Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Eu acreditava

12/03/2010


Pois se há alguma verdade no futebol, ela proferiu-se assim: 'técnico que mexe bem é porque escala mal.'

Ora, se um técnico escala bem, então não precisa mexer. Ou, na pior das hipóteses, se um peão estiver cansado, basta trocar seis por meia dúzia. Só que o bom e velho Antônio Lopes conseguiu uma façanha: no Atletiba, escalou mal e mexeu mal.

Dois zagueiros, três volantes, dois laterais levando um baile de bola nas costas, o Netinho (o Netinho! só ele!) com a responsabilidade de criação, e dois pobres atacantes abandonados à própria sorte: uma atitude mucufa, dentro de casa, de um Atlético com a obrigação da vitória. Quando vi o Baier prestes a entrar, comemorei: 'Eba, ele vai tirar o Chico,' mas não, ele não tirou. Aliás, dizem até que o Chico foi o melhor em campo pelo lado rubro-negro. Eis a prova do desastre.

Mais do que uma verdade, esta é praticamente lei universal: 'em time que está ganhando não se mexe.'

Vale ressaltar: digo ganhando no sentido pleno da palavra, não simplesmente à frente no placar. Durante o campeonato paroquial, não estávamos ganhando e o Delegado não mexia. Preferia insistir em erros recorrentes; em atletas bagaço, dos quais já esprememos todo o suco que havia.

Enfim, por tudo isso, fiquei surpreso com a reação da torcida, em sua maioria contrária à demissão de Lopes. Para o meu círculo mais próximo de amizades, comentei que o teria mandado procurar seus patos logo no intervalo. Mas, é claro, eu não diria uma coisa dessas aqui.

Se ele não tinha nas mãos um plantel qualificado, este é outro problema. Ou o Felipão, por acaso, tinha um timaço quando dirigiu o Criciúma? Covardia na montagem do onze não tem nada a ver com elenco. Que colocasse um bando de pernas-de-pau, porém que sabe o que quer, que joga com raça, para cima do adversário. Quem sabe o resultado fosse até pior, mas poderíamos sair de campo com a cabeça erguida, orgulhosos do tradicional espírito atleticano. E o mais importante, para ele, Lopes: a bomba não explodiria no seu colo, mas no colo de quem realmente merece.

Assim, não se trata de culpar um para amenizar a responsabilidade do outro. Definitivamente, a diretoria é tão solidária em relação ao péssimo futebol apresentado quanto o ex-treinador, senão mais.

É uma pena. Daqui a algumas vitórias de Leandro Niehues, voltarei para dizer: 'Agora vai!' Pois o futebol é cíclico, e acreditar é só o que me resta.

A teimosia de Lopes me desmentiu. Eu acreditava.

Os dirigentes do meu Atlético me desmentiram. Eu acreditava.


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