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Jean Claude Lima
Jean Claude Lima, 57 anos, é publicitário e jornalista, sócio-proprietário da W3OL Comunicação Ltda. Compreende o fato de ser atleticano como uma complementação da sua própria existência e professa essa fé por todos os lugares do mundo onde já esteve ou estará. É pai de uma menininha, Mariana, que antes mesmo de nascer, já esteve no gramado da Arena, e agora de um menino, Rodolfo, batizado com uma camisa onde se lia "nasci atleticano".
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O nascimento de um atleticano
30/01/2010
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Era um domingo como tantos outros que já haviam passado em famÃlia. A esposa estava na cozinha, preparando a janta e ele, de olho na televisão, enquanto o filho de cinco anos brincava com um caminhão, daqueles que os pequenos adoram.
Sem que ele esperasse nenhum acontecimento especial, o menino levanta os olhos na direção dele, encara-o como nunca o fizera antes e diz:
- Pai, eu quero ser atleticano!
No segundo seguinte ele pensou ter delirado. Jamais imaginou ouvir aquele tipo de frase do próprio filho, sangue do sangue dele, neto de tradicionais famÃlias coxas, tanto do lado dele como da esposa. O tempo pareceu congelar. Um turbilhão de sentimentos invadiu o coração dele. Como assim ser atleticano, pensou em perguntar ao filho. Não o fez. Temeu algum tipo de explicação demolidora, irrefutável, que viesse de uma criança de cinco anos. Cinco anos e com aquela petulância! Lembrou de todas as vezes que esteve no Couto, dos pisca-piscas, das confusões e do momento em que esteve prestes a invadir o campo para tentar bater em alguém. Naquele dia, se recorda ter lembrado do filho e de ter contido a ira. Mudou de estratégia e resolver se certificar do que tinha ouvido.
- O que você falou filho?
- Eu quero ser atleticano. Compra uma camisa para mim?
Congelou. A situação era mais grave do que ele estava imaginando. Camisa? Nunca! Ele queria uma camisa! Pensou nas festas de famÃlia, com os cunhados pisoteando a sua dignidade, pois ele tinha um filho atleticano. Maldito Porky´s! Por que foi arranjar aquelas encrencas? Mas era seu filho quem estava lhe pedindo aquilo. E falou sozinho, para que apenas as paredes escutassem:
- Deve ser influência da escola, pensou mais uma vez... Amanhã mesmo troco essa piá de colégio!
Deu um grito desesperado para que a esposa viesse até a sala, pois aquela crise era grave demais para ser gerenciada apenas por ele. O time era lÃder do paranaense e jogando na Vila Capanema. E o filho ali, querendo ser atleticano? Quem sabe a mãe conseguisse desviar a atenção da criança para outra coisa. O menino ali calmo, soberano e tranqüilo no meio da sala, já como se estivesse na Baixada, entrando em campo junto com o time. Explicou para a esposa o que estava acontecendo e ela confessou:
- Já faz algum tempo que vem acontecendo. Fiquei com medo de te dizer.
Como assim já faz tempo que está acontecendo? Pensou em gritar. Seria ele então o último a saber da heresia? Ele pergunta:
- O que vamos fazer?
- É nosso filho... E você sabe como ele é quando quer uma coisa.
- Mas não essa coisa!
- Você sempre quis que ele tivesse uma personalidade forte, que escolhesse sozinho os brinquedos, os canais de tv, as roupinhas... tá aÃ, ele quis escolher o time também.
- Mas isso não é assim!
- Mas foi... Isso porque você não escutou seu filho cantando o hino deles!
- O quê?
- Ele canta o hino... Aprendeu com os amiguinhos da escola.
Socorro! Pensou em ligar para o seu próprio pai. Mas o que diria para ele? Cantando o hino? Pensou onde teria errado na educação futebolÃstica da criança, já que tinha levado o filho a vários jogos no Couto. Cantar o hino do Atlético? Estava suando frio. Decidiu lutar pelo filho. Sabedor dos traços da personalidade da criança sabia estar entrando em uma batalha, longa, muito longa e que talvez durasse a vida toda. Talvez já estivesse perdida.
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