona.
Voltamos no tempo.
Temos uma direção pequenina que se contenta com pouco, que mantém uma base perdedora e depois aponta o dedo para os treinadores como se algum deles pudesse fazer algo diferente com tamanha falta de qualidade do elenco. Nos acostumamos com elencos médios e até mesmo chegamos a idolatrar gente que não jogaria em nenhum dos oito ou dez melhores times do Brasil, como Valencia e Marcio Azevedo . Nos contentamos com a disposição e garra de Chico e Rhodolfo e com uma boa em cada sete partidas bizarras de Alan Bahia. Esse é o padrão Atlético Paranaense de qualidade de 2006 pra cá.
Contratamos um único reforço durante todo o ano: Bruno Mineiro, que não à toa foi artilheiro do estadual. Apostamos, apostamos, flertamos com gente que nunca vimos na vida além de termos nos desfeito dos poucos jogadores do fraco elenco de 2009 que tinham alguma qualidade.
Vamos iniciar uma maratona como é o Campeonato Brasileiro mais uma vez descalços. Sabemos que ali por julho/agosto seremos obrigados a comprar um tênis bom, veremos os outros competidores abrindo larga e inalcançável vantagem e teremos poucos corredores atrás de nós, em sua maioria sequer com possibilidade de comprar um pisante decente.
O problema é que já fazemos isso há três anos e vai ter um momento em que vai faltar mesmo é fôlego. Aí só nos restará calçar o M2000, rebobinar a fita K-7 com caneta bic para economizar pilha, colocar um Midnight Oil nervoso no walkman e caminhar por aí como quem não quer nada, sem rumo, à toa. Estaremos andando não rumo ao futuro que nos parecia ser tão grato, mas rumo aos anos 80, quando simplesmente sobreviver já era uma alegria.
ARREMATE
“La vie est courte et la mort a tout le temps” . 365 Jours – OXMO PUCCINO
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