Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Antônio Lopes vs. Leandro Niehues

02/04/2010


Que tal o uniforme do Sampaio Corrêa: vermelho, verde e amarelo? Talvez uma homenagem ao reggae de São Luiz, ou à próspera e democrata Bolívia. Para completar, sobre a vistosa vestimenta dos suplentes, nada melhor que um jaleco azul-calcinha de justo caimento. Fora isso, veio ontem à Arena da Baixada uma equipe esforçada, que perdeu dignamente. Levou um baile e não deu um único pontapé.

Apesar da boa apresentação e das setenta e duas oportunidades perdidas, incluindo algumas defesas milagrosas do goleiro do time colorido, o Atlético ainda está longe de nos empolgar, de nos fazer almejar grandes alegrias.

De qualquer forma, já é um alívio perceber que resgatamos nossa vocação: pressão ofensiva, torcida ostensiva.

Seja com três meias (Baier, Netinho e Tartá) e um atacante (Bruno), como na última partida da primeira fase do paroquial, contra o Paranavaí - esta uma boa opção para jogar fora de casa no Brasileirão; seja com dois meias (Baier e Netinho) e dois atacantes (Bruno e Pepe), como nas últimas três apresentações; melhorou o conjunto e melhoraram os atletas, individualmente. Até o Chico melhorou. Até o Raul. Até o Rhodolfo, que agora faz quase um gol por jogo.

O legado de Lopes foi a disciplina e o trabalho árduo. Méritos todos dele por desarmar a panela do Rafael Moura, por calçar os pés da boleirada com as sandálias da humildade. Por outro lado, o estratégico, graças à sua insistência em consertar primeiro a zaga - segundo ele, um time se arruma de trás para frente - esqueceu-se dos gols, que no futebol se empata graças à defesa, mas que não se ganha sem o ataque.

Aí veio o malandro Leandro. Malandro no bom sentido: usou o arranjo defensivo de Lopes, que já estava pronto, e deu liberdade aos laterais e ao mestre Paulo Baier. Mais que liberdade para jogar, deu ao Baier condições de receber a bola em liberdade. Ao Netinho, designou uma importante função tática, porém sem a responsabilidade que dele se exigia, e que ele não conseguia suportar. Afinal, quem disse que os dois não poderiam jogar juntos?

Foi só isso que o Leandro fez. Parece óbvio, mas não é.

Eu já desconfiava, por exemplo, que o Ricky Martin era gay, muito gay. E eu dizia para a mulherada: 'Percam suas esperanças!' E elas teimavam que não. Agora, depois que o ex-Menudo assumiu-se publicamente, parece óbvio. Nenhum homem que rebola daquele jeito gosta de mulher. Nenhum time que joga com três zagueiros, dois laterais que não passam do meio campo, dois volantes e um meia bem marcado poderia sonhar com títulos de expressão.

O trabalho dos técnicos de futebol tem prazo de validade porque todos têm virtudes e defeitos. Atuam todos feito um cobertor curto: puxa para a cabeça e descobre os pés; puxa pelos pés e descobre a cabeça. Chega um, resolve os problemas criados pelo anterior e, aos poucos, começa a criar os seus próprios problemas.

Geninho não conseguia controlar os ânimos do grupo, Lopes conseguia. Lopes não fazia o time jogar para frente, Leandro faz. E assim gira o mundinho sujo do futebol.

Pois se Lopes garantia o controle emocional, especialmente essencial após a demissão de Geninho, temo que o mesmo não possa ser dito de Leandro. Ontem, Pepe e Netinho saíram de campo esbravejando, descontentes pelas substituições, em claro sinal de desrespeito com o companheiro que entrava, com o treinador e com a torcida atleticana.

Preocupei-me.

Que o Lopes aprenda com a juventude de Leandro, que seja mais rebelde e ousado. Que volte, um dia, quem sabe, para ser o nosso diretor de futebol. Enquanto isso, que o Leandro aprenda com a experiência de Lopes, que se faça respeitar, que seja mais disciplinador e agregador.


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