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Daniel Machado
Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.
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Mais que uma disputa. Um debate... ou melhor, um entrave... ou melhor, um combate. Isso, um combate. Um duelo.
De um lado, vestindo o cocar de pajé, sacerdote da grande revolução de 1995, pesando o cego fanatismo de seus correligionários, o imortal, acima do bem e do mal... Mário Celso Petraglia. Do outro, ostentando o penacho de cacique, inquisitor da pátria atleticana, pesando um punhado de promessas desvirtuadas, o incompreendido, pobre desiludido... Marcos Malucelli.
Começa a luta. MCP desfere duras crÃticas à abertura do CT do Caju à imprensa. MM responde com um direto, depois um cruzado, e afasta MCP da direção do Atlético. MCP vai à lona. Levanta-se, prepara o contragolpe, acusa MM de pérfido, monta um sÃtio na Internet. MM, por sua vez, tenta cumprir o discurso de investimento em chuteiras, faz pÃfia campanha no Campeonato Brasileiro, baixa a guarda. MCP ataca com a insanidade da Arena Atletiba. MM é tomado pela fúria, baixa o nÃvel em rede aberta - dois jabes e acusações gravÃssimas contra MCP.
Da plateia, um milhão e meio de espectadores estupefatos assistem à briga. Os petraglistas gritam: 'Traidores!' E os malucellistas: 'Ladrões!'
Sem o mÃnimo de finesse, todos falam em nome do Clube Atlético Paranaense.
No fim das contas, cada soco é só mais um tijolo na parede.
Como já dizia um tal de Roger Waters, 'all in all, it's just another brick in the wall.'
Mudando de saco para mala
O álbum duplo 'The Wall', do Pink Floyd, é um dos mais aclamados clássicos do rock. Através das faixas experimentais - ora melancólicas, ora agressivas, recheadas de efeitos sonoros - conta a história do erguimento sutil de um muro na consciência do anti-herói Pink.
Após a morte repentina do pai, Pink é sufocado pela mãe protetora. Sofre a tirania dos professores na escola. Mais tarde, a esposa o abandona por infidelidade. Envolve-se com drogas, já não há mais como controlar as alucinações e os Ãmpetos de violência.
No fim das contas, cada um dos problemas de Pink era só mais um tijolo na parede.
É quase uma autobiografia de Waters, um relato de superação: durante uma introspecção de autoconhecimento, atormentado pela culpa por ter cuspido na cara de um fã, ele reúne forças, derruba o muro e torna-se uma grande estrela da música.
Voltando da mala para o saco
Enfim, há um muro entre os torcedores rubro-negros. De que lado você está?
Eu, de nenhum. E tampouco estou em cima do muro.
Reconheço os méritos do pessoal do lado A: o engrandecimento do clube e o resgate do orgulho de ser atleticano; bem como os do pessoal do lado B: a transparência e a austeridade financeira. Mas também não sou déspota e intolerante; nem pessimista e acomodado.
Deixemos que se entendam; ou que não se entendam, não fará diferença. Deixemos o ringue, vamos às arquibancadas da Arena.
Voto em repúdio a quem sobrepõe dissidências polÃticas ao próprio clube.
Voto pela valorização das nossas tradições: 'O Atlético nos une. A união nos fortalece.'
Voto pela queda do muro.
Nota
No Brasil, mais especificamente em Curitiba, a canção 'Another Brick in the Wall: Part 2', do disco 'The Wall', é mais famosa por uma versão de letras explÃcitas, que começa assim: 'Atirei o pau nos coxas...'
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