Dary Júnior

Dary Pereira de Souza Júnior, 53 anos, é pantaneiro de Corumbá, está no jornalismo desde 1987 e canta na banda Terminal Guadalupe. Era flamenguista, mas virou a casaca de tanto ir à Arena da Baixada – e sempre paga ingresso. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2005.

 

 

Imagem não é nada, futebol é tudo

22/06/2004


"O desespero vão decretou a derrota do Atlético".

Confira comigo no replay: o time perdia por 2 a 1, era o último minuto de jogo. Escanteio para o Atlético. Surpreso, vejo dois jogadores atleticanos estacionados no meio de campo para marcar o atacante adversário Edílson enquanto o goleiro Diego corre para a área inimiga, onde tenta, sem sucesso, o cabeceio. “Lá vem mais uma jogada de marketing”, pensei. Resultado: contra-ataque, terceiro gol do Vitória. A paixão - que embriaga e aniquila o freio - pode induzir que houve nobreza heróica no gesto de Diego. Nada disso. O lance é típico da nossa era, quando projetar a imagem vale mais do que o propósito.

Em primeiro lugar, o jogo não era decisivo. Não valia classificação para a final do Brasileirão (até porque isso acabou), não valia vaga na Taça Libertadores da América, não valia a fuga do rebaixamento. Fosse assim, todos, mas TODOS os jogadores mesmo, teriam a obrigação de ir para a área do Vitória tentar o gol de empate. Ter espírito de vencedor é fundamental para quem quer ser campeão, eu concordo. Pena que o desespero vão também seja inimigo do bom senso. Venha cá, quem você iria preferir lá, naquele escanteio: um jogador de linha, que treina cabeceio e rebote, ou um goleiro? Diego, “baixe” a bola.

Dizem que o goleiro atleticano tem treinado cobranças de falta. Olha, eu prefiro que ele se aprimore nas saídas de gol. Dizem que Diego treina cobranças de pênalti. Olha, eu prefiro que ele se aperfeiçoe na reposição de bola. Dizem que ele é um jogador diferenciado por falar direitinho e não ostentar riqueza. Olha, eu prefiro que ele faça a diferença dentro de campo e ostente a fama que o trouxe para o Atlético. Dizem que ele é bonito e arranca suspiros das torcedoras. Olha, eu prefiro que ele jogue uma beleza de futebol e faça com que todos os torcedores suspirem. Imagem não é nada, Diego. Resultado é tudo.

É perfeitamente compreensível – e legítimo – que um jogador de futebol zele pela sua imagem. Vivemos a época da cultura de massas, das celebridades instantâneas, dos cinco minutos de fama, como redefiniu o jornalista Xico Sá. No entanto, aprendi a gostar de futebol num tempo em que assessoria de imprensa, gerenciamento de carreiras e marketing pessoal passavam longe dos boleiros de então. Hoje, infelizmente, qualquer cabeça-de-bagre é chamado de craque e pode até jogar na seleção se souber manipular ou afagar a mídia. Diego é um bom goleiro, mas precisa se voltar para os fundamentos em vez de “jogar para a torcida”, no pior sentido que a expressão sugere.

Em tempo: Ilan perdeu a chance de ficar quieto. Recentemente, reclamou da reserva, ameaçou ir embora, enfim, alegou até saudade do ex-técnico Mário Sérgio. O jogo com o Vitória era a oportunidade para demonstrar que ainda é importante para o Atlético. O atacante não só desperdiçou três chances reais de gol, como conseguiu unir a torcida contra si. Ciclo encerrado? Pode ser. Se fosse ele, admitiria a má fase, treinaria mais e teria humildade para ficar no banco – lugar que, no momento, sejamos francos, Ilan também não merece. Admiro o jogador, mas paciência tem limite. E eu, quem diria, xingava o Kléber...


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