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Rogério Andrade
Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.
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Domingo daqueles chatos, com previsão de chuva, sono e preguiça. Ficar em casa, assistindo o jogo do Atlético na telinha e engolindo comentários de desrespeito ao meu time, seria ainda pior. Domingo na Baixada, previsão de time reserva, prenúncio de um jogo fraco, sonolento. Fui à Baixada assistir o “jogo de compadres” (ou seria o jogo dos irmãos?).
Na mosca. Jogo fraco, tempo ruim, com previsão de chuva. Em campo, Bruno Costa, Fransérgio, Deivid, Jean, Marcelo. Pra completar, Raul. Que tristeza! Um domingo daqueles, preguiçosos, sonolentos e deprimentes. Não fosse o bom humor das minhas excelentes companhias, seria um desastre. Então, resolvemos rir. Rir de tudo, pra não chorar. Rir desses caras aí citados, rir principalmente do Raul, uma piada. Rir, mas a grande vontade era de chorar. O juíz apitou o início do jogo, mas já sabíamos exatamente qual seria o fim.
Domingo preguiçoso, jogo chato, time reserva. Olhava ao redor, procurando outros rostos, outras reações. A maioria rindo. Rindo, quando deveriam estar com uma enorme vontade de chorar. Uma pena o nosso Atlético chegar onde chegou. Abri meu último sorriso quando olhei para o lado e observei um senhor de bastante idade com os olhos presos ao jogo dentro de campo. Ele estava focado, chocado, como se estivesse impressionado. Com uma sacola na mão, guardando uma jaqueta, estava lá este humilde senhor, com uma boina cobrindo as orelhas e camisa do Atlético por cima da blusa de lã. Sozinho, sem a companhia de absolutamente ninguém, a voz fraca clamava, desesperada, por futebol. “Este time precisa de futebol” - gritava o bom velhinho.
Com sua voz tímida, quase inexistente, talvez apenas eu tenha lhe dado ouvidos. Eu e, tomara, os Deuses da bola. A cada passe errado, a cada lateral ou cada falta batida, o meu vizinho de domingo arregalava os olhos. Olhos de desespero, olhos de dor. Quando Marcelo chutou a bola para fora debaixo da trave, evitei de olhar para o bom velhinho. Olhei apenas minutos depois, e ele não estava mais reclamando, gritando, cobrando. Ele estava triste, apenas triste. Agarrado a sua sacola, a qual apertava com todas as suas forças, o bom senhor de idade continuava só. Sem gol, sem companhia, sem futebol. Tivesse eu um coração um pouco mais duro, iria ao encontro deste bom velhinho, saber o que se passava naquela cabeça de torcedor.
Triste, também fui embora. Já não tão bem humorado, como continuavam as minhas companhias, mas com o coração um pouco mais apertado que o normal. Uma mistura de angústia, raiva e indignação. Tivera eu alguma possibilidade de mudar a história, desceria correndo aos escritórios do clube e demitiria, de uma só vez, Ocimar Bolicenho, Leandro Niehues e toda a comissão técnica. Não sobraria ninguém, nem pra se justificar, nem pra contar história. Não iriam nem saber que lá, em alguma cadeira da Baixada, estava um senhor, dedicando o seu domingo a um time sem um mínimo de qualidade. Um senhor que provavelmente foi assistir Paulo Baier e Bruno Mineiro, mas teve que engolir, no seco, Pepe Toledo, Raul e Marcelo. Que dó...
Que dó dessa torcida sofrida, enganada e quase sem esperanças. Que dó do meu coração, que lamenta e que busca, desesperadamente, as soluções. Que dó do meu domingo, que assim como o domingo de tanta gente, foi preguiçoso, sonolento e sem futebol. Que dó do bom e inesquecível velhinho, um torcedor que ficará comigo, em todas as recordações da boa e velha Baixada.
Aos nossos presidentes e responsáveis pelo Clube Atlético Paranaense, olhem com mais respeito ao torcedor. Considerem e valorizem muito mais o grande patrimônio do clube, cada sócio que, com sacrifício ou não, paga em dia a sua mensalidade e honra com a sua obrigação. Comecem agora e não esperem outros domingos de chuva, preguiçosos e tristes.
Comecem nesse instante. Reformulem o nosso departamento de futebol. Seria um bom primeiro passo como prova de respeito ao torcedor, que de burro e palhaço, não tem nada.
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