Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

Caminhos

05/02/2010


Olha adiante e escolhe um rumo; ou simplesmente escolhe um rumo, sem olhar adiante. Não conhece o destino, não tem consciência da encruzilhada. Todo mundo, mais cedo ou mais tarde, toma alguma decisão importante. Chega uma hora que o mundo separa os homens das crianças.

Alguns não têm opções, outros só veem uma única opção. Mesmo assim, são inúmeras as alternativas; cada uma delas potencialmente capaz de mudar o futuro.

São os caminhos que percorremos, cada um tem os seus. O Atlético tem os seus, e leva consigo mais de um milhão de seguidores. Escolhemos juntos a causa do patrimônio e da modernização, através de um projeto cujo objetivo central seria, primeiramente, trazer a Copa do Mundo à Arena e, depois, transformar o rubro-negro paranaense em um potência futebolística mundial: o novo Machester das araucárias.

Mas nada é de graça nesta vida. Devemos arcar com os percalços do caminho. Fugir das consequências significa voltar à estaca anterior.

Chegou a conta. Nesta semana, tornou-se público o termo de compromisso assinado por Marcos Malucelli; pelo Ministro do Esporte, Orlando Silva; pelo Governador do Paraná, Roberto Requião; e pelo Prefeito de Curitiba, Beto Richa. O Atlético deve desembolsar nada menos que R$ 113 milhões.

Isso me lembra o caso do apagão aéreo. Um sujeito entrou com uma ação indenizatória contra a Anac, a Infraero e a Gol, por ser impedido de viajar. A responsabilidade dos órgãos públicos foi retirada, consideraram a companhia aérea a única culpada.

O governo é assim mesmo: fanfarrão, faz marketing, conferência internacional, o presidente chora porque o Rio será sede das Olimpíadas. Mas na hora do vamovê, pipoca: veste a carapuça da ineficiência e simplemente empurra a responsabilidade para a iniciativa privada.

Diacho, aposto que o avião da Gol estava prontinho para decolar. Aposto que os idealizadores do projeto atleticano pensavam que o preço não seria tão alto. Acho que contavam com uma ajudinha maior.

Se o Lula, o Requião ou o Richa não cumpirem o prometido, não tem problema. Mas o Atlético... ai do Atlético se não honrar aquela assinatura.

E agora? Onde foi que nos metemos? Como pagaremos o financiamento desta montanha de dinheiro? De um dia para o outro, acumulamos uma dívida maior que a do Coritiba. Será que as receitas provenientes da exposição da marca Atlético, durante a Copa, superarão este valor? Será que vale a pena? Espero que sim. Com a palavra, o novo diretor Paulo Verardi.

Enfim, foi o caminho que escolhemos, não podemos reclamar.

Mais caminhos

O zagueiro Ronaldo, reserva do time júnior, vice-campeão da Copa São Paulo do ano passado, pediu mais que o Manoel para renovar. Então, acertadamente, a diretoria mandou o guri passear. E ele foi. Assinou contrato para jogar no time B do Internacional. Mal começou a carreira e já está andando para trás.

Dagoberto optou por um caminho arriscado. E infeliz. Hoje, só alguns poucos anos depois, já não é mais um jovem promissor, seguramente nenhum clube europeu investirá uma grana maior do que a oferecida pelo Hamburgo, quando ainda jogava por aqui. Nunca vestiu a camisa da seleção depois que chegou ao São Paulo. Foi expulso logo na primeira partida do ano. Medíocre, principalmente para quem já foi comparado ao Robinho.

Quando a boleirada vai aprender a escolher seus próprios caminhos? Quando vão perceber que é preciso saber andar com as próprias pernas? Quando irão, por fim, desconfiar de seus empresários, lobos fantasiados de cordeiros? Armam um conluio em torno da fortuna a curto prazo, e se esquecem da identificação e valorização oferecida pelas agremiações. A longo prazo, vale muito mais a solidez de um trabalho bem feito, a admiração de uma torcida, a satisfação de famílias felizes e unidas, já habituadas a uma cidade e a um lugar que possam chamar de casa. Perguntem ao chato do Rogério Ceni; ou ao Marcos, do Palmeiras. Perguntem se estão arrependidos os dois últimos estandartes da fidelidade clubística. Quanto vale a imagem de um atleta, até depois de aposentado, enquanto vinculada a um grande time?


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