Daniel Machado

Daniel Lopes Machado, 46 anos, é empresário e consultor em sistemas de informação. Considera os versos da sexta estrofe do hino atleticano, escritos por um ex-jogador, imortalizado em uma espontânea demonstração de amor ao clube, a mais bela poesia de todos os tempos: "A tradição, vigor sem jaça... Nos legou o sangue forte... Rubro-negro é quem tem raça... E não teme a própria morte!" Foi colunista da Furacao.com entre 2008 e 2010.

 

 

É a cara do dono

29/01/2010


Dizem que todo cachorro é a cara do dono. Bonito ou feio, ativo ou jaguara, com pedigree ou viralatas. O meu, por exemplo, é barbudo, preguiçoso, teimoso e antissocial. É mais chato que o Marley. Traíra, mija na cozinha e depois se faz de desentendido. De rabo baixo, olha torto para a Lelê, como se eu não soubesse que ela usa fraldas.

Dia desses, ficou muito doente. Intoxicação, quase foi ao bebeléu. Chorei antecipadamente a morte do infeliz, nem sei ao certo porquê. Sorte (ou azar, não sei) que vaso ruim não quebra. Já está ótimo: sujou o chão de novo, desta vez o da lavanderia.

Seria o Atlético um guapeca sem dono? Ou uma raça em crise de identidade? Ou, ainda, simplesmente se comportaria, dentro de campo, como o faz a atual diretoria, fora dele?

Também já ouvi por aí que um exército tem o espírito de seus comandantes. Um time de futebol é reflexo direto de seus cartolas. De alguma forma, parece que a falta de ambição e força de vontade flui dos escritórios aos campos do CT do Caju.

Vale para os uniformizados e engravatados. Pois o Atlético é assim mesmo: bem intencionado, ao que tudo indica; porém atabalhoado, pessimista e, digamos, desprovido de recursos técnicos.

Vejamos: dois laterais da direita convocados para a última partida, mas nenhum deles pisa no gramado. O Raul é ruim, ou está mal, não vem ao caso. O outro, Gerônimo, é chamado às pressas da Geórgia para esquentar o banco. Enquanto isso, sacrificam o melhor zagueiro do Brasil para jogar por ali.

Um esquema revolucionário, praticamente uma ameaça às laranjas mecânicas: 3-1-3-1-2. Ou melhor, 3 (zagueiros cambaleantes para a direita) - 1 (Márcio Azevedo isolado) - 3 (volantes amontoados) - 1 (Netinho isolado) - 2 (atacantes à espera dos chutões de Rhodolfo e Chico).

Enfim, uma baderna. Um time malcriado, consequência imediata dos donos; ou, quem sabe, da falta de um. Já está pior que o meu cusco: não me dá um único motivo para gostar dele, mas eu gosto.


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