Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Cuidado

14/01/2010


"Tivemos realmente uma oferta pelo Márcio, mas recusamos. Vender por pouca coisa e enfraquecer o time não vale a pena".

Eis um pequeno trecho sobre o pronunciamento do presidente Marcos Malucelli, nesta semana, sobre uma possível transferência do lateral Márcio Azevedo para o futebol italiano. Na verdade, o trecho que mais me chamou a atenção, e que a princípio até considerei interessante. Se a oferta da Roma da Itália foi recusada pelo Atlético, é porque foi uma merreca. Pouca grana, nada que compense o risco. Ótimo. Até aí, ótimo.

Mas aí a gente pára pra refletir um pouco, deixando de lado o calor do nosso abafado verão e o calor da ansiedade de que apareça, pelo menos, uma contratação a altura, digna do nosso clube. E então a gente chega a algumas conclusões preocupantes, outras assustadoras. Pensei, cá com meus botões, e compartilhei o pensamento com os demais colegas aqui da Furacao.com. “Se vale para o Márcio, vale também para o Marcinho”. Hoje acrescento: “se vale para o Márcio, vale para o Marcinho e para todos os outros jogadores”.

Aí vem o medo. Caso encoste um caminhão de dinheiro por dia na porta do clube, estamos fritos. Se for caminhão aventureiro, de porte pequeno, tudo bem. Mas se for carreta, caminhão de carroceria considerável, aí o bicho pega. Em outras palavras, os olhos brilham, e aí meu amigo, não há coração que bata por amor ao Atlético Paranaense. O cara vai mesmo, sem dó nem piedade. E é justamente aí que mora o perigo.

Dinheiro na mão, bolsos cheios e falta de critério para uso da grana. Pensamento bacana: se temos dinheiro, podemos contratar, e contratar bem. Utopia quando se trata da direção do nosso clube, pelo menos até que nos provem o contrário. Até agora, nada de bom. Para não ser tão cruel, vamos dar um voto de confiança ao Bruno Mineiro, ou melhor, vamos dar um voto de confiança à diretoria por ter trazido o atacante.

E hoje, com surpresa, susto e indignação, recebo a informação da saída de Marcinho, emprestado aos ares sauditas. Malucos, torram dinheiro e nos levam um cara que não poderia ter nos deixado justamente agora. Sacanas, seduziram nossa alta cúpula com o tal caminhão de dinheiro. Como consolo, o clube renova o contrato de Marcinho até o final de 2012. Ótimo. Excelente. Marcinho é nosso, mas nosso time este ano, pelo jeito vai penar mais uma vez.

Uma coisa é certa. Reforços, ao meu humilde entendimento, são peças somadas ao elenco, que se não é tão forte, é o que vem atuando em busca de melhorias, trabalhando e sabendo que ainda há muito que render. Reforços são pesos embutidos que chegam para somar dentro do plantel. Não se pode mexer na base, ou não se pode mexer tanto na base. Quando isso acontece, os reforços deixam de ser reforços e passam a ser reposições, e infelizmente as reposições no Atlético não são feitas a altura, talvez até por falta de competência da direção de futebol. Fizemos isso nos últimos anos, e com a carruagem andando, sofrendo e correndo atrás de simples pontinhos, o resultado fica completamente comprometido. Tenho plena convicção: não fosse Paulo Baier, o Atlético não se salvaria em 2009.

Tudo bem, não conseguimos manter Wesley e Nei. Dois jogadores que, se não foram essenciais no ano passado, faziam parte da equipe que “vinha atuando” e talvez fizessem parte dos planos para 2010. Nada de positivo nas duas negociações. Perdemos os dois, respectivamente. Temos apenas um lateral esquerda de ofício, o mesmo citado no início desta coluna, e que provavelmente também seja seduzido por um tonel de euros.

Enfim, estamos fazendo o que não poderíamos: mexer na base do time. Estávamos no limite, limite pelo menos daqueles que não poderiam ter saído dos planos para este ano. Não gostei da saída de Marcinho e estou temendo em ter que ver novamente o nosso Atlético ir se acertando aos trancos e barrancos outra vez. Sentimento ruim, pois essa temeridade está virando a nossa velha companheira de guerra.

A direção do clube precisa tomar alguns cuidados. Estamos vivendo uma fase difícil, em que bons nomes para compor o elenco são raros de se encontrar disponíveis no mercado do futebol. Temos consciência desta dificuldade, mas não podemos estar abertos a tudo e a todos, expondo nosso elenco a quem quiser e “quem puder”. Se pensarmos assim, com o objetivo puramente financeiro, perderemos boa parte do elenco, perderemos qualidade, teremos reposições suspeitas e, por fim, perderemos o rumo. Sinceramente, até agora eu não vi nada de positivo no tal bom relacionamento da nossa diretoria de futebol e nada que nos dê ânimo e que nos faça acreditar, definitivamente, que este ano vai ser diferente.

Mais do que nunca, é preciso ter cuidado.

Aos meus leitores e a toda torcida atleticana, um feliz 2010!


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